Capítulo Vinte e Sete

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  A jovem pastora sente um arrepio forte a percorrer-lhe por todo o corpo, a faz tremer, ela não sabe o que significa, tem um mau pressentimento associado a que anda alguém a vigia-la, sem que ela veja. Agarra-se à banca, tonta.

— O que foi — pergunta a senhora preocupada — Matilde?

Dona Patrocina que está sentada ao pé de seu marido, assiste ao telejornal, quando de repente se levanta, sob o olhar atento de Tarcísio e ampara sua neta, a ajuda a mover-se até à cadeira, na qual se senta e descansa um pouco:

— Ah, já estou melhor, avós — pausa — Sinto-me exausta — Matilde tenta tranquilizar os seus avós.

De facto, a moça parecia que tinha acabado de correr a maratona olímpica, pois tem dificuldades em respirar, suores frios, escorrendo água. A sua avó permanece assustada, nunca tinha visto a pastora assim, serve-lhe um copo de água com açúcar:

— Bebe, devagar. —A jovem sorve o conteúdo incolor, recomeça a respirar normalmente — Estás melhor — pausa — o quê se passa contigo — passa a mão nos seus sábios cabelos de neve — quer dizer, tu e o Francisco — encara o chão envergonhado — vocês não?

A rapariga não sabe o que se passa consigo, mas uma coisa é certa, ela não tinha feito nada com Francisco, estava a começar a detestá-lo. Apesar de o rapaz, parecer nutrir sentimentos verdadeiros por ela:

— Estou melhor sim... — engole em seco — senti apenas uma ligeira indisposição — baixa os olhos e observa o chão escarlate — e, não se preocupe nada tem a ver com Francisco.

Tarcísio sorri para Patrocina na tentativa de a tranquilizar, de modo que perceba que deve de ter confiança em Matilde. Entretanto, a sua avó começa a perceber e a acreditar naquilo que a sua vizinha, dona Capitolina, lhe havia dito, talvez sua neta estivesse assustada sem saber o que fazer.

— Filha, — pausa — quero que saibas aconteça o que acontecer, — engole em seco — nós estamos aqui sempre — murmura — para o que for preciso — tosse para aclarar a garganta — e vamos-te apoiar sempre. — Pausa — por favor, não nos escondas as coisas.

Matilde fica muito surpresa com o teor da conversa, já sabe que Patrocina acha que ela está grávida, nem desconfia da onde é que sua avó tirou essa ideia, quem lhe terá contado a mentira sem pés nem cabeça.

— Quem é que contou?

Como se não soubesse que era a dona Capitolina, sua vizinha, que só inventa tem uma língua de saca trapo, é uma coscuvilheira que é incapaz de não se pôr à janela por dentro da sua cortina de croché para ver as pessoas que passam, sendo uma pessoa não muito confiável exceto quando é para levantar falsos testemunhos e de