Situação atual: Uma aeronave descontrolada e pelo menos dois cadáveres. Resumindo, a cabine lembrava cada vez mais um necrotério. Talvez fosse o frio, que julgavam estar piorando.
Erick continuou teorizando sobre o suposto assassinato:
- Pela posição do corpo, acho pouco provável que tenha sido um acidente. Teria de ser muito azar ou muita sorte.
Alma então deu sua sugestão:
- Porque não olhamos o garfo para ver se encontramos alguma impressão.
- É uma boa ideia, mas quem vai tirá-lo? - falou o garoto tentando escapar daquilo.
A veterinária levantou uma das sobrancelhas arbitrariamente.
- Não se preocupe, eu faço. Pra mim isso já é costumeiro.
A finlandesa tirou da maleta duas luvas brancas, colocou-as com rapidez e pôs a rebaixar sua cabeça na altura do pescoço de Noh. Começou a encará-la com um olhar igual a de um gato curioso. Um líquido além de sangue fluía ainda da garganta da oriental, que agora estava de olhos fechados.
- Veja! - Richard, Erick e Haim tentaram se encaixar com dificuldade no lugar apertado. - Estão vendo essa ferida circular... o talher parece que foi rotacionado uns cinco centímetros dentro dela. Creio que isso confirme o crime.
Sem notarem, Alma conduziu os dedos delicadamente sobre o garfo e o tirou num só puxão. Ouviu-se um ruído orgânico sair da laringe da asiática, o qual começou a brotar mais fluidos que causavam agonia no psicanalista, mas não no resto deles.
- Que estranho... - falou a finlandesa enquanto posicionava o talher sujo no nível central da cara - Pelo o que estou vendo, sem digitais ou marcas...
Erick aguçou seus sentidos quando viu a experiência de Alma com perícia.
- Sabe fazer aquela coisa de saber se o assassino é canhoto ou destro?
- Kaveri, ainda sou só uma veterinária.
- Ah! É verdade... mas pelo o que eu lembro dos meus colegas conversando, acho que é pela angulação do golpe, ou era do corpo?... Não recordo...
Com ajuda de Haim, eles arrastaram e posicionaram o cadáver do lado esquerdo da poltrona de Stella. Agora ela tinha uma companhia.
O psicanalista configurou-se nervoso e desconfiado, embora tentasse conservar-se são. Em razão de estarem aparentemente naturais, serenos e equilibrados, os outros solidarizavam igualmente um com o outro, entretanto por dentro eram pássaros numa gaiola:
E agora, e agora? O que ocorrerá? Qual vai ser em seguida? Qual? Qual de nós?
Vou me sair bem? Será verdade? Não sei, quem sabe. Vale a pena tentar. Se der tempo. Meu Deus, se der tempo...
Obsessão pela fé, isso... Observando-o, no entanto, mal dá para acreditar... E se eu estiver equivocado?...
Isso é insanidade, neste lugar tudo é uma insanidade. Estou alucinando. Estudantes morrendo, aparelhos que não funcionam, não faz sentido. Não posso compreender absolutamente nada...
Ingênua, aceitou cada palavra que eu falei. Foi simples... Devo ser cauteloso, mas extremamente cauteloso.
Duas mortes... apenas duas; quantas haverá daqui uma hora?...
- Alguém vai querer o paraquedas?
O medo foi serrado pelo alemão levantando a larga mochila dourada igual levanta-se um peso de academia. Todos hastearam-se das poltronas e começaram a agarrá-lo pela cintura numa algazarra como se um beneficente estivesse entregando comida num bairro pobre.
Do alto ele esbravejou antes de quase ser engolido pela aglomeração de mãos:
- Pena! - todo mundo se afastou. - A diferença de pressão da porta torna abri-la quase impossível.
Suas faces estacionaram-se em uma combinação de desejos sanguinários e melancolia. O primeiro pela pegadinha do germânico e o segundo pela volta à estaca zero.
Voltaram-se então aos seus túmulos.
De prontidão Erick indagou frenético:
- Muito suspeito da sua parte trazer um paraquedas para esse voo! - dizia ele enquanto alguns o encaravam procurando seus devidos cantos.
- Bom... Pode me chamar de louco, mas sou o tipo de pessoa que vê uma ambulância e já se prepara para o apocalipse.
