CAPÍTULO 24

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  ... Agora compreende o experimento? Tire alguns dos aparelhos, luzes, celulares, TVs... Os deixe aprisionados por alguns minutos com ruídos e logo... acomode-se e escute o padrão...

  E esse padrão nunca muda?

  Raramente. Tudo o que devemos fazer é nós acomodar, deixar que suas mentes se encarregam de criar seus monstros e escutar o padrão...

  Então esse Voo não é exclusivo?...

  Não. A terra está lotada de Voos 7300s...

  No nível 1 do terminal, Nicolas estava caminhando com as mãos no bolso, examinando as gárgulas flavescentes. Não havia quase ninguém por causa do incidente, só algumas pessoas que não desistiram de esperar e foram dormir nos bancos. Isso lhe causava uma sensação gritante de kenopsia: "o lugar deveria estar cheio mas não está".
  Na frente para a Central Elétrica, ele parou em uma das figuras mais deterioradas e a focou. Focou em sua boca. Aproximou-se desconfiado e, tentou pôr sua cabeça oval dentro dela afim de analisar a câmera. Não cabia por milímetros, mas ele continuou tentando até desistir para só observar o círculo de vidro quebrado contendo inúmeros papéis.
  Era uma foto. Não. Duas, três, várias sendo derramadas como uma cachoeira da boca do monstro. Algumas datadas da década de 90, primeiro de três pessoas, depois de um grupo de quatro pessoas. Outra de duas mulheres com o uniforme de Denver (uma delas, a falecida) acompanhadas de dois homens jovens ainda desconhecidos.
  Todas as imagens continham atrás a mesma mensagem feito com letras de recortes de jornal:
"Deus, por favor, nos perdoe".
  Ademais, os fragmentos de vidro estavam mais quentes que o ambiente e tinham pouca poeira e sujeira apenas de um dos lados.
  Nicolas fez uma cara de quem queria dizer "Eureca!".

