Eu estava andando pela estrada com dois amigos, a cidade estava de um lado e o fiorde logo abaixo. O sol estava se pondo, o céu e as nuvens ficaram vermelhas como sangue - eu parei me sentindo exausto e doente, e me inclinei sobre a cerca - havia sangue e línguas de fogo sobre o fiorde azul-escuro e a cidade - meus amigos passaram, e eu fiquei ali tremendo de ansiedade - Senti um grito infinito passando pela natureza; pareceu-me que ouvi o grito. Eu pintei esta imagem, pintei as nuvens como sangue real. A cor gritou. Isso se tornou O Grito.
"Edvard Munch"
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!
Ouviu-se um urro fino partindo do final da aeronave.
Erick disparou para o ponto em companhia de Haim. O guincho chegou a silenciar o ruído de cobra que vinha das paredes.
Yuma, Sunru e os outros passageiros se esticaram curiosos para olhar.
Se travava da inconveniente finlandesa. Encontrava-se pálida, suas mãos soterravam o tórax e um pequeno fio de sangue escorria de seu nariz.
- É melhor se apressar e ter uma ideia, doutora - disse o psicanalista ao mesmo tempo que pensava: se for para morrer, que morra calada.
Um calafrio percorreu o corpo de Alma, depois se transformou em um tremor. Ela começou a balançar em pequenos espasmos. Seus dentes se atingiram descontrolados como em um sapateado frenético.
Alma gaguejou com os dentes ainda batendo. Ela virou a cabeça e olhou para Erick e Haim, que lhe deram um olhar preocupado.
- Estou com medo. Estou com muito medo. Acabaram de morrer duas pessoas e serei a terceira! O efeito do café em Stella foi quase que imediato. Por que só sangrei um pouco pelo nariz?!
- Acho que... esse pingo no seu nariz é simplesmente o resultado de muita excitação... que, possivelmente, está reprimindo a ação narcótica da bebida...
- Será que não foi algum tipo de síndrome conversiva? Já vi alguns quadros como esse em alguns animais nervosos que apresentavam sintomas neurológicos sem uma causa orgânica, e... Stella parecia a mais alarmada de todos nós.
- Não, não... isso seria impossível... Nunca uma síndrome conversiva teve um efeito tão forte em uma pessoa.... Tem de ser envenenamento.
Haim ficou calado todo esse tempo. Era um leigo em psique e medicina.
- Esse ruído estranho me fez lembrar uma coisa, Erick.
- O que?
- Sabe, eu já estudei algumas cobras raras em viagens que fiz pelo Brasil e o Sul da África. Foi numa dessas viagens, pelo deserto de Karoo, que conheci a boomslang, uma serpente tão venenosa que fazia membros descuidados de uma tribo alucinar e sangrar até a morte, porém alguns médicos da região acreditavam que poderia ser algum tipo de patógeno desconhecido.
- E essa cobra pode estar aqui?! O patógeno pode estar com você?! - o psicanalista angustiado segurou o macacão de Alma.
- Sossegue! Me refiro se a água das torneiras é realmente potável! Ela não é armazenada em um reservatório interno na aeronave? Digamos que Stella foi ao banheiro, bebeu uma pequena dose do veneno e depois o complementou com a água que foi feito o café.
- Então quer dizer que essa criatura, de algum jeito, ainda pode estar no tanque e na fuselagem do avião?! - Erick deu as costas para Alma que continuou a gesticular preocupadíssima. - Besteira! Quem em primeiro lugar, beberia água da torneira?!
- Erick, pelo amor de Deus! Estou falando sério! Não sabemos o perigo que estamos levando para "Canaã". Para o mundo!
O psicanalista recordou da imagem que viu na cabine do piloto.
Nós, como pessoas, devemos saber primitivamente o que é real e o que não é. Mas às vezes esquecemos, e é nesse esquecer, junto da desconfiança e da inquietação, que ocorrem todas as paranoias.
Ele olhou por um instante para uma janela e jurou por um segundo ter visto figuras no céu avermelhadas. O rapaz espremeu os olhos e ficou indisposto a continuar escutando a finlandesa.
- O que está acontecendo aqui?... - sussurrou para si mesmo.
