Capítulo 55

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Carolina Dias

Fomos até a zona de restaurantes e a Adriana quis comer pizza, fizemos-lhe a vontade.

- Então que novidades tens? - Pergunto de repente assustando a Margarida, ela corou e sorriu tímida. - Conta. - digo desesperada por informação.

- Eu e o António fizemos as pazes! - Bato palmas silenciosamente e sorri.

- A sério? - Digo a sorrir e ela afirma. - Mais alguma coisa? Esse sorriso não engana.

- Ele pediu-me em casamento! - Se pudesse a minha boca tinha caído com força no chão.

- O quê? Pediu? - Ela afirma e eu abraço-a. - Como vão fazer com ela? - digo para a menina que desenhava ao nosso lado.

- Não sei, realmente não sei, só quero que eles se deem bem e que sejamos uma família! Sabes que hoje era o último dia do António aqui em Portugal. - Afirmo. - Eu vou com ele para a Inglaterra.

- Uau! Mesmo agora chegaste!

- Eu sei, mas agora estou mais perto. - disse. - Sabes que vamos estar sempre unidas. - Baixo a cabeça.

- Eu sei, mas não é a mesma coisa!

- O que foi Carolina? - Desvio o olhar dela, e o nosso pedido chegou.

- Eu tenho uma coisa séria para te contar! - digo.

- O que foi?

- Não quero estragar a tua felicidade!

- Hey, o que foi? - Lágrimas vieram-me aos olhos, e ela agarra nas minhas mãos. - Carolina? - Limpo as lágrimas e olho para cima para tentar parar. - Carol, por favor estás a assustar-me! - diz.

- Eu perdi 2 bebés. - digo baixo e ela engoliu a seco. - Soube que estava grávida quando tu me respondes depois daqueles 7 meses, não me vinha o período e tu sabes que sou sagrada com isso, pedi a uma colega minha para examinar um teste de sangue e deu positivo, só que depois de uma ou duas semanas eu tive uma hemorragia feia e perdi o primeiro bebé. No inicio deste ano, lembraste de ter-te contado que ajudei uma senhora, eu bati numa mesa e a pancada foi forte, durante alguns dias eu tive imensas dores, só que diziam que era normal, 1 mês depois eu tive um aborto espontâneo, e a colega que me examinou disse que era uma condição rara e que eu podia nunca ter filhos, eu não disse ao Neves porque ele quer tanto ser pai e se eu contar isto ele vai sofrer muito, eu vi ontem como ele ficou feliz alegre e isso deu-me motivos para querer chorar, porque posso não conseguir fazer isso, dar-lhe isso.

- Oh Carolina! - Ela abraçou-me assim como a Adriana. Eu estava a chorar e a chamar atenção das pessoas a minha volta odiava aquilo.

- Não contes nada ao Neves, por favor eu peço-te Margarida! - digo.

- Eu não digo nada! - disse.

- Adriana! Ouviste? - Ela afirma, mas eu não fiquei descansada. Sabia que podia confiar na Margarida, mas a Adriana era esperta, mas não sei se guardaria um segredo daqueles.

Esperemos que sim.

Aquele assunto foi desviado e eu controlei-me, almoçamos, andamos pelo centro comercial e depois fomos ter com eles que não tardariam a sair, o António tinha alguns sacos de prendas e outras coisas dele, e vejo que estava emocionado, já o Neves sorriu assim que me viu.

- Então Tojo, estás pronto para abandonar a tua casa?

- Não, mas infelizmente tem de ser, terei o maior prazer de puder regressar, mas não quero chorar mais hoje. - diz e beija a Margarida, a Adriana estava no carro a dormir, por isso ainda ficamos ali um bocado.

- Quando se vão embora? - O António tinha cancelado a ida pelos motivos que se puseram a frente o City percebeu e deu-lhe mais uns dias para assimilar tudo e mudar-se para Manchester.

- Quinta-Feira! - disse o António a abraçar a Magui.

- Amanhã querem ir lá jantar a casa? - Pergunta o Neves e ambos afirmam, a Adriana acorda e quando viu o António sorriu, ele não era um total desconhecido, a Margarida soube dizer-lhe com calma quem ele era, ela amou a ideia de andar de avião novamente e no fim adorou o António.

Despedimo-nos deles.

- Tio Neves? - Chamou a Adriana e eu engolo a seco já afastada deles.

- O que minha linda? - Pergunta.

- Eu sei o segredo da tia Carol!

- Sabes? Também queria saber!

- Mas não vais saber! - disse a Magui a agarrar a Adriana.

- Segredos, pensei que tivessem acabado!

- É um segredo de mulheres! - digo para ele.

- É assim algo feminino?

- Algo do gênero! - Odiava mentir, mas para quê dizer uma coisa que já não existe? Para que magoa-lo?

- Sinto que não me estás a dizer tudo!

- Não é nada, é uma brincadeira! - digo.

A Margarida não sabia o que fazer nem eu.

- Parece ser mais do que isso! O que é?

- Não é nada!

- A Tia Carol teve 2 bebés! - Porra!

- ADRIANA! - Repreendeu a Margarida. - Desculpa mamã!

- Isso é verdade?

- É, mas já não existem, para quê que iria magoar-te?

- Falamos em casa! - Ele entra no carro, a Margarida pediu-me desculpa e eu entro dentro do carro, o caminho até lá foi horrível e se soubesse não teria dito nada, mas sabia que a mentira tem perna curta, e ele iria descobrir.

Chegamos a casa e ele entra primeiro.

- Quando me ias contar? Isso foi quando? Porque escondes coisas deste género, pensava que não existam segredos entre nós.

- Eu ia contar, mas para quê? Para estares a agir assim, para magoar-te?

- Preferia ter-me magoado do que saber que sofreste sozinha! - Ele estava de frente para mim. - Tu não percebes? Somos um, rimos juntos, temos as nossas conversas, as nossas brincadeiras, mas somos um, nos bons e nos maus momentos, somos um. - Ele respira fundo. - Neste momento esqueceste isso.

- Para que iria dizer? Diz-me João? Para sofreres, tu queres ser pai, e iria dizer que perdi um filho, que perdi dois filhos? Sabes o peso disso?

- Agora sei, fogo Carolina! - Ele passa a mãos pela cara. - Fodasse! - Ele diz e eu respiro fundo, abaixo a cabeça e sinto as lágrimas a surgiram no meu rosto. - Podíamos ter superado isto juntos, resolveste mentir-me! Que mais mentiras dizes?

- Eu nunca te menti! - disse.

- Acabaste de o fazer! Se não tivesse te confrontado terias continuado a mentir. E eu nunca saberia o que andavas a sentir verdadeiramente, agora faz sentido, os teus choros noturnos, pensas que não te ouço? Pensas que não te vejo a sofrer, nunca tive coragem para dizer nada, mas agora faz sentido, tu magoaste a ti própria, agradeço que não me queiras magoar, mas isto, o que fizeste, só me magoou mais. - Ele afastasse. - Preciso de tempo, preciso de pensar! - diz e saiu de casa. Eu sentei-me no chão, mas sem lágrimas para derrabar, não porque não tivesse, mas sim porque não tinha mais forças.

Não sei quanto tempo fiquei ali, mas sei que foi por muito tempo, estava gelada, os meus músculos estavam presos e eu não conseguia mexer-me.

Sinto um vento surgir, e depois a voz do Neves a soar de longe, não o consegui ver, não consegui perceber de onde via, apenas que fiquei sem ver nada e por fim perder os sentidos.








Erro No Sistema (João Neves E António Silva) Onde histórias criam vida. Descubra agora