CAPÍTULO 13

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  Centro de detenção juvenil de Jerusalém, Israel. 1 ano antes.
  Falta pouco.
  Uma imensidão de delinquentes gritavam, cuspiam, davam prazer a si mesmos de cima a baixo do mezanino e da varanda interna, antes que ela passasse. Usavam macacões laranja e cortes de cabelo rebeldes atrás de grades à direita e à esquerda.
  No meio de algumas desgraças surgiram duas perninhas brancas cobertas por uma saia até o joelho, o qual uma bolsa rosa batia continuamente. Criava-se um toque de incompatibilidade com o ambiente.
  A garota de laços soltos no peito fez um sinal para um guarda já idoso e com um enorme bigode branco. Ele abriu a porta de ferro no final do corredor escuro de fezes e sangue de adolescentes espancados.
  O outro lado do prédio era ainda mais tenebroso. Se ela achava aqueles rapazes perigosos, sabe-se lá Deus o que esses fizeram para estar na contenção máxima, no lugar em que só existia, em cada cela, uma pequena abertura do tamanho de uma boca nos portões de entrada.
  Às vezes cresciam olhos dessas aberturas. Olhos agitados e apertados de risos.
  Porém, o destino da moça encontrava-se logo ali, no último calabouço do passadiço à esquerda.
  Ela bateu na porta e pôs-se a observar pela abertura.
  A imagem que avistou foi o suficiente para arrepia-lá até a espinha, não porque era assustadora, mas porque era repentina.
  Um garoto de uns dezessete anos de cabelos lambidos loiro, vestia uma camisa de força branca e seus braços estavam cuidadosamente presos em uma cruz ao redor do peito, podendo mexer poucos centímetros.
  Ele usava uma máscara sorridente com traços tanto humanos quanto sobrenaturais. Os olhos da máscara pareciam penetrantes, possuíam detalhes intricados em tons de branco e cinza, com símbolos judaicos esculpidos ao longo de suas bordas.
  Permanecia sentado em uma bancada.
  — Olá, sou Süren disse a garota.
  O ser continuou silenciado, apenas deu um longo suspiro asmento.
  — Vamos direto ao ponto... sou uma... especialista em mídia. É, sou a pessoa encarregada pela I.V.O. de manipular as Fake News sobre lugares como esse, Pontos Ocultos como chamam. Mesmo sabendo, que ninguém iria acreditar nos espécimes que eles guardam aqui — Süren mordeu os lábios licenciosos. — Porém, você... quando li sua ficha... você de algum jeito me atraiu, faz parte da sua particularidade, será? Acho que não. Sei o que estou fazendo...
  Ela tirou a ficha da bolsa rosa e começou a passar os olhos.
  — Anticristo... líder de um culto canibalesco que sacrificava crianças alemãs em vários rituais em Sinagogas espalhadas por toda cidade, sob o pretexto de reparações históricas e crenças apocalípticas... — fez uma face soturno flauteado. — No entanto, quando seu mestre fora preso no meio de um ritual, todos os membros do culto fizeram uma penitência de subnutrição que resultou em suas próprias mortes... Eu sentiria muita saudades deles se fosse você... Agora, você está aqui, diagnosticado com síndrome de Jerusalém seguido de delírios e alucinações religiosas...
  O indivíduo finalmente falou, deixando escapar alguns ruídos metálicos de fivelas.
  — Eu os poupei, poupei do que ocorreu comigo. Já viu o que faziam com gente como eu no passado?... Sangue afogando sangue...
  — Ora, isso não me interessa nem um pouquinho.
O sujeito tentou chocar a cabeça na parede.
  — Me esqueci dessa máscara... eles realmente tomaram todos os cuidados para que eu não cometa suicídio. Provavelmente tem medo de que eu estrangule meu pescoço em desespero.
  — E é esse medo que vai fazer você sair daí.
  A afirmação de Süren veio de súbito para o garoto, mas ele permaneceu descrente.
  — Não quero sair. Nos primeiro meses até me importava com o que os outros detentos e os guardas faziam comigo. Mas, ficou meio sem graça quando eu simplesmente não aguentava mais suas torturas e deixava de reagir. Todavia, minha consciência se manteve intacta.
  — Ah, por isso... ainda fantasia, medita, chora — Ela olhou o arquivo de novo. — Na sua ficha, também é dito que você fazia uma lavagem em seus membros que os curavam das enfermidades e em troca viravam seguidores fiéis... — cuspiu enfastiada. — Como especialista, posso dizer que trabalhar cansa. Cansa muito. Ser exposta a conteúdo, interações, comparações, registros, memórias... e o pior, abandonos... — balançou os cachos de fogo. — É doloroso ter só um motivo para viver. Quando se tem dois a dor diminui. Quando os dois vão embora a dor se multiplica.
  — Pode parar com a sua matemática lírica. Você veio de longe até o fundo do poço de Jerusalém e espera que eu te cure te dando um motivo pra viver, é isso?
  — Não só isso. Eu quero que você me transforme numa casca; sua casca. Eu te liberto e de bônus ainda ganha uma seguidora. Uma nova seguidora para um novo culto... Oh! E mesmo que recuse você não tem escolha. — Ela parecia muito transparente. — Vai haver uma palestra sobre "desenvolvimento de habilidades sociais offline" e mexi uns pauzinhos para alguns presos da contenção máxima participarem... E isso incluí você! - a jovem sorridente fez um sinal de arma na altura da bochecha para o anticristo.

Ystería no Voo7300Onde histórias criam vida. Descubra agora