CAPÍTULO 35

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  Cole pôs ligeiro o punho no bolso e contornou-se para o portal.
  As portas se abriram.
  Um tiro de pistola, ensurdecedor, explodiu em direção ao controlador de tráfego. Bodega! Nicolas se acocou depressa deixando o impresso dos estudantes voar por uma janela, entretanto, a bala ricocheteou em um dos PCs com a mulher preto e branco cantando, que num segundo depois transformou-se em longas faíscas que doíam as miras. O instrumental cessou.
  Seu alvo jogou-se para uma mesa e a virou, com intenção de proteger-se de quem quer que fosse a pessoa no elevador.
  Tratava-se do guardião balofo da entrada, o qual estava com o terno preto meio amassado de um lado e uma expressão de choro. Atrás dele mantinha-se Emily. Ela possivelmente foi arremesada na chuva durante uma briga, já que seus cabelos estavam discretamente desatado e úmidos, e seus cotovelos, vermelhos. Empunhava uma TaurusM82 na altura do pescoço do homem, e por vez, roçava o cano metálico na cabeça do subordinado.
  Ela pode se achar mediana em lógica, mas se mostrou bem confiante nas aulas de caratê. Nicolas prestou toda a atenção na companheira e despachou-se feliz na direção dela, ao mesmo tempo que os outros trabalhadores ao redor procuravam se defender.
  Os três seguranças, os quais ali se encontravam, puxaram suas armas e as apontaram em um anel de proteção, para os, também agora, três seres.
  Emparelhados e radiantes em volta do segurança trêmulo, os detetives deram o primeiro passo para longe do elevador.
  Cole apareceu por cima da mesa voltada e dirigiu o tubo da sua Smith & Wesson M27 para os invasores e vociferou para seus próprios capangas:
  — Abaixem suas armas! Eu tenho que fazer isso.
  Sem questionar, eles colocaram os revólveres no nível do bolso e fitaram, impetuosos, os agressores.
  — Olha que legal, temos um refém! — disse Nicolas contente.
  Cole bravejou tremendo o punho:
  — Droga! Isso é um uso desproporcional de força contra nossos direitos humanos!
  Emily ajustou o gatilho junto das palmas escarnecidas.
  — Pouco me importa seus direitos! Só quero que se entregue! Há uma indenização não respondida contra o aeroporto por danos à bagagens! — jogou o polegar para trás. — Vem vindo equipes armadas da I.V.O. e eles odiariam não ter ninguém para bater quando chegassem.
  — Estava torcendo para que dissesse isso. É uma sensação tão excitante saber que serei surrado. Mas há outras maneiras de se conseguir ystería.
  Cole apertou o gatilho. Outra vez o odioso som. Acertara o braço do refém. O subordinado esbugalhou os olhos e tremeu a mandíbula de horror. Olhou para o ferimento globular gotejando sangue.
  Os dois detetives abriram suas cavidades bucais em transpiração.
  — DESGRAÇADO!
  Cole pôs se ir para trás enquanto movia a carteira com ele. Aparentava querer chegar no quadro de comandos.
  — Veja a ystería piorar. Posso ser abatido pela culpa, por fazer um homem sofrer até a morte. Posso ter medo de morrer nas mãos de agentes. Posso mandar o mundo para o tártaro. Só os órgãos não vitais! Vamos lá Cole, você consegue! Só os vitais!
  O barulho da arma o tirou da sua angústia. Emily tentou atingir o controlador de tráfego, porém, por ricochete ou erro, o projétil abateu um dos guardiões no fundão. Os  dois que sobraram nem se mexeram, mesmo com a queda de seu colega. Continuaram atirando nas áreas não vitais do rechonchudo. Ombros por amostra e balbúrdia.
  Mais uma vez os ruídos tão abomináveis, e lá se vão os glúteos, tão invejáveis.
  Um guardião após o outro se despede.
  Resta apenas um, enquanto a dor procede.
  No abdômen agora também se vai,
  O remanescente já não mais ficará.
  É um tormento que se perpetua, enquanto a fuzilaria continua.
  Nicolas e Emily se recolheram com dificuldade detrás do indivíduo que nem mais parecia uma pessoa. Gargalhava internamente e suas íris atingiram o ponto máximo do olho como se estivesse no auge do prazer. Não é prazer, é ystería. Imaginou o detetive, começando verdadeiramente a compreender o termo tão usado.
