14- Ativa

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– "Dá pra gente se ver hoje?" – Me enviou Daniela em uma quinta-feira de manhã.

Acho que mesmo que não desse, eu tentaria dar um jeito, mas dava, então confirmei e corri pra casa, depois da faculdade, pra me arrumar. Já pronta, fui pro lugar de sempre, tetando ignorar o que estava sentindo, justamente pra não ter que parar de vê-la, mesmo sabendo que já era tarde.

Eu sabia o que estava sentindo, mas tentava negar pra mim mesma, porque aquilo ia contra as minhas regras, ainda mais dentro da minha profissão. Será que Daniela seria capaz de se relacionar com uma garota de programa? Uma coisa é transar, outra é ter um relacionamento, sem dizer que... como trabalhar e namorar ao mesmo tempo?

Ela abriu a porta do quarto e já entrei puxando-a pra mim, movida por um sentimento diferente, o qual posso nomear como... saudade. Sem trocar nenhuma palavra, começamos a transar, cheias de desejo e eu podia sentir isso, sentia que ela correspondia àquela minha emoção.

Daniela me colocou de costas e começou a me beijar inteira enquanto sentia suas mãos deslizarem e arranharem meu corpo. Era incrível como me sentia através de seu toque. Empinei, levemente, a minha bunda, enquanto sentia sua boca e sua língua me beijarem com prazer... acho que não preciso ser mais clara que isso, não é?

Ela subiu e beijou minha nuca, segurando meu cabelo com uma das mãos, me fazendo arrepiar ainda mais. Suas mãos percorriam por meu corpo como se fosse a primeira vez, sua boca me beijava, sua língua me lambia, explorando lugares e maneiras nunca antes explorados.

– Senta na minha cara. – Me pediu ela.

Eu não só sentei, como rebolei, me esfregando em seu rosto enquanto suas mãos me seguravam e controlavam a medida certa entre o movimento e a proximidade de nossos corpos. O que posso dizer? Gozei... de novo, no caso. Deitamos exaustas, uma do lado da outra, e me lembrei que havia esquecido de colocar o celular pra despertar.

– Passamos do horário. – Me disse ela, com seu celular em mãos, ainda deitada ao meu lado.

– Quanto?

– Uma hora e meia.

Daniela parecia preocupada ao me dar aquela informação e sim, aquele era mais um motivo de preocupação, pois ela não tinha culpa do meu esquecimento, sendo assim, não seria justo cobrar pelo tempo que foi ultrapassado. De uns tempo pra cá sempre trabalhei com horário fechado, justamente pra saber o quanto teria que aturar, e vi que isso era bom, porque também me controlava em outros aspectos, mas agora era nítido que estava perdendo as rédeas da situação e isso me preocupava.

– Desculpa. – Disse ela se virando pra mim, ainda deitadas.

Eu a olhei, de lado, mas permaneci em silêncio, pois estava processando aquela situação. Sua expressão continuava a mesma e isso me abalou, porque, de alguma maneira, me senti comovida por ver seu mal estar... ela se importava.

– Não fica assim. – Falei. – Aconteceu, não tem problema.

– Eu vou te pagar por esse tempo.

– Não precisa, o erro foi meu.

– Mesmo assim eu insisto.

Me virei pra ela, acariciei seu rosto, sorri em meio ao meu sentimento ruim, e disse:

– Você é maravilhosa, não entendo o que você ta fazendo aqui comigo.

– Existem coisas que vão além da compreensão. – Sorriu. – Eu também te acho maravilhosa.

– Mas acho difícil que você precise pagar pelo que você faz.

– Eu entendo o teu pensamento, mas é que é mais complicado do que parece.

– E por que você não me conta, então?

Daniela respirou fundo, se aproximou um pouco mais, coloquei minha perna sobre ela, nos beijamos, e ela disse:

– Acho que ainda não consigo me aprofundar muito nesse assunto, mas eu terminei há pouco tempo e tive alguns traumas sexuais... me senti insuficiente.

– Acho tão impossível isso. – Comentei e era sincero.

– Pois é. – Sorriu, com tristeza. – Minha ex era tudo pra mim, era como um sonho realizado, mas, durante o namoro, ela começou a mudar e me exigia ser na cama uma pessoa que não sou... entrei em crise algumas vezes por causa disso, porque não conseguia fazer o que ela me pedia e nenhuma tentativa minha parecia ser boa, até que senti que ela começou a tirar de mim tudo que eu mais gostava.

– Realmente parece ser algo bem complicado.

– Complicado e doloroso. Eu nunca fui a pessoa mais confiante do mundo, mas tinha o sentimento de que era boa no sexo, agora me sinto confusa e perdida, e quando estou com alguém aleatória, fico muito insegura, por isso to aqui, porque eu só queria poder ser eu.

– Eu ainda não entendo muito a esse respeito porque é a primeira vez que vou além com uma mulher, mas pelo seu olhar imagino que seja algo realmente doloroso pra você.

– É sim... eu não quero ser desejada pelo meu corpo, eu quero ser desejada pelo que eu faço, mas as pessoas parecem não conseguir entender isso, ou eu é que não sei explicar direito.

Havia uma dor abafada em suas palavras e em seu olhar, mas confesso que pra mim também não estava sendo fácil de entender, o que me deixou um pouco constrangida, mas eu queria saber, queria de verdade, por isso, perguntei:

– Mas, como assim?

– Eu tenho muito tesão em tudo que faço, isso me deixa muito doida e com mais vontade ainda de continuar... quanto mais a pessoa geme, mais fogo eu sinto, mais eu quero, mais desejo... enfim, eu só queria ser desejada por quem eu sou.

– E quem você é?

– Eu sou ativa.


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