06- Vai

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Como Daniela havia mencionado sobre sua questão financeira, então deduzi que seria mais um mês sem vê-la, mas isso sem saber se ela iria me procurar no final desse período. Vivi minha vida com o máximo de normalidade, encontrando meus clientes dentro da programação de sempre, tanto os novos, quanto os recorrentes, inclusive aquele que havia dado bolo.

No meio desse tempo, confesso que comecei a fazer algumas pesquisas diferentes, como por exemplo sobre filmes lésbicos, o que me fez me dar conta sobre a importância da representatividade nesses seguimentos. Assisti alguns enquanto minha mente parecia que ia explodir.

Me lembro que já fui questionada algumas vezes sobre a minha sexualidade, mas eu sou o tipo de pessoa que não gosto de rótulos, então sempre fugi desse tipo de resposta o máximo que podia, porque pra mim nós devemos fazer o que temos vontade de fazer e é sobre isso, ou seja, realmente nunca havia transado com uma mulher, mas isso por falta de vontade, não por uma rejeição à ideia.

Falando assim pode parecer que nunca tenha nem beijado uma mulher e não é por aí, eu já havia feito isso sim, mas normalmente em festas, ou em sexo a três, e quando menciono essa experiência, reafirmo que nunca havia transado diretamente com uma mulher, até porque, nesses casos, meu objetivo era outro, assim como o das pessoas que participaram junto comigo.

Talvez seja complexo de compreender, mas é que é extremamente diferente você participar de um sexo a três e transar diretamente com uma única pessoa, principalmente quando essa mulher sabe o que ta fazendo, diferente dessas outras experiências que tive, onde o fetiche era o principal objetivo.

Com isso, comecei a enxergar as coisas por outra perspectiva e fiquei preocupada se estava realmente fazendo o meu trabalho como deveria, até porque Daniela não era muito de falar a respeito, mesmo que tenha me dito, na primeira vez, que tudo havia sido perfeito, ainda assim fiquei em dúvida se não deveria estar fazendo algo diferente durante nossos encontros.

Eu tinha uma mulher como cliente, por isso não sabia como deveria me comportar, mas aí é que ta, porque esse pensamento me fazia sair da ideia de que devemos fazer o que nos dá vontade e ela era quem estava pagando, então, se quisesse algo de diferente, isso seria algo que deveria partir dela... não?

O ruim é que não era comum receber propostas de mulheres e, quando surgiam, sempre eram pessoas que não me despertavam interesse, por isso ficava ainda mais difícil conseguir uma segunda opinião a respeito, mesmo que essa viesse justamente de uma experiência diferente. Como poderia ter mais conhecimento sem praticar? Será que os filmes seriam suficientes pra me dar mais embasamento?

Pode parecer estranha a ideia de uma puta que escolhe seus clientes, mas, como disse, a minha procura é grande, provavelmente por causa da minha idade e da minha aparência, porque seria hipócrita dizer que essas coisas não fazem diferença nesse tipo de ramo, pois fazem, e verdade seja dita, eu tinha como escolher.

Percebi que comecei a olhar mais ao redor em todos os lugares, inclusive na faculdade, é era o lugar de maior acumulo juvenil que frequentava, e fui analisando as pessoas ao meu redor... principalmente, no caso, as lésbicas.

– Você ta estranha. – Disse Gabi, num dia, pelo pátio.

– Estranha como?

– Você pode insistir em dizer que não, mas alguma coisa ta acontecendo, porque tem hora que você suspira por algo e tem hora que você ta viajando tanto nas pessoas ao redor que nem escuta o que eu to falando.

– Eu tenho pensado muito em algumas coisas, só isso.

– Não quer mesmo compartilhar? – Perguntou parecendo realmente preocupada.

– Olha, não é nada com você, eu só prefiro guardar pra mim... eu sou assim, você sabe.

– Ta bom, mas sabe que, se precisar, eu to aqui.

– Sei sim.

– Outra coisa, sábado tem a resenha da galera na Lapa, que é perto da casa do Maurício. Você vai poder ir?

– Ainda não sei, meu trabalho é freelancer, então tem coisa que só sei em cima da hora, você sabe.

– Por isso que te perguntei, até porque hoje é quinta. – Disse ela.

– Acho que só no próprio sábado é que vou ter uma resposta.

– Depois de amanhã, no caso.

– Sim.

Como disse, depois que mudei de faculdade, fiz questão de guardar segredo a respeito do meu trabalho, pra tentar minimizar ao máximo a "encheção" de saco, como havia acontecido na outra instituição, tanto por parte dos alunos, quanto por parte dos profissionais que trabalhavam lá, que mesmo comigo longe, continuaram a me procurar, ainda por um tempo.

Sobre a resenha, eu realmente estava em dúvida, porque Lapa é um lugar onde é possível esbarrar com vários de meus clientes, que costumam estar bêbados e chatos, então, de fato, não sabia se estava disposta a me arriscar passar por alguma situação desagradável.

O que sei é que trinta dias haviam se passado e Daniela ainda não havia feito contato, pedindo por um novo encontro e, não sabia o porquê, mas isso estava me deixando ansiosa de uma maneira estranha. O sábado chegou e, com ele, diversas mensagens me perguntando se ia, ou não.

Por alguma coincidência estranha, não havia nenhum programa naquele dia e minhas tarefas da faculdade estavam em dia, então pensei e pensei, mas o que mais tava me incomodando era que, de alguma forma, havia um sentimento, no fundo da minha mente, me dizendo... vai.


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