  Agora só se podia admirar a brancura das janelas.
  Cole finalmente alcançou o painel nesse rodeio de carregar, atirar e puxar a mesa.
  Ele alimentou o gatilho com a última bala do tambor, apontou com um embaraço de levar um tiro no olho, e lançou o projétil na oposição.
  Alvejou, certeiro, os testículos do masoquista (acho que todos aqui eram). Ele tombou de joelho, depois também deixou a parte superior do corpo ruir. Parou com o traseiro empinado, o tronco cheio de feridas e uma zombaria grossa. Uma perversa zombaria.
  O controlador de tráfego finalmente ergueu-se da retaguarda da mesa.
  Emily vislumbrou rapidamente a robustez do homem inerte e dirigiu o revólver para Cole. Os dois estavam precisamente em paralelo. Encararam-se por um segundo e espremeram o gatilho. Nenhum deles caiu. Acabaram-se as balas e só o que restou foi um tique inconveniente.
  Nicolas e Emily, pularam por cima do capanga morto e lançaram-se, com todos os músculos inflamados, sobre os operários.
  Os funcionários indecentes, mesmo em desvantagem, iriam lutar com fúria e desespero.
  A torre tremeu com o impacto dos golpes, as vozes ecoavam de desespero e roupas íntimas voavam.
  Emily aplicou, respectivamente, um soco no queixo, um chute frontal no estômago e um gancho de direita no corpo de três empregados, os quais o arremessaram para longe, em seguida, os cartuchos usados caíram de seu revólver em câmera lenta enquanto recarregava. Apontou, e alvejou o trio os implementando uma coreografia tétrica ao tentar se preservar, mas acabarem caindo pela janela.
  Depois, efetuou mais três disparos em outro sentido e, na mesma proporção, outra tríade de trabalhadores respingou sangue em Nicolas.
  Quatro seguranças que pareciam estar só esperando, chegaram do elevador, porém longo caíram em uma fileira, junto de um buraco rubro na testa.
  Para finalizar, Emily executou com maestria calculada, um chute circular na cabeça e uma jogada de queda em duas mulheres solitárias, isso antes de descarregar igualmente dois projéteis em seus crânios, os quais borrifaram rufo novamente no detetive já zangado.
  Após a batalha, um por um, dos que restaram, saltaram pelas janelas do campanário, alguns carregando cadáveres de seus entes queridos. A dupla parecia entender a loucura perturbadora.
  Distraídos, o controlador de tráfego aproveitou para disparar vigorosamente a arma, feito um bumerangue, na direção da testa de Emily, a qual posicionou firme as pernas no chão e tombou as costas para trás igual no limbo dance que costuma fazer no departamento.
  Enquanto a detetive faz essa reminiscência, Nicolas persistiu sem desvios.
  Cole fitou ele se aproximando e, com o punho do outro lado, espalhou a mão sobre o painel parecendo uma criança que acabou de entrar em casa suado, em busca de água.
  — Parem! Eu tenho que—
  Antes que pudesse terminar a frase, o investigador abateu o rosto do sujeito com a perna, o qual o fez ser atirado para longe aturdido.
  O que ele quis dizer com isso?! O garoto assoprou as mãos em ardência.
  A cabeça de ambos doía como se houvesse um coração batendo dentro delas.
  Porcaria! A maioria espera o vilão terminar de falar. Cole esfregou as bochechas ligeiro e levantou-se, salientando sua altura.
  — Seu triunfo é agredir um funcionário?!
  O detetive não ficou parado, partiu para cima dele com o mesmo golpe, só que dessa vez, Cole segurou o membro de Nicolas no ar, em companhia de um rosto cadavérico. Essa situação me dá tantas ideias. Pensou.
   Começou a torcer a perna do criptozoologista.
  — Vai sentir apenas por um instante…
  Emily voou, com os punhos engatilhando um PC quebrado na direção dele. Faltando apenas alguns segundos para o sucesso, Cole desistiu de girar o membro do detetive e o atirou na colega. Os dois tentando se equilibrar, mas capotaram.
  Agora, o fanático perseguia o deck de observação, todavia foi derrubado pelos investigadores, os quais agarraram seus joelhos. Ele soltou um dos pés e surrou o rosto de Emily que ficou vermelha de desprezo e dor. Seus olhos fitaram a janela arrebentada da varanda.
