CAPÍTULO 5

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  Um espanhol, um italiano, uma portuguesa e um australiano atrasaram-se para chegar no registro de saída, pois estavam comprando juntos lanches, lixas e canetas.
  Contudo, após essa amostra de consumismo, tiveram que marchar mais alguns metros até a aeronave. No percurso, acharam estranho ter apenas duas pessoas usando sombrinhas. Tratava-se de um casal asiático de narizes baixos, que por alguma razão dividiam o mesmo apertado guarda-chuva, sem nem ao menos estar chovendo. Um deles puxava uma mochila de rodinhas.
  O campo de aviação era vasto, digno de um claustrofóbico. A pista se estendia por quilômetros cercada por lâmpadas, que se não estivessem ali, a faria parecer que a escuridão era um caminho contínuo até infinito. O céu acima deles, encontrava-se tão nublado que não se conseguia ver nenhuma sequer estrela, apenas clarões obscurecidos tal como houvesse uma besta cósmica esperando unicamente eles decolarem para atormentá-los.
  Um belga, o qual ostentava calças intensamente coloridas, combinadas com uma blusa de botão de manga longa, havia perdido a paciência na fila e disparado na frente dos outros: para a aeronave branca no final da rota.
  Devia ter um comprimento de 33 metros, uma envergadura de 23 e uma altura de 8.
  Todos entraram no avião alinhados e sem problemas relativamente. Primeiro por uma escada, depois por uma porta branca e metálica, que dava próxima da última poltrona.
  O interior, igual o aeroporto, era relaxante aos olhos de tanta modernidade oferecida pela estética frutiger aero dos anos 2000. Formas suaves, aerodinâmicas e minimalistas. Iluminação cuidadosamente projetada para criar uma atmosfera agradável e para destacar detalhes decorativos como asas de avião estilizadas por paleta de cores terciárias.
  Uma dinamarquesa rodopiava sua saia estampada de laranja enquanto elogiava o design elegante do camarote, usando hygge para tudo e declarando "Nem eu teria feito melhor".
  Haviam umas quarenta poltronas cinzas, divididas em duas colunas interligadas por um corredor. As duas colunas, por sua vez, eram divididas em duplas.
  Mesmo assim, encontravam-se a mesma dinamarquesa discutindo pelo lugar com um sueco. As pessoas mais inteligentes sempre escolhem o último banco do avião e as mais burras os primeiros. Aquelas, mesmo assim, eram do tipo burras.
  Quem teve a ideia de juntar tantos renomados em um avião? Não aprenderam nada com o Voo da Chapecoense?
  Uma finlandesa desajeitada de óculos circulares e macacão branco, fazia perguntas incessantes para a aeromoça.
  — Por que tantas poltronas vazias? É seguro decolar nesse tempo nublado? — dizia ela cerrando sua maleta nas palmas.
  A aeromoça usava um uniforme padrão. Uma boina, uma jaqueta presa por botões de latão e saia azul. Lembrava uma enfermeira ou uma militar, talvez pelas linhas retas e simples.
  — Por que não haveria de ficar vazio? Esse é um CRJ550, mas ainda assim vocês são poucos.
  — Mas... está cheio, não?
  A comissária fez um rosto arbitrário.
  — Só se for de pecado — disse um judeu que ali passava.
  A aeromoça concordou.
  — Gostaria de ajuda para acomodar a mala?
  — Não, obrigado... eu gosto dela perto de mim.
  — Como quiser, vou dar uma olhada na cabine do comandante. Decolaremos em breve.

Ystería no Voo7300Onde histórias criam vida. Descubra agora