- Loucura? nãoo, porém você mostra sinais claros de paranoia. Deve existir uma solução menos perigosa - ou melhor, ainda que conseguisem abrir a porta, quem seria demente de pular daqui. - Já tentaram os telefones?
- Foi a primeira coisa que tentamos - Alma posicionou as palmas na cintura. - Estão sem sinal igual, aos de um filme de terror.
Richard assoprou o fumo na cara de um rapaz e continuou inflamado:
- Então o que vai ser? A clara morte ou a esperança de morrer?! Há! Há! - Ele deu um sorriso que destacou seus lisos e escuros lábios coloração vermelho como a pele.
- Já tentaram o rádio do avião? - o rosto de Erick ficou sério como se esperasse um milagre.
Alma empalideceu-se:
- Não...
O psicanalista dirigiu-se no mesmo instante para a cabine do piloto histérico e procurou emaranhando-se através daqueles imensuráveis botões, luzes e alavancas, apenas para achar o rádio obviamente na sua frente.
Era uma peça eletrônica montada no painel de controle da cabine de comando. Tinha uma caixa quadrada com uma tela de exibição digital, controles e botões para selecionar frequências de comunicação, ajustar o volume e interagir com o sistema.
Em geral, as aeronaves voavam continuamente pelo céu estadunidense, mas a luz emitida por outros aviões nos arredores não era vista.
Ele pegou o rádio, quase o escorregando de seus dedos. Aplicou um dos fones do aparelho no ouvido e o outro próximo da boca.
Finalmente alguém vai nos ouvir. E vão nos levar para onde merecemos!
Transmitiu juntamente de uma fadiga uma mensagem:
- Mayday! Mayday! - o rapaz aplicou o que sabia de filmes que tinham cenas de queda de avião. - ... A comissária tentou nos matar... por favor nos ajudem! - Ele sabia que não poderiam ajudar. Seja o que for que estava comandando o avião, falhou e o que poderiam fazer? Frear o avião?! Ele até achava divertido a sua ideia.
Estamos perto de uma nuvem parecida com um anjo. HÁ! HÁ! HÁ!
Erick tentou mudar a frequência.
Não recebeu resposta. Martelou com toda a força os acessórios de volta ao rádio. Será que quebrou? Percebeu um fio e o seguiu apenas para achar ele cortado. Apertou-o com força que nem seus olhos recuados, como se quisesse receber uma descarga.
Alguém chamou o nome dele entre os tripulantes. Ele atendeu o chamado e partiu.
Minhas pernas já estão ardendo de novo! Por favor, não trema!
Cruzando novamente a cortina azul, encontrou uma multidão de costas para Erick, bloqueando a passagem e sussurrando. O psicanalista empurrou-os descontroladamente a fim de saber o que intrigava tanto os indivíduos. Encarou a comissária amarrada de janelas secas e Stella ainda horrendamente imunda. Nesse afasta-afasta, atingiu o centro da meia-lua e pôs-se a estranhar três rasgos na saia da moça sentada.
Sunru tinha finalmente acordado. Um de seus punhos estava sendo aquecido por Haim, após reclamar de dormência. Mesmo tendo tido apenas uma conversa breve, ele estava sendo muito invasivo para os outros.
Enquanto ela ganhava cor, tentava levantar a cabeça em intervalos de queda, e suas pupilas pareciam subir.
- Eles estão nos meus sonhos!... - a turca riu anemicamente.
- Quem? - perguntou o israelense.
- Meus amigos. Eu estava em uma sala de aula com meus amigos - seus olhos não piscavam. - Meu doce Deniz levantou sem dizer nada e começou a caminhar para fora. Os outros fizeram o mesmo logo em seguida. Segui os questionando para onde eles estavam indo, mas por dentro sabia. Até que...
- Até que? - disse Erick.
- ... O pesadelo muda... encontrei um precipício circular, de algum modo o fundo era o Internato. Eu estava em um ponto e ele em outro paralelo ao meu. Deniz sorriu para mim, acenou e logo após...
- Prossiga.
A tortura em suas falas era espantosa. Sunru segurou as mãos no banco. Era tangível além da medida.
- ... Se lançou lá de cima... - arregalou a boca. - Daí gritei ao ponto de me acordar...
Estranho... a maioria dos sonhos não é tão óbvio e com essa riqueza de detalhes. Pensou o psicanalista.
