CAPÍTULO 30

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  O zumbido de serpente aumentou aos poucos.
  Ainda estamos aqui, mas até quando?!
  Erick assentava com um complexo no rosto de caos e temor. Tinha a lista de passageiros no punho, sem coragem de enfrentá-la.
  Richard se mudou para a cabine do piloto, ou queria assistir a queda de camarote ou tentava consertar o que podia do rádio.
  Sunru se travou com o paraquedas inútil numa cadeira. Balançava numa posição fetal, onde os filamentos encarnados reviveram em suas íris. Sunru! Você pula de grupo para grupo apenas para se sentir mal no final, melhor seria se eu pudesse urinar todas essas pessoas de mim.
  Marilyn insistia em se confinar no toalete, mesmo com uma rodinha de pessoas tentando convencê-la a sair. De vez em quando, ouvia-se ela numa fúria desolada murmurando "Droga… Drog… Dro…". Depois a fúria fluia para um completo desespero automutilador: "DROGA! DROGA! DROGA!".
  Os remanescentes viraram ídolos escondendo suas faces desesperadas de percepção escancarada. Abancados e aguardando incomodados a morte. O desconforto expandia-se intensamente quando compreendiam que a morte iria doer, como nunca doeu na vida.
  Quanta inveja daquela garota, pelo menos ela não teve que esperar tanto…
  O psicanalista recebeu força do otimismo que tinha de Stella e alteou, vagarosamente, a prancheta diante da vista.
  Foi obrigado a pôr, horizontalmente com um tapa, a palma da mão na boca. Apertou-a. Seus glóbulos converteram-se em duas bolas de golfe, de tão chocado que estava a procurar.
  O nome de Stella não constava na lista.
  Seus punhos ficaram na mesma posição sacudida por quatro segundos. Depois foram retirados, expondo uma abertura de extremidades viscosas.
  Por quê?! Erro?! É! Esqueceram de colocá-la. É isso. Ela não mentiria para mim. Quem mentiria para um psicanalista?!
  Deus, nos pouse ou nos mate, nos pouse ou nos mate. Por que o Senhor não extermina a gente de uma vez? Jesus Cristo, não sei se sou capaz de suportar mais.
  Seu olhar ficou escurecido. Jogou a prancheta com calor em Alma, a qual virou-se em companhia de uma fobia de procurar se proteger com as mãos.
  Erick acercou-se dela bizarramente.
  — Que tal um café?... — Ela hesitou a cabeça em reprovação. As sobrancelhas da garota desceram e encolheu os beiços.
  Havia uma jarra partida de café jorrando levemente, perto do carrinho derrubado. A pequena poça se adicionava com alguma coisa que tinha o ar de vômito ou sangue.
  A essa altura era difícil saber.
  Ele buscou a jarra fazendo cara feia para não andar em cima, e regressou de volta, ligeiramente alterado para Alma.
  Os passageiros o afrontaram duvidosos, criando frestas entre os dedos.
  Haim se levantou animadamente inseguro.
  — Finalmente, você está pensando o mesmo que eu?... Talvez já estejamos todos mortos e não nós demos conta disso... Talvez esse seja nosso inferno particular pelos nossos pecados...
  Erick riu e desacreditou criticando.
  — Não, é que… eu estive pensando e sabe... Eu nunca estive em um avião. E se isso tudo não for um fingimento, uma ilusão, Alma? Acaso estamos todos loucos e alucinando em algum lugar...
  A finlandesa intrigou-se vacilante.
  — D-de que maneira?!... V-vocês está me assustando mais do que já estou!…
  — A nossa decolagem. As mensagens subliminares de Stella. Quem diabos é ADM?! — Ele apontou louco para o asiático angustiado. — Por exemplo, como eram as cartas que receberam?! Tinham algo de diferente?! — fez o mesmo gesto para o resto dos tripulantes, os quais se miraram cínicos.
  — Simplesmente nos mandaram vir para o Aeroporto de Denver — o judeu parecia um salvador pelos outros.
  — E o que mais? Como? — o rapaz gotejando, segurou o israelense pelos colarinhos e o vacilou — Me diga!
  Haim disse calmamente mantendo o cavalheirismo:
  — Não sei… Eu… Rasguei a carta e joguei no lixo...
  Mantenha a mente no lugar... mantenha a mente no lugar... se conseguir, pelo menos, manter a mente no lugar…
  Erick olhou profundamente para Alma.
  — Preciso de alguma resposta! — em seguida para os demais. — Por que não vemos se o café tem o mesmo efeito nessa garota?
  É nitidamente correto... planejado. Mas ninguém deve suspeitar. Pode dar certo! Tem que dar certo! Irei salva a todos!
  A finlandesa iniciou um berreiro enquanto tapava a boca com as mãos.
  — Não! Não! Nem tente!
  Erick empenhou-se para fazer a finlandesa tomar a jarra educadamente, todavia ela dificultou, unindo os lábios com força e oscilando a cabeça drasticamente até ficar atordoada e derrubar os óculos.
  O psicanalista, que já não era tão entendível, mas possuído, prendeu com um dos braços as bochechas infladas de Alma junto de igual potência de um alicate e, com a outra, segurou os membros da jovem pelos pulsos.
  Não! Não! Não!
  Ela apertou os olhos e foi levada a abrir a cavidade bucal. Repetidamente dedicou-se para levar os membros até a boca. O impulso lacerou seus músculos e irritou o pulso, agora vermelho e coçando. Contudo, seus dedos perseveraram em se torcer junto de uma câimbra.
  A finlandesa escancarou as janelas e apreciou o líquido nojento escorrendo da xícara na mão de Haim, para a sua porta. O sorriso que o psicanalista e o israelense estavam brindando era perturbador. Tudo era digno de uma pintura gótica do século dezenove.
  Os resto dos estudantes apenas pôde vetar suas bocas para não esbravejar ou provocar.
  O recipiente se esvaziou.
  O psicanalista soltou a garota duramente contra o lado. Ela cuspiu um pouco de café que sobrara, até eclodir catarro em suas narinas e a sua língua ser posta para fora.
  — Seu doente! AGORA EU TAMBÉM VOU ME ESGOTAR EM SANGUE! — seu rosto ficou vermelho lacrimejante.
  — Não, não vai. Se eu estiver certo, você no máximo irá dormir.
  — Então o que aconteceu com aquela garota?!
  — Eu também gostaria de saber…
  Alma iniciou pensamentos intranquilos.
  Não sou especialista em humanos, mas uma garota se esgotando em sangue é… Estamos lidando com um risco biológico sem precedentes, é isso!
  Ainda que consigamos pousar, se houver a menor suspeita de uma condição contagiosa… Quarentena imediata! Máscaras, luvas e INVESTIGAÇÕES…
  E se eles descobrirem?…
  Eu… eu… nunca quis magoar ninguém… Se pudesse voltar atrás, faria diferente…

Ystería no Voo7300Onde histórias criam vida. Descubra agora