16 Sixteen

2.9K 287 74
                                    


Eu não havia dormido.

05:00 e eu ainda estava em frente à escola, ou melhor, o que sobrou dela.

Estava sentada no gramado, refletindo sobre minha vida, enquanto via meus colegas sendo levados dentro das ambulâncias. A cena era surreal: as mangueiras jorrando água em direção ao fogo, tentando apagar as chamas que consumiam não apenas a estrutura, mas também as esperanças que ali residiam. Ignorava os policiais ao meu redor, suas vozes se misturando em um ruído distante, como se o mundo exterior tivesse se tornado um eco abafado. Eu não sentia nada além de dor e angústia.

Todos estão machucados e eu estou vendo eles sendo levados. Meu coração estava pesado, uma pedra de desespero que parecia me afundar cada vez mais. Meu coque já estava desmanchado, minha calça e meu top sujos de todas as coisas que alguém pode se sujar em um momento desses. Era quase como se a sujeira representasse a dor e a confusão que eu sentia por dentro.

Meus olhos estavam caídos e eu estava segurando meu joelho, observando as ambulâncias que saíam novamente do local. Já saíram de lá 30 corpos, e apenas 3 estavam com sinal de vida. A realidade era cruel e implacável.

Blake estava com a mão esmagada e com seu rosto rasgado. Elijah estava com sua pele aos pedaços por conta do calor. Luke estava morto. Hannah fraturou a perna, mas conseguiu sair viva graças ao Luke. Todos haviam sofrido algo, e eu estava aqui apenas olhando, sem poder fazer nada agora. A impotência me consumia, uma sensação agonizante que parecia me prender em um espaço sem ar.

Não conseguia mais chorar, apenas pensar, pensar e pensar. O turbilhão de pensamentos era insuportável. Eu sentia várias luzes de câmeras se direcionando a mim, e 5 repórteres me perguntando várias coisas. A pressão de suas perguntas era como se quisessem me espremer até que eu cuspisse algo que eles pudessem usar.

Não estava sentindo nada...

Coloquei minhas mãos no chão à minha frente e me ajudei a me levantar. Com dificuldade, consegui me erguer, mas senti meu corpo vacilar, como se estivesse prestes a desabar novamente. Minha boca estava ressecada, minha garganta ardia, e tudo doía. Era como se cada célula do meu corpo estivesse gritando por socorro.

Me virei e comecei a andar em direção à saída daquele lugar. A cada passo que dava, sentia o peso da tragédia me acompanhando, como uma sombra que nunca se afastava.

— Você é a neta do senhor que foi assassinado há dias atrás? Como está se sentindo com a perda de mais pessoas? — Parei de andar assim que escutei a pergunta, e eles pararam atrás de mim.

Encarei a minha frente e logo em seguida virei meu rosto lentamente para encarar quem havia feito esta pergunta. Uma mulher loira com o cabelo curto, olhos esverdeados, usava uma roupa social: calça preta, blusa branca e um blazer preto. O contraste entre sua aparência polida e a devastação ao meu redor era quase insuportável.

— Como está se sentindo? Não faz muito tempo que perdeu alguém, como está nesse momento? — Senti um choque percorrer pela minha espinha. Meus punhos se cerraram enquanto eu a encarava. Em um momento, parei de escutar o que falavam ao meu redor e só consegui me concentrar na filha da puta que me fez uma pergunta dessas.

Sem pensar duas vezes, acertei-a com um murro em seu rosto. O impacto fez com que ela se desequilibrasse e caísse no chão.

— Porra! — Ela esbravejou, olhando em minha direção com os olhos arregalados.

— Nunca mais apareça na minha frente, ou eu juro que faço você perder todas as pessoas que você ama. — A ameacei, desfrutando da expressão de choque que se formava em seu rosto.

Sorri sádica para ela e voltei meu caminho. Ninguém me seguia. Passei pelo portão, e a luz do amanhecer começava a iluminar o céu.

Estava andando quando vi a silhueta de alguém começar a andar ao meu lado.

Gortoz a RanOnde histórias criam vida. Descubra agora