CAPÍTULO 19

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  — ... E então, depois disso, comecei a receber ameaças por todos os meio que imaginar. Me chamando de todo tipo de palavra que terminava em "fóbico".
  — Pelo visto é proibido fazer as pessoas pensarem um pouco...
  — Na verdade, querendo ou não, elas só estão se protegendo em suas próprias ideologias ineficazes...
  — Parecemos que gostam quando um problema não pode ser resolvido por elas. Se dão ao luxo de relaxar...
  Marilyn estava empurrando o carrinho com bebidas quando recebeu a vibração silenciosa do telefonema de Cole. Pôs então a ir para trás da cortina vermelha, refletida ao fundo da aeronave. Estalou a maçaneta do banheiro.
  Stella a seguiu incomumente, extravasando para Erick que estava a sentir algumas dores desde que chegou no campo de aviação.
  Surgindo da cortina, colheu um copo  do carrinho próximo e o colocou na porta junto do ouvido, feito num episódio das Supergatas. Mas, o que ouviu a deixou atordoada, invés de cômica.
  Dentro do banheiro, encontrava-se um vaso sanitário, uma pia,  um espelho acima, um sabonete líquido, papel-toalha ao lado e, por fim, uma mulher angustiada.
  — Alô? — atendeu a aeromoça.
  — Você sabe quem é! — retrucou furioso.
  — Cole, como estão indo as coisas por aí?! — gaguejou de maneira que seu brilho otimista sumia. — Aqui, a cada segundo parece que piora.
  Marilyn com o nariz vedado, teve que afastar o telefone da orelha para não feri-lá na bronca.
  — E você acha que não sei?! A nossa conexão pode entrar em pane em qualquer minuto. Acho que é a tempestade ou algum tipo de pulso eletromagnético, igual o que fez aquilo com Diana.
  Nesse momento, a voz dele ficou embaralhada por um ranger irritante. Possuía também um atraso e às vezes uma pressa adequada para uma creepypasta.
  Um arrepio ocupou a aeromoça. Seus lábios se espaçaram microscópicamente.
  — O pulso fez o quê com quem? — Ela abruptamente criou fantasias ordinárias com a palavra "pulso". — Por favor Cole, me diga o que aconteceu?!
  — Você não sabe, né?... — a pressa repetidamente. — Ela está morta.
  A informação veio súbita para Marilyn. Se existia ainda algum otimismo nela, morreu neste momento. Ela deixou o aparelho cair, criando um chiado tortuoso do outro lado da linha.
  — Marilyn! Ainda está aí?!
  A aeromoça catou o telefone desolada e disse buscando sensatez:
  — Eu preciso de mais tempo para criar coragem.
  — Certo, já se passou quase uma hora. Dê seus pulos — interferência. — Ao menos, já conseguiu uma oportunidade para usar o incentivo?
  — Estou em dúvida entre duas garotas. Mas ambas parecem anoréxicas.
  — Se tem alguém que não é anoréxico é a administração, que vai comer nossos rins se não fizer isso logo. Sabe, você tem o meu respeito.
  — Obrigada… mas respeito não vale membros. Vou dar meus pulos, Mas, agora, por favor, não me ligue mais.
  Marilyn desligou o telefone, o que fez Stella voltar ao seu lugar espantada. Preciso contar a eles. Eles não vão acreditar em você. Pensou.
  A comissária guardou o telefone no bolso e olhou para o espelho enfastiada. Abriu a torneira abaixo do espelho e deixou a água acumular-se na pia. Ela apreciou o fluido subindo, até alcançar a beirada. Assim sendo, enfiou a cabeça no vaso sanitário.
  Gritava. Surgiam bolhas. Balançava as pernas igual balançava as mãos, sorrindo enquanto perguntava e servia.
  Todos os dias arrumava-se, dava três passos para trás no espelho (Marilyn acreditava que sua alta autoestima era devido a ela efetuar três pulos para longe do espelho), e entregava o maior sorriso que seu rosto poderia oferecer sem rasgar-se. O maior sorriso de Denver.
  Perguntava e servia. Entrava dia e saía dia, era a mesma coisa, empurrava o carrinho até o passageiro de lombo invertido na direção dela.
Eu só queria me proteger… E os meus colegas ainda riam às minhas custas…
  Puxou o crânio do líquido com a densidade a dificultando. Agachou-se contra a parede do banheiro minúsculo e ficou lá, em posição fetal. O rosto lastimoso via a água da pia chegar nela.
  Um relógio preso em uma rotina cíclica, de novo e de novo em um fluxo previsível sem emoção, suspenso apenas pelo desafrouxar de alguns parafusos.
  Levantou-se depois de uns dois minutos para se secar com papel higiênico, especialmente o rosto evidentemente.
  Ela deu outro leve sorriso ao ver a descarga escorregando em sentido anti-horário.
  … Tenho que servir…
  Bateu a porta do banheiro para fora. O estalo mais uma vez.
  No saimento, Marilyn notou, desconfiada, que o copo no carrinho estava à direita e não à esquerda. Na dianteira, ela ouvia vários sussurros, não muito diferentes do que ela estava escutando antes de ir, mas agora sob a influência de um pensamento ciumento. Descobriram?
  Ela segurou os dois lados do véu e, transpirando dores de cabeça, estirou, revelando-se na cabine completamente comum.

Ystería no Voo7300Onde histórias criam vida. Descubra agora