  Cole ergueu-se com inconveniências e seus inimigos também. Ele alcançou a abertura da janela e virou-se para os oponentes.
  Emily escorregou e berrou:
  — Não ouse pular…
  O homem a repeliu com ar de razão.
  — Tartufa! A pouco queria atirar em mim e agora vem me falar para não pular?!
  — É que seria mais fácil elaborar uma legítima defesa com um homem baleado…
  Cole pôs a perna para cima fingindo pular e os investigadores começaram a gritar, contudo seus bramidos foram sufocados pelas considerações do suicida.
  — Oh, está quase dando meia-noite... Sinceramente, eu não esperava que o meu reality fosse acabar assim. É sem nenhuma lógica, esse aeroporto não foi feito em um dia, mas acabará em uma noite…
  Ele voltou-se para o chão que o estava chamando, abriu os braços formando um T e desabou no formato de um meio-arco.
  O par de observadores puseram as palmas na boca de choque.
Até que a detetive paralisou o pavor e a melancolia para lembrar de um detalhe dedutivo.
  — Espera… Essa torre não tem nem doze metros de altura…
  Eles se encararam por três segundos e, logo após, viraram seus rostos para a janela, a qual emitia uma friagem.
  Os funcionários de Denver que outrora pularam pela janela, encontravam-se em torno da torre com traumatismos e lesões hemorrágicas. Estirados, arranhando-se e se arrastando para sair do centro da torre como lombrigas.
  A chuva estava enfraquecida.
  Cole usou um dos funcionários como amortecedor de queda, deixando apenas de desvantagem, um arrastão de início. Logo engatinhava. Depois, começou a mancar excessivamente na perna direita.
  — Não vai longe —  disse Emily secamente.
  Nicolas apontou para o caminho do controlador, o qual acabava no local da queda de Diana.
  — Acho que ele não pretende…
  Emily fez uma cruz com os braços e saltou para dentro, deixando o investigador para trás com desleixo.
  Ele também entrou quando percebeu que a colega não voltaria mais lá.
  A detetive posicionou as mãos na cintura e desfilou entediada pelo campanário, observando o cadáver frio de Diana e uns outros cinco presuntos emporcalhando o chão com suas poças corais.
  Nicolas manteve-se na mesma pose, só que contrário aos movimentos da companheira. Logo após, a criminologista levou as mãos curiosas, para as velas, em especial para a maior, a qual não estava acesa.
  Então… vamos fechar o crime como assassinato ritualístico intra-grupo em cerimônia a uma aeronave. Normal… Pensou a garota. Cerimônia… cerimônia… mesmo assim ainda precisariam controlar e auxiliar os voos…
  Automaticamente, seguindo uma razão preocupante, Emily surgiu olhando cada um dos computadores. Devagar, como se desconfiasse da própria lógica, ela percebeu que as setas dos voos haviam sumido.
  Nicolas estava quase compreendendo o que a garota queria dizer.
  A investigadora instalou-se num dos PCs, aproximou a cabeça e franziu.
  — Não tá correto…
  O detetive enrugou o rosto.
  — O quê?
  — O DIABO DO AVIÃO ESTÁ CAINDO! — a moça urrou enquanto rodava a tela no sentido do garoto.
  O visor exibia o radar secundário, em que informações sobre uma aeronave estavam em carmesim, como altitude, velocidade e direção. Existia um ícone de um avião sobre um fundo de um mapa ocupado por localizações. Uma seta branca estabelecia-se até o Aeroporto Internacional de Denver e logo após sumia.
  Ele separou os lábios e despachou-se para a janela novamente, onde procurava algo de diferente no céu do horizonte noturno. Não havia nada. Calmo demais!...
  Ele regressou para a parceira. Sua voz indicava ansiedade.
  — Temos quantos minutos?
  — Eu não sei! A aeronave está a 9.000! 8.000 pés!
  — 8.000 pés… mais ou menos 2.400 metros… está quase dando meia-noite… — Nicolas olhou o relógio no pulso. 11:51PM. — Está despencando numa decadência de 30 metros, o controlador nos deu a dica!
  Emilly, tentando fazer as contas, clamou:
  — Meu Deus! Rápido! Pegue tudo o que puder carregar.
