09 Nine.

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Saí do quarto e desci as escadas, seguindo em direção ao meu espaço, que agora parecia um refúgio cheio de sentimentos conflitantes.

Quando adentrei meu quarto, o peso da frustração se fez presente e me sentei na cama, tentando organizar meus pensamentos. Como ele consegue ser tão escroto?! Em uma hora, ele está fazendo promessas que soam sinceras, e na outra, suas palavras se transformam em ameaças frias. Ele é louco? Essa oscilação de emoções me deixava confusa e angustiada.

A frustração permeava meu ser, como se uma nuvem pesada pairasse sobre mim. Eu não quero essa vida, mas a verdade é que preciso dela. Preciso dele, com aquele sorriso que me conquistou quando me deu seus pertences. Era como se ele fosse uma parte de mim, mas ao mesmo tempo, uma fonte de dor.

Fui até a mala e a abri, hesitando antes de tocar na pasta que ele me dera. Era um símbolo da conexão que tínhamos, mas também da confusão que isso gerava em mim. Agachei-me, peguei os objetos de desenhar e me levantei, indo em direção à mesa de madeira que estava à frente da janela, onde a luz do entardecer filtrava-se suavemente.

Na mesa, coloquei uma caneta preta de ponta fina, um lápis de rascunho de tom leve e um lápis mais grosso para dar destaque ao que eu criaria. Borracha? Eu não precisava de borracha. Nenhum desenho é um erro; cada marca na folha é uma nova arte, uma nova ideia que se forma, mesmo que nem todos consigam entender.

Naquele momento de criação, peguei a folha de desenho amarelada e com textura suave, que sempre me parecia perfeita. Segurei o lápis na mão direita e, em um impulso, comecei a colocar no papel tudo o que sentia. Era um hábito que eu cultivava; quando enfrentava um pesadelo, desenhar logo ao acordar me ajudava a organizar os pensamentos confusos.

Toquei o lápis na folha e, com a mente cheia de emoções, comecei a desenhar o rosto de uma mulher gritando, com as mãos tapando os ouvidos, olhando para cima, como se estivesse presa em um grito silencioso. No pescoço, tracei um olho lacrimejando, e ao lado direito, um pouco abaixo, desenhei a lateral do seu rosto, que expressava o choro. Senti uma lágrima escorregar do meu olho e, em um frenesi, rabisquei mais, até minha mão começar a doer.

A porta se abriu de repente.

— Lia? Ainda está aqui? Não foi comer? — A voz de Hannah ecoou, interrompendo meus pensamentos.

Ela se posicionou ao meu lado e olhou para o desenho, surpresa.

— Você fez isso?! Porra, está perfeito!

Não consegui responder. O olhar dela me fez sentir exposta de uma maneira que não queria. Ela virou meu rosto, examinando meus olhos.

— Está chorando?

Levantei as sobrancelhas, surpresa pela preocupação no tom dela. Neguei com a cabeça, me levantei, peguei a folha e a dobrei cuidadosamente. Coloquei dentro da pasta e me dirigi à mala, agachando-me para fechá-la.

— Não vai comer? Deve estar acabando — ela insistiu.

Franzi o cenho, confusa.

— Comer? — Perguntei, estranhando a ideia. Olhei pela janela e percebi que já estava escuro, e um frio na barriga me fez olhar para o relógio em meu pulso.

— O que?! — exclamei, incrédula, ao ver que já eram 21:45.

— Acho que você se aprofundou demais no desenho.

Gortoz a RanOnde histórias criam vida. Descubra agora