Excitadamente ela abraçou a primeira pessoa que viu pela frente, no caso Haim. A face da garota estava branca e com as órbitas agitadas.
- Sei que não é possível, porém... ainda imagino que eles estão me esperando em "Canaã". Acho que estou ficando doida... Qual o sentido disso?!
Na realidade, tinha ar de doida. O vínculo lhe trazia desconforto. É como estar com uma família ao seu redor.
Meu coração bombeou sangue quente, mas não é suficiente, eu quero que queime mais e mais.
- Vocês não são meus amigos! - Ela empurrou Haim. - Onde está Stella! Ela se parece com os meus amigos!
Esqueceu?
Erick acreditou que era a melhor pessoa para dar essa notícia, porém, antes que pudesse, a aeromoça o suspendeu:
- Se refere a menina morta logo ali? - apontou com dificuldade para dois bancos a frente.
Sunru não esboçou reação, apenas conseguiu levantar as sobrancelhas. Ergueu-se da poltrona com seu rosto e braços assustadoramente paralisados.
Abriram espaço para ela.
A cabine fechada estava ficando insalubre, e isso ficava evidente, quando ela ousava respirar. Um cheiro insuportável de vômito e sangue, o qual latiam para tirá-la dali.
Haim prendeu as loiras tranças de Marilyn. Sacudiu para cima e para baixo brutalmente. Ninguém da sua roda se importou, suas bocas expressavam uma falta de expectativa e preocupação com o próprio nariz. Ela gritou pedindo ajuda para que parasse.
- Como pode ser tão neutra! Mulher insignificante!
- Desculpe! Ela ia ficar sabendo de todo jeito! - Ela pôs a perna na calça do judeu e procurou se impulsionar para trás.
A dor que ele experimentou foi igual ao de quebrar uma perna, contudo ela tinha um riso de euforia enquanto os seus fios eram arrebatados. Quando conseguiram se separar, os dois foram impulsionados para direções contrárias, se chocando com outros tripulantes.
A comissária ainda com os braços amarrados para trás atravessou as cortinas vermelhas.
Escutou-se um estalo. Ela havia se trancado no banheiro de algum jeito. Haim ficou ultrajado.
Alguns ficavam de joelhos nas cadeiras pois o corredor tinha apenas capacidade para duas pessoas lado a lado e o resto era apenas poltrona ou parede.
A turca pisou num fluido, o qual sujou o sapato. Rebaixou sua cabeça de janelas fixadas lentamente.
A ex-entrevistadora encontrava-se descansada. Sangue não parava de escorrer, só que agora numa velocidade quase imperceptível e pingava.
Sunru, começou então, a esbofetear o corpo. Filamentos encarnados saíram em direção a suas íris enquanto ela achava o cadáver mais leve. Talvez fosse a carência de fluidos.
- Você é que nem os outros! Me abandonou e agora a culpa também é sua de eu sujar minhas mãos! - o penteado das duas se desprendeu e caiu sobre a face quando seiva ruiva voou pelos flancos.
Um espanhol teve que segurá-la enquanto a mandava sossegar. Ela acabou desistindo de atacar e deslizou de dorso no garoto, o qual chegou a ficar inflamado.
Erick a tocou no ombro e nesta hora ela foi abraçado por si própria.
Vira adulto.
- Quando aterrisarmos eu cuido de você.
- Diz isso para todas as suas pacientes? Se fosse um garoto você não diria isso.
- Não... veja! Você era a garota gravando no aeroporto, né?!
- Sim. É uma maneira de não esquecer das coisas. Sou tão desleixada que não lembro dos meus próprios erros.
- Fotos e vídeos aumentam o humor em até onze por cento - Ele fechou a palma direita e a vacilou para a esquerda. - Que tal, pegarmos uma de Stella?... Qual o seu nome mesmo?
- Sunru. E... seria bom...
- Sunru. Meu nome é Erick.
Locomoveu-se em direção ao primeiro lugar de Stella e procurou no bolso da poltrona à frente, o cartão de segurança dela.
... se prestarem atenção verão que seus cartões têm suas fotos... Evocou suas memórias de horas atrás.
O rapaz o agarrou e o levou até o rosto. Uma febre iniciou-se em sua cabeça e depois espalhou-se por todo o seu corpo.
O cartão não tinha foto alguma.
Virou-se para frente enjoado e buscou ajuda. Contemplou Richard, o fumante, vigiando Marilyn que estava com uma cara de ignorante.