  Nicolas obedeceu a ordem e num segundo estavam percorrendo o lugar, colhendo papéis, um pen-drive, fotos, imagens, até velas. Buscavam excitados qualquer bolso ainda vago.
  A detetive o prendeu pelo membro superior e falou moralmente:
  — Não está pensando em bancar um anti-herói e deixar todas aquelas pessoas morrerem, né?
  O que eu poderia fazer?!
  — Emily, entre certo e errado escolha errado! — Nicolas puxou a amiga relutante para o elevador e ainda com o braço dela preso, clicou num botão para descer.
  Durante a batida em retirada, Emily sacou o braço de volta, quase que arrancando o outro junto. A dupla estava incompatível.
  O avião poderia bater com nós aqui! Eu não poderia mais olhar para ele ou para mim sabendo que não fizemos nada para impedir… talvez até acarretamos
  Contudo, logo eles perceberam a situação em que se encontravam e se sentiram envergonhados.
  Nicolas foi o primeiro a reconhecer.
  — Obrigado por me dar cobertura… — Ele executou uma curtida com o polegar no nível da face.
  Emily experimentou um calor no pescoço, não era do costume dele agradecer. Ainda assim, fez uma cara de convencida muito mal feita.
  — Não tem de quê… — em seguida respondeu a curtida junta do dedo empurrando a bochecha esquerda de cima para baixo, estampando a parte interna da pálpebra.
  Outro hábito estranho dos dois. Adoravam fazer caretas um para o outro.
  Nesse clima de simpatia, o par se surpreendeu com o sininho do elevador que os lembrou do contexto.
  Juntos se deslocaram velozmente pelo vestíbulo de vitrines, o qual, uma hora eram saudosas, outras eram intimidantes na companhia dos contornos e sombras.
  Não houve tempo nem de lembrar de pegar os guarda-chuvas. O importante é que haviam escapado do campanário do diabo.
  A chuva os impregnava por entre os seres quebrados: rompidos nos tendões e nos músculos. Um dos seguranças anteriores jazia aos pés dos dois e um ponto vermelho no além distante, produzia olhos arregalados e dentes vedados de desespero.
  11:53PM. Cole havia chegado ao exato lugar onde Diana se arremessara, o encarou ligeiramente pavoroso e simplesmente se deitou.
  Emily conservou-se lá parada, fixando no consciente a imagem daquelas pessoas tentando fugir e de Cole ainda sentado na cena do crime gritando.
  O cheiro ainda continua terrível! Nicolas, que foi higienizado do sangue, a acordou, como se a puxasse de volta para a realidade. Ele, outra vez, pegou na mão dela, contudo agora sentiam-se mais seguros. Os investigadores correram juntos. Um atrás do outro, ligados por seus membros, dando passos largos.
  Emily começou a sorrir eufóricamente. Deixara as figuras miseráveis cada vez mais pequenas, porém seu sofrimento era igual, não importava a distância.
  Ela está molhada… O detetive foi contagiado pelo sorriso da moça. Ignoraram o fato de estar correndo por suas vidas. A ligação entre os dois ficou maior quando a investigadora agarrou o outro punho do colega. Saltaram em poças, as quais iam e voltavam em seus pés. Fecharam os olhos e brincaram de ciranda feito na infância junto dos amigos. Não podiam ver, mas sabiam que as estrelinhas voltaram a ornamentar a lua de cristal, que me faz sonhar.
  Tudo estava um mar de rosas, somente para que um escorregão as cortasse.
  Emilly sentiu uma dor súbita e ajoelhou-se com dificuldade. A perna havia sido lesionada após escorregar numa das poças d'água.
  Nicolas quase escorregou com ela.
  — Você está bem?! Consegue levantar?!
  Emilly tentava achar a voz do investigador no meio de todo aquele sofrimento.
  — Acho que rompi um ligamento!
  — Venha! Por favor, não podemos parar! — ambos colocaram os braços na nuca um do outro e tentaram fugir juntos. Por um segundo ele assustou-se lembrando de Cole.

  11:57PM. Dentro desse céu surrealista, a luz vermelha tomou formato. Parecia uma voo igual a qualquer outro, menos pelo fato de que estava literalmente indo na direção do aeroporto, mais especificamente do campanário.
