CAPÍTULO 28

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  No aeroporto, Nicolas e Emilly situavam-se na área nordeste do campo: em uma placa sinalizando para a torre. Formaram uma tocaia no portão que dava no campanário do diabo, protegida por dois guardiões na abertura salvos da garoa lá fora devido aos beirais do edifício.
  Quando os cravavam, os investigadores tiravam a cabeça do horizonte de vista, um tanto grudados na parede. Emilly possuía dois guarda-chuvas abertos nas mãos, comprados por um preço um tanto favorável no duty-free.
  — Nicolas, devemos mesmo confiar na pista de um deles?
  — Você sabe, no mundo do crime, para alcançar alguém grande é sempre por meio do indivíduo menos importante. Um peixe pequeno.
  — Entendo, ele realmente não parecia estar numa posição de muito destaque. Será que era um funcionário responsável pela documentação? Talvez desempenhou a mesma função por dez meses, então tudo o que possui está ligado a ela — correlacionou os rostos. — Parece você.
  — Dá pra parar de falar da minha situação financeira e descobrir um jeito de entrar lá!
  — Que bom que falou. Eu estava elaborando um plano simples de trinta e cinco passos no caminho para cá — deu uns cliques no smartphone. — Primeiro, conseguimos um emprego aqui.  Depois, precisaremos de cerca de duas horas para conseguirmos confiança suficiente para nos deixarem entrar… — Emily continuava discursando. Sacudia os braços endurecidos e planos.
  Enquanto isso, Nicolas, junto de um rosto fechado, pegou uma das sombrinhas e retirou-se do terminal, embaixo de um chuvisco, que parecia ter diminuído. Ainda sim, o barulho das rajadas se chocando com o concreto era um incômodo, somado à escuridão das onze e vinte. Sua calça era constantemente molhada pelos respingos. Transportava consigo a identificação de Tyler.
  Fungou. Nossa, cheiro de asfalto molhado é terrível!
  O campanário do diabo à frente, encontrava-se a uma distância similar a de cinco salas de aula.
  Assim que ele saiu, a criminologista notou e ficou na borda do portão carregada de estresse.
  Volta aqui! Será que eu deveria ir também?
  Ele levantou o braço direito e o vacilou, como uma saudação. Carregava um sorriso no rosto que o fazia nem ao menos parecer o garoto fechado de lá atrás.
  Um raio pode me atingir. Mas se eu sobreviver, vou passar meses sem a Emilly.
  O sorriso ficou cada vez mais sincero, até quando os vigias saíram de suas posturas para o estranhar.
  — Garoto! Não pode ficar aqui! — um dos guardiões o alertou cauteloso.
  Ele aproximou-se até onde o beiral do telhado que concebia uma proteção da chuva para ele e os guardiões.
  — Está uma bela noite. Não é, senhores?
  Os seguranças não responderam de imediato. Ficaram o encarando fechados. Nicolas, agora sorria de nervoso.
  — Veio entregar algo? — um dos guardiões menos retraído, decidiu perguntar.
  — Justamente! Estão vendo o símbolo no crachá?! — ele apontou para o crachá no peito pouco legível. — Aquela no portão é minha assistente — o rapaz indicou com o dedo para Emilly, que se recolheu. — Ela é meio tímida e cá entre nós suspeita. Eu Ficaria de olho nela.
  Os capangas tornaram-se surpresos e fizeram um sinal de sim com a cabeça.
  Com essa segurança, não me surpreende que vocês sejam tão incriminados.
  — Dedique-se bastante pela nossa administração — o segurança mais gentil riu. — Chaire Ystería.
  O criptozoologista assemelhava-se a um gago enquanto adentrava a porta de vidro.
  — …Chaire Ystería… — falou sem certeza e entendimento ao mesmo tempo em que esforçava-se para chamar Emily com as palmas rebaixadas, mas ela a essa distância aparentava fazer um não com a testa.
  Ele entortou as íris e moveu-se ainda mais para dentro do rolo pouco claro, com apenas um elevador no final. Nicolas arremessou o guarda-chuva em qualquer lugar ecoando.
  Os dois segmentos do elevador abriram-se em companhia de um sino, como se estivesse chamando por ele, o qual entrou e realizou uma volta para ficar equidistante da porta de entrada.
  Um fascínio. O paralelo imitava várias pinturas infinitas, uma dentro da outra. De trás da portela, podia se ver o contorno dos dois guardiões de frente para o chuvisco gritando vazios.  Pelo menos, o designer daqui é perfeito…
  O sino soou de novo.
  Os segmentos se fecharam.
  Nicolas emergiu.
  Lá fora, os dois seguranças falavam num celular:
  — Afirmativo, ele subiu, senhor…

Ystería no Voo7300Onde histórias criam vida. Descubra agora