- Richard, pegue a lista de passageiros dela.
O germânico escutou e atentou Marilyn junto de crítica.
- Ok, chefe - Ele falou em um timbre azedo.
Situou o punho na prancheta pendurada na cintura da comissária, porém não achou ser suficiente. Nesse instante, dispões o membro no bolso dela.
Erick estava de costas com dor de cabeça e Sunru parecia não se importar mas com a foto.
A aeromoça estava sofrendo e lacrimejando. Soltava leves lamúrias que endureciam a atitude de Richard, que começou a esfregar as coxas dela em companhia de uma face devassa.
Por que não desperto desse pesadelo? Despertar... se ao menos eu pudesse raciocinar... Minha mente... algo está ocorrendo em minha mente... vai estourar... vai se partir ao meio... esse tipo de evento não deveria ocorrer...
Haim viu aquilo aturdido perto da cortina que dava no banheiro, deu um arranco para frente e empurrou o alemão que já estava ajoelhado, enquanto o xingava com o seu próprio dicionário de insultos:
- Filho do demônio! Eu desconfiei no primeiro cigarro!
Ele esforçou-se para levantar do chão, junto de um ódio secular.
- Semita nojento! Saudades de quando mandávamos vocês para o forno. Mas sempre sobrava alguns para nos acusar!
Erick tentou tranquilizar Sunru, que agora se sentou agonizando novamente no lugar. Porém, quando a discussão ficou alta demais, interveio se metendo no meio deles e os afastando para os lados.
- Ficaram malucos! Nesse ritmo não precisaremos de uma colisão para nos matar - assimilava numa posição em formato de T, ao mesmo tempo as lamúrias da comissão transitavam o barulho.
Alemães. Onde quer que haja problemas, há alemães. Fantasiou Haim superiormente.
- Esse nazista sujo estava assediando uma mulher! Por Deus, devemos matar os dois.
Richard rebatia as ofensas do judeu.
- Violência é minha religião - o israelense continuou com ódio, porém seu rosto decaiu arregalado.
Toda citação tem seu outro ponto de vista, mas tudo o que nos resta é ignorar esse lado de imediato. "Quem espera, sempre alcança" mas "O tempo não espera por ninguém".
- Ninguém vai matar... - o psicanalista virou-se para Haim, e depois para Richard. - Nem violentar nenhuma pessoa... - estão ficando insanos... todos vão enlouquecer... Com medo da morte... estão com medo de morrer... mesmo eu temo morrer... porém isso não interrompe a morte de se aproximar.... onde vi isso mesmo? Ah, eu devo ter escrito! A garota... vou ficar de olho na garota! Erick levantou o braço como se quisesse entregar algo invisível para o germânico. - Richard, cadê a lista de passageiros? - passou a palma na testa esforçando-se para esquecer a dor febril que estava sentindo.
Richard agachou-se, agarrou a lista de passageiros e ficou numa posição como se fosse entregar a prancheta, porém a largou no solo e rodou gargalhando em direção da cabine de controle.
Muita ousadia para alguém do seu tamanho. Erick agachou-se, segurou a lista e saiu para o meio da aeronave.
Haim persistia sentindo agonia nos testículos. Ele enxergou algo que o chamou a atenção. Yuma de olhos fechados, rezando em japonês. Através das palmas retas e juntas, existia um paralelismo com o centro do rosto.
- ....Protegei-nos e mantenho-nos seguros e felizes. Concedei-nos força e coragem. Enchei-nos com a energia sagrada para purificar nossa mente e corpo e manter a harmonia. Não nos deixes esquecer a gratidão, e abençoai-nos neste dia e no futuro...
Ele mal percebeu que a oração a qual estava fazendo foi acompanhada pelo israelense que ajoelhou-se perto dele. Imitou-o sorridente, pois conhecia a reza: uma súplica de Norito.
- Com esta prece, nós oramos...
Abriu-se os olhos e o asiático ficou meio introvertido com a companhia de Haim, que já se pusera a perguntar:
- É xintoísta-budista? - o receptor permaneceu em silêncio, olhando para frente - Por quê não fala nada? Está querendo disputar estranheza com o nazista? Ficou mudo?!
Yuma pretendia dizer algo, até ergueu o dedo apontando para cima, mas foi impedida por ele mesmo, o qual abaixou o próprio braço.
