Ai de mim um pecador, ai de mim em meu desespero. Oh eu, em minha imundície... cabe a vocês, nossos mestres, iluminar a nós que nos perdemos na escuridão do orgulho, que estamos atolados na vaidade pecaminosa, na gula e intemperança. E eu, um cão fedorento, a quem posso ensinar, o que posso pregar e com o que posso esclarecer os outros? Eu mesmo sempre chafurdando em embriaguez, fornicação, adultério, sujeira, assassinatos, rapina, espoliação, ódio e todos os tipos de maldades.
"Ivan, o Terrível"O corpo de Erick estava molenga. Seus olhos abriam como se um covil luminoso fosse cavado dentro dele. Segurou-se pelos fracos braços e forçou as sombrancelhas.
Ai. Minha cabeça dói. Não lembro de nada... Só que... tinha uma garota de moletom azul correndo com um dardo na mão... Outra se curvou e capotou eu acho. Também tinha aquele garoto voando com outro dardo...
Ele elevou a cabeça e, ainda esfregando-a, viu que ainda existiam trevas do lado de fora.
Nessa subida vertiginosa e pesada, seu crânio sentiu algo tocar na nuca. Virou-se, e deu de frente com toda uma grandiosidade de parar o coração.
Alma enforcada não mais pelo fio do céu, mas por uma corda visivelmente limitada e grossa presa ao teto.
Erick teve que agarrar-se firme no chão para não cair novamente. O susto tornou-se quase rotineiro quando olhou para todos os lados e só o que mirava eram adolescentes. Adolescentes com facas, garfos ou tesouras presas em seus peitos, pescoços ou ainda em suas cabeças, as quais permaneciam preguiçosas. Mãos sem valor algum. Sangue fresco em feridas.
Todavia não conseguia distinguir os vivos dos mortos.
Todos parecem tão bem... Que momento é esse? 12h?... Só 12h? Oh, céus, eu também enlouqueci... ela estava me observando... era Alma?...
A coisa agravou-se quando a visão turva de lágrimas procurava o banco de Stella, e a frieza espalhou-se por seus membros no momento que notou que a garota não estava mais lá.
Tudo o que restou era uma longa poça de sangue, a qual fazia uma linha até o final do corredor. Aquilo, era ela, Stella se esvaziou em sangue e o avião a menstruou por todo o céu.
Apenas sua gravata, blazer e saia marrom sobraram na poltrona.
De joelhos, Erick tomou as roupas da moça nos braços e as abraçou tão forte, que marcas carmin ficaram em sua boca. Sentindo a suavidade, suas janelas ficaram com rupturas rubras de desespero e choro mesclados, a qual apontavam para um absoluto nada em busca de redenção.Sua angústia foi arrancada pelo escutar de um som corrente através da pretidão.
Levantou-se sem direcionar o pescoço para além das cortinas vermelhas e caminhou pondo as mãos nos bancos dos quais Erick queria que estivessem apenas dormindo.
Levantou o véu, como se o que estivesse do outro lado não pudesse ser pior do que ali.
Estava vazio, assim sendo, abriu a porta do lavatório, junto da mesma perspectiva.
Não mais afetou-se ao esbarrar em Marilyn, asfixiada com a cabeça enfiada na privada. Seus membros encontravam-se mórbidos e contraídos ao avesso de forma não natural.
Faltam 10 minutos para às 12h... Ainda faltam 10 minutos para às 12h. O relógio tinha parado... Não compreendo... não, não compreendo... isso não era para ocorrer e está acontecendo... Que momento é esse? Oh, céus, faltam 10 minutos para às 12h ou 10 anos para 100?
O psicanalista puxou a aeromoça e exprimiu uma bela olhada no seu rosto pálido, impregnado e pestilento. Deitou o cadáver ao lado da pia sem culto, como se seu único objetivo fosse encontrar a fonte do barulho.