O que há de errado?! São as janelas pode ser isso. Mas como? Talvez a radiação refletida da lua esteja estimulando pulsos elétricos nos meus olhos. Aff! Chega de hipóteses mirabolantes.
Erick lembrou-se de uma das suas técnicas de psicanálise que usava em crianças traumatizadas e garotas em estágios de psicose crescente, para aferir suas aptidões em um livrete. Em um dia sereno, as levava para as colinas verdes, onde só existia uma cadeira no meio do nada. Lá se sentavam de costas para o garoto e descreviam o que enxergavam nas nuvens feito um tipo de teste de Rorschach só que mais natural. Daí veio o nome do exame, "teste do borrão atmosférico". Contudo, de vez em quando, Erick ainda sentia um frio na espinha quando umas das crianças dizia coisas como que o céu estava coberto de "cinzas dos vulcões de belzebu".
Já as moças, quantas foram internadas injustamente por se recusarem a sair com ele? O que tinha de errado? A classe, a cara, o corpo, o caráter?! Ou será que os quatros?!
Haim pôs a mão no ombro de Erick.
- Ei... você está bem?
Idiota! Quem estaria bem sabendo que vai morrer em instantes. Certo... pelo menos basta de tarefas, trabalhos... chega ser anestésico e libertador. Paz antes do fim...
Libertadora de mais!
- Não... as janelas... precisamos tapar as janelas...
- O que está dizendo? - o australiano se encorajou a questionar e Haim fez o mesmo.
- Não olhem! Saiam do caminho! - o psicanalista se estendeu por entre os bancos para alcançar as cortinas da janela.
O empurraram para um outro banco, que empurraram para outro e outro... Assim sucessivamente até Erick cair de barriga no chão.
Ele levantou rápido a cabeça de aversão e assombrou-se com o que refletiu.
O espaço, as nuvens se tornaram uma brasa escarlate mais uma vez. Primeiro em uma depois a outra, em sincronia com os estrondos.
Tinha a ilusão que penetravam sua alma e o castigava pela sua perversão repugnante.
- Vocês também estão vendo isso? - disse ele ainda no solo. - Aposto que não...
E ele estava certo, os vinte e nove estudantes restantes daquele corredor, pareciam hipnotizados pelas janelas. Janelas que uma hora foram testemunhas de suas consolações do passado.
O que sentir quando se vê cada segundo de sua vida, cada rosto, do mais insignificante que se vira na rua, até os mais íntimos? De um ponto branco, mil, dez mil imagens, cada segundo em frações de segundo acelerados. Isso é um fenômeno conhecido como morte, o que ainda não chegara.
Sunru encontrava-se na mesma poltrona quando conheceu Stella, porém agora, abraçada ao paraquedas, concentrava-se sem piscar na abertura. Íris minúsculas, ligamentos escarlate e dentes visivelmente alinhados, eram compartilhados por todos.
Aquela coisa parecia outra realidade chocada com o avião. Os profundos passadiços do Internato, enevoados de anil. No final do corredor, quase insignificante, os amigos dela Ela tocou o vidro e as íris suspenderam-se feito um clímax.
O asiático latejou os músculos dos pés, contudo dominou-se por um desejo de admirar a janela e assistiu a cena de um drama ou desenho oriental.
As folhas de sakura rodopiavam ao vento num visual nacarado. Dois adolescentes minúsculos ao fundo corriam. Eram Noh e Yuma, que nem em suas fantasias.
O casal começou a massagear o rosto um do outro de uma maneira estranha e, em seguida, a coreana cochichou algo em seu ouvido coberto pela palma linear.
A face do nipônico desarranjou-se em choro e, repentinamente, como Daruma, o par arrancou a pálpebra um do outro num puxão, transformando as faces em algo vazio, além da compreensão de ocidental e oriental.
Um ardor tomou conta do rosto do Yuma real, o qual se deu conta de que havia feito o mesmo.
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Ystería no Voo7300
Mystery / ThrillerOs investigadores, Emilly Christine e Arthur Nicolas, acostumados a confrontar entidades demoníacas, manifestações sobrenaturais e cultos obscuros, mergulham em uma série de acontecimentos perturbadores envolvendo o Aeroporto de Denver nos EUA, conh...