Haim insistia em fazer questionamentos para o "viúvo":
- Sabe o que eu acho? - Yuma fez uma cara de presunçoso. - Que você foi muito idiota de escolher justo a primeira poltrona. Idiota ou convencido. - não diga nada Yuma, não fale com esse atrasado, você é melhor. O judeu levantou a voz. - Diferente desse japonês aqui! Você, Sra. Tilde se acha muito esperta, não é?!
A dinamarquesa levantou a cabeça espantada com a vociferação, logo depois de seu dorso ficar ruivo. Puderam nota-la melhor agora, desfrutava de sua saia laranja de corte reto, combinada com uma blusa de manga curta e, para um maior conforto, um suéter e meia-calça.
- O que está querendo dizer, judeuzinho?
- Quero dizer que você estava brigando por esse canto feito quem briga por mulher. Como se soubesse que em uma queda haveria mais chances de sobrevivência nos fundos. Ou! Como se soubesse que o avião fosse cair.
- Ridículo! Isso nem passou pela minha cabeça. E você, que demorou mais tempo no banheiro?! Em?!
O judeu então sugeriu algo que superou todas as outras falas dele.
- ... Acho que deveríamos todos votar para quem vai sentar atrás.
Os passageiros pareceram não aceitar a ideia "civilizada e justa" de Haim e o ignoraram. Foi nesse momento que seu estudo das benditas línguas latinas e seus verbos "ser" e "estar" o concederam uma verdade que gostaria de poder discutir e publicar. O homem não é civilizado, está civilizado. Tudo depende do ambiente e das circunstâncias, para os seres humanos elaborarem sua nova moral própria ou grupal.
Mesmo assim, riscou do seu livro que a "humanidade é moralista" e escreveu logo abaixo sua correção.
Invés, a canadense e a irlandesa juntaram o dinheiro das duas para comprar um assento de trás. Mesmo que dólares canadenses e euros irlandeses talvez não interessassem um norueguês próximo de falecer.
Porém, ainda sim, isso interessou um sueco, o qual parecia com dificuldades de dizer "não" para as formosas garotas. Ele se mudou para um banco vazio quase na vanguarda pelos trocados e as duas moças simplesmente compartilharam o mesmo banco, de modo que a finlandesa assentou no colo seguro da outra.
O francês estava achando tudo aquilo muita petulância. Subornar probabilidades de sobrevivência? Ele então tentou arrancá-las à força, com várias desavenças e gritos estridentes das jovens. Contudo, um grego rechonchudo, gado feito um minotauro, socou o gaulês revolucionário que segurou-se atrás das costas da poltrona para não cair.
Tilde não aguentou a algazarra e vociferou:
- Por favor, deixem disso! É melhor pelo menos descobrirmos quem é o culpado de tudo isso - levantou os olhos apontando para Stella sangrando no banco. - Ninguém desconfia da garota que falou que a aeronave iria cair? Foi ela que adivinhou o que iria ocorrer... - a dinamarquesa começou a girar o rosto para os outros buscando aprovação - Ela adivinhou?! De que jeito ela adivinhou?! De que jeito conseguiu?!
Haim respondeu a solicitação da estudante como uma espécie de ofensa.
- Erick! Não vai dizer nada?! Ela está praticamente profanando o cadáver da sua querida!
O psicanalista nada respondeu, nem mais tentou manter os ânimos. Estava de costas com a prancheta em mãos. Respirava ofegante.
Nesse clima conveniente para uma revelação, os trinta passageiros saíram do tédio desesperador em que estavam, quando focaram-se em escutar um ranger semelhante a uma de uma serpente, o qual vinham do teto, dos dorsos, de todos os lados.
Mais essa agora! Imaginaram, gotejando suor, em cobras peçonhentas propagando-se no piso do avião. Rastejando por entre seus pés e entrando em suas roupas requintadas. Abocanhando seus glóbulos oculares, suas línguas e qualquer outra coisa que pudessem abocanhar.
- Nada me surpreende mais... - disse Haim acabrunhado.
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Ystería no Voo7300
Mystery / ThrillerOs investigadores, Emilly Christine e Arthur Nicolas, acostumados a confrontar entidades demoníacas, manifestações sobrenaturais e cultos obscuros, mergulham em uma série de acontecimentos perturbadores envolvendo o Aeroporto de Denver nos EUA, conh...