  Num esforço dobrado, um jogou o outro para fora da redoma de chuva. Na tontura a criminalista desabou nos braços de Nicolas. Continuaram sorrindo em companhia da bagunça. O passo ficou mais lento com um tentando derrubar o outro. Cansaram e frearam compulsivamente. Emilly deitou-se no chão de corpo estirado e latejando de agonia e deleite. O garoto pôs as mãos nos joelhos afim de pegar fôlego e em seguida levantou um prazer esquisito para o cosmos: para a aeronave em sicronia com a face psicótica.
  — Eu sempre quis fazer isso! — falou ele exausto e ondulando o rosto.
  — Correr na chuva? — Ela pareceu ter perdido a moral de seriedade que todo mundo via. — Ou fugir de uma explosão?
  Nicolas gargalhou por um tempo antes de dar uma última baforada para o aeroporto.
  — É, não é todo dia que se vê creches estourando…

  11:59PM. A dupla ficou a uma distância segura para o espetáculo.
  A lembrança do controlador também recordou o corpo de Diana abandonado, o corpo do homem privado de balas, as gárgulas barrocas, os murais, até o metrô e de todos os novos órfãos e órfãs criados numa noite.
  Aqueles pontinhos mais pareciam manequins nus deitados de barriga..

  00:00. Os jovens colocaram levemente as mãos nas orelhas ao enxergar a cena surreal. A quietude havia cessado.
  O barulho da coisa se chocando era feito o de um vulcão causando pânico e desespero mesmo ao longe. Fogo alimentado pelo combustível do avião se espalhava para todas as direções em forma de labaredas do tamanho do sol.
  Computadores, painéis, cadeiras, carcaças, sumiram na fogueira ou foram desintegrados e lançados para todos distinguirem. A extremidade que restou da torre de controle caiu igual uma engrenagem esmagando tudo em seu caminho. Madeira, metal, pessoas, outras engrenagens.
  A asa esquerda se disparou no estouro no sentido de um hangar, onde iniciou um incêndio na lona frágil que cobria um dos aviões, o qual contaminava  gravemente todos os outros próximos e já identificava-se em vários metros quadrados de extensão.
  O maior fragmento, a cabine dos passageiros, foi arremessado contra o andar terciário ainda quebrado do primeiro incidente. Fez-se ouvir o detestável som de vidro se quebrando em sequência e, de repente, até o cavalo Blucifer acendeu-se feito uma tocha olímpica dissolvendo-se. Iludia-se quem achasse que tinha ganhado vida, mas fazia a cena parecer muito mais dramática a quem chegasse.

   A urina evaporou no mesmo segundo que fora largada
  O calor intenso derretia a cera dos manequins de carne ao redor das brasas, formando um vazio na frente do campo de aviação. Os trabalhadores de Denver, igual todo ano, ouviram sujeitos serem incendiados, mas dessa vez eram eles.
  Naquele momento, se inaugurava um duelo. Fogo e chuva.
  A fraca chuva, tentando forçar o forte fogo parar.
  O fogo disparando projéteis em brasa para todos os lados, formando amplos arcos de gás a partir de suas caudas. Ou seja, cada gota d'água sacrificava-se por uma causa perdida.
  Os detetives conservaram-se lá, apenas observando as labaredas rodopiarem e refletirem em seus olhos agora laranja dançantes. A dura fumaça preta alongava-se na altura de duas estátuas da liberdade.
  Nicolas deu um leve sorriso enquanto sentia a essência do calor e o frescor do estouro balançando seu topete.
  Emily virou-se já melhor do membro torcido e procurou algo no bolso da saia.
  Seu coração exprimiu um choque inimaginável quando ela não conseguiu achar o celular, traçando todo um caminho mental até o telefone nas brasas do incêndio. Cristo! Eu o deixei lá, não é possível!
  Contudo, buscando melhor, achou o mais para o fundo do bolso. Apertou em um contato e colocou o dispositivo na orelha.
  — Alô? Romina? Vamos sair agora... — a investigadora esperou uma resposta. — COMO?! — essa única palavra esculpiu a alma do parceiro.
  — O que aconteceu?! — perguntou ele ansioso.
  — A Romina. Está dizendo que… — proferiu ela sem entender. — … As "estrelas" estão caindo?

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