Todos voltaram a fazer seus passatempos logo que a aeronave firmou-se na altitude de cruzeiro.
A dinamarquesa assistia TV de fone e muitos dormiam com objetos aleatórios no rosto, mas uma pessoa em especial chamava a atenção. Um alemão, trajando um suéter azul e um boné estudantil, dormindo em um travesseiro, o qual incomodava o judeu ao lado folheando um livro sobre, segundo a capa roxa, harmonia.
Existia também aquela turca. Realmente ela parecia um pouco mais velha. Estava no assento para a janela, sem ninguém na lateral. Seus cabelos ruivos estavam apoiados nas suas luvas fechadas, enquanto não deixava de fixar o olhar azul cintilante para a abertura de vidro: nas nuvens, tão escuras e densas que poderíamos cortar. Era como se estivesse com saudade do seu destinatário, somente para um relâmpago a intimidá-la.
Stella assobiou para ela, tirando-a da aflição.
— O que quer? — disse a otomana arrastando-se até o banco vazio anexado.
— Nada, só estava pensando, ficaremos aqui juntos pelas próximas horas, poderíamos conversar.
— Lan, meu pai sempre dizia que eu não era boa com conversas.
— O quê te afeta tanto olhando por essa brecha?...
— Eu só estava sonhando acordada, com o quê aconteceu a aquela moça. A imagem dela convulsionando não sai da minha cabeça.
Nessa hora, ela é foi atingida de leve no crânio pelo judeu com o livro. Ele queixou-se baixinho com as duas:
— Prometemos não falar mais disso! — todavia, logo ao se acomodar, respirou arrependido — Ufa, desculpem... às vezes fico furioso como na situação passada...
Todo mundo se esforçava para esquecer o quanto aquilo era estranho. Ignorar uma morte? Como já disse Antoine de Saint-Exupéry, "Quando a situação é estranha não se questiona".
Stella animou-se com o novo elemento no diálogo.
— O que está lendo?
O israelense voltou a sua atenção para o livro.
— Ah! Isso? Meu livro. Meu parcialmente, há trechos de diários de afro-feiticeiras e outros cultos — ajustou o dedo em uma das páginas. — Sabiam que elas rogavam aos mortos.
— Uau, isso foi de zero a cem muito rápido — alegrou-se a jovem. — É crente nisso?
— Não exatamente, estou tentando organizar todas as fés em uma só.
Sunru o questionou:
— Tipo fundar uma religião? Mas... qual o motivo? Já há tantas.
O legente retribuiu:
— Por que? Assim que eu terminar teremos a religião universal, longe de rejeição e compatível com qualquer pessoa — gracejou — Almejava acabar esse livro até chegar em "Canaã", mas está sendo mais difícil do que eu imaginava, todos os dias estou evoluindo e o que escrevi no dia anterior parece inferior. Ah! Falando em crer, não me apresentei, sou Haim Naftali, membro do curso de teologia da I.V.O.
A turca teve um déjà vu.
— Estranho, tenho a impressão que já te vi antes... — ignorou — O que apurou até agora?
— Um entre vários podres cortes, como que algumas necromantes consumiam cadáveres em cerimônias de invocações — embaraçou-se em outro argumento. — Oh, e sobre ter me visto antes, devia ter sido só alguma reportagem. Já participei de tantas...
As jovens puderam ouvir nas fantasias, os empregados de Denver, mastigando a carne de moças.
Erick deu sua opinião:
— Ou talvez você viu ela na infância e a sua memória inerte ressuscitou. Irônico! Vocês podem ter passado por mim quando eu era pequeno e apenas agora nos conhecemos...
Figurantes iguais a mim. Fantasiou.
A jornalista interrogou algo a respeito da obra.
— O seu livro também aborda a vida pós-morte? Gosto dessas coisas místicas.
— Eh, sim. Somei a crença no paraíso das religiões abraâmicas e a existência contínua nas doutrinas indianas.
— Onde a nojeira da circuncisão entra nisso?! — não notaram que o alemão havia acordado. Seus braços cruzados demonstravam desinteresse. — Já que é um hábito os judeus machucarem recém-nascidos.
Haim mordeu tanto a língua de indignação que pensou que fosse feri-la.
— É uma aliança com Deus! Seu filhote de Hitler!
Stella intercalou os dedos no braço da poltrona. Estava interessada onde isso iria chegar, mas ao mesmo tempo queria despachá-los da vista.
— Então, eu não quero mais atrapalhar, tenho que "entrevistar" uma possível amiga.
Sunru ficou pasma e brincou com sua gravata constrangida.
O israelense ergueu-se para buscar um canto atrás, o mais longe possível do germânico. Ao achar, voltou meio furioso para os registros.
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Ystería no Voo7300
Mistério / SuspenseOs investigadores, Emilly Christine e Arthur Nicolas, acostumados a confrontar entidades demoníacas, manifestações sobrenaturais e cultos obscuros, mergulham em uma série de acontecimentos perturbadores envolvendo o Aeroporto de Denver nos EUA, conh...