E ele vinha do vaso. Erick deu uma descarga e permaneceu concentrado nos movimentos horários do fluido girando. Em seguida, saiu de volta à cabine de passageiros.
Ao mesmo tempo, uma figura similar agitou as cortinas vinda da cabine de controle.
Era Sunru, encharcada de água, o rosto escondido pelos pés pendurados de Alma. Segurava a corda do paraquedas nas palmas cerradas. Ela o fitou triste, ele transmitiu na mesma moeda.
— Você sabia que eu matei Noh, né Erick? — entonou a pergunta. — Ela parecia uma ótima amiga, mas...
— ... Quando Haim levantou seu braço por alguns segundos eu notei sua respiração rápida... pálpebras convulsivas, logo cheguei a conclusão de que você estava acordada do desmaio a muito mais tempo do que demonstrou...
— Mas como eu poderia ter pego a arma do crime?...
— ... Realmente dei um tiro no pé quando imaginei que isso importasse, posto que, na verdade, você era obviamente uma compulsiva, indo ao banheiro com a única intenção de roubar um apetrecho no carrinho — Erick guindou os braços como um apresentador. — E então voilà, a asiática morre por uma garfada no pescoço e em seguida você acorda no mesmo banco com três rasgos no bolso da sua saia e uma dormência no pulso, resultado do torcer do punho no garfo na aleatoriedade da escuridão...
Sunru silenciou-se por alguns segundos e logo após tragou os lábios.
— Lan, parabéns, mas eu não lembro de nada disso...
Instantaneamente o garoto sentiu todos os músculos do seu corpo queimarem de ira.
Erick lutou para remover uma faca de jantar, presa no ombro da dinamarquesa. Ele segurou o cabo com as duas mãos e tentou mover a arma. O corpo de Tilde foi de um lado para o outro após o gesto.
Seu sangue escorreu sobre seu corpo. A faca parecia lhe falar: tremer não a fará ressuscitar. Desista. Não vê que estou preso nela e dói?
Ainda assim, Erick empunhou a navalha vacilante na direção da garota.
Ambos correram na direção do outro, junto das armas em punho.
Erick tentou penetrar a barriga de Sunru, porém percebeu que ela estava segurando a lâmina da pequena espada, protegida de qualquer dor pelas amarras nas mãos.
Logo se encontraram nada mais do que fitando a alma corrompida um do outro. A turca libertou a faca das palmas envoltas pelas cordas e o garoto fez exatamente igual deixando-a cair, produzindo um som metálico ecoando no solo.
Repentinamente, os dois abraçaram-se deitando as orelhas no ombro um do outro ao mesmo tempo que rodavam lentamente ao esfregar seus crânios
Eles estavam juntos nitidamente diante de uma golfada podre e vários cadáveres emporcalhados de sangue, porém aquilo sequer era relevante.
Erick estava com a voz rouca, parecida com a de uma decrépita, entretanto conseguia falar algumas palavras de consolo para Sunru, que estava com a pele a se descascar como as escamas de um peixe.
— Pronto... pronto... — a relação era como entrelaçar-se com um emaranhado de cacos de vidro em formato humano. — Eles foram excelentes colegas, devemos nos encher de honras por eles... Grave isso Sunru, não se destrói a I.V.O.! Existirá outros. Um dia surgiram outros! Agora precisamos partir, rumo a "Canaã". Um local exclusivamente nosso. A nossa nova casa. Uma casa que ninguém irá nos tirar.
Todo mundo está interligado, mas a saudade não tem cura.
O avião continuou escavando a névoa noturna sem controle.
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Ystería no Voo7300
Mystery / ThrillerOs investigadores, Emilly Christine e Arthur Nicolas, acostumados a confrontar entidades demoníacas, manifestações sobrenaturais e cultos obscuros, mergulham em uma série de acontecimentos perturbadores envolvendo o Aeroporto de Denver nos EUA, conh...