  Já Emilly, acelerou o passo por entre os passadiços destampados, entretanto, regressou para um mural horizontal que lhe indicou um alerta esfíngico.
  Ela abaixou-se e identificou o título da pintura. Children of the World Dream of Peace, em tradução literal "As Crianças do Mundo Sonham com a Paz".
  A cena principal apresentava um grupo de jovens formando um círculo com as mãos ao redor de um soldado morto. Cada um era representado com vestimentas tradicionais. O horizonte retratavam véus e um lago. Acima dos jovens, um arco-íris colorido pairavam no céu, lembrando uma atmosfera de paz. As cores suaves, com tons pastel e quentes transmitiam uma sensação de tranquilidade. Detalhes sutis, como pombas voando ao redor, reforçam a mensagem de nirvana.
  De improviso, ela abraçou e esfregou-se no mural, como se pudesse sentir suas palmas sendo apertadas e suas costas sendo tocadas por várias mãos a puxando para a pintura.
  Contudo, um conflito a fez sair do devaneio e virar a cabeça: para um sujeito de gravata padrão com as palmas cobrindo o rosto. Saía choramingando de um gabinete carregando uma pasta entre os membros.
  Cole apareceu de relance na porta. "É só uma possibilidade!", esbravejou, enquanto o cara passou pela face da detetive, notando na sua vista, janelas púrpuras. Ouviu-se os sapatos arriando o cobre da escada, sem nem ao menos esperar ela girar.
  O rapaz na brecha usou o dedo para empurrar a bochecha direita de cima para baixo, estampando a parte interior do olho com destino a alteração da jovem detetive, e entrou para dentro após o desacato.
  A criminologista ignorou a careta bizarra e virou a mente para as escadas. Desceu-as depressa para encontrar o lastimado, mas próximo de chegar ao final da escada, Nicolas a surpreendeu ágil, lhe querendo expor algo. Ela pôs a mão no peito aliviada.
  — Você me assustou... — contraiu um sopro e puxou a mão do outro investigador já se recuperando. — Temos que alcançar aquele homem!
  — Acho que encontrei uma pista... poeira.
  — Depois você me conta! Nada como uma testemunha!
  Ela muda de bordão rápido... Pensou o detetive e dispararam por entre um pequeno aglomerado de pessoas inconvenientes, todavia como refletiu antes, os trabalhadores de Denver usavam uniformes idênticos, com pouca ou nenhuma modificação corporal. Nicolas bateu a perspectiva de câmera lenta em um rapaz limpando as lágrimas, marchando com destino a uma coluna de senhoras escrevendo notas dentro de cabines.
  O momento ideal para conduzir questionamentos, altas horas da noite. Você tende a estar mais descontraído e simultaneamente mais suscetível. Além disso, se estamos trabalhando até tarde, transmite imediatamente a mensagem de que se trata de um caso importante e que estamos altamente empenhados.
  Assim que aproximaram-se, pousaram a mão nos ombros do indivíduo, porém, foram recebidos por um rosto autoritário.
  — Eu não contrato nem nada, sou apenas um estagiário — falou ele tentando bater as asas.
  Nicolas imaginou Emilly trajada de aeromoça. Ela também imaginou, porém rapidamente deslembrou e subiu sua identidade juntamente de uma respeitabilidade.
  — Não, obrigada, temos uma ocupação. Lidamos com uma investigação. Chegou aos nossos ouvidos... no exercício da nossa profissão, compreende?... um suposto suicídio...
  O rosto do funcionário retorceu em anamnese.
  — Ah, sim! Foi horrendo! Eu vi Diana, tinha a fronte descorada. A boca e os olhos mantinham-se largos e brancos. Nunca pensei que veria uma companheira tão desfigurada — colocou os punhos juntos igual alguém pedindo algo. — Mas o que querem saber em específico?
  A detetive botou o celular no colo. O criptozoologista voltou a passar as mãos no bolso e duvidar.
  — Como deve saber, o protocolo nos recomenda chamar você em sigilo para interrogatório, todavia o senhor não vai se importar com algo mais casual, né? De modo que até protegeremos sua identidade — Nicolas deu umas batidinhas na bochecha para inventar algo rápido. —, que tal... peixe-pequeno? Lindo codinome, não?
  Em qualquer situação relacionada à conspiração, o suspeito não deveria ser avistado por outra pessoa. Se ele sentir que foi "descoberto", provavelmente nos mandará para um lugar desagradável, e posteriormente alertará todos os demais!
  — Não me importo de maneira nenhuma em ser interrogado! Francamente, vou confessar uma coisa para vocês... Faço o que for necessário para bloquear quaisquer funções desse aeroporto.
  A resposta deixou o detetive de queixo caído e engasgando a gesticular.
  — O-obrigado, só queremos saber onde podemos achar a administração daqui? Queremos saber se eles deixaram mais alguém entrar antes de nós.
  — A administração? Ela não aparece muito. Para falar a verdade ninguém chegou a vê-los. Os rumores dizem que eles trabalham de longe...
  A jovem tirou o celular do tórax.
  — Tá, então qual é a autoridade maior no momento?
  — Ora, vamos direto ao ponto! Vocês estão aqui por causa das especulações, certo? Túneis secretos e blá-blá-blá. Olhem, se querem realmente solucionar esse problema, vão para a torre. Na torre de controle terão respostas — o par de investigadores ficaram descrentes com o quê estavam escutando e do rumo que tomou o interrogatório. Um Judas ou um Jesus? — Perdão, tenho que ir agora, já devem estar planejando minha execução... — Ele virou-se meio ressentido.
  — Já que não se importa, qual o seu nome?! — Nicolas tirou seus punhos do bolso e aplicou ao redor da boca.
  O desconhecido de olhos vermelhos, porém agora alegre, jogou o crachá para eles e berrou:
  — Tyler! — e atirou-se no salão.

Ystería no Voo7300Onde histórias criam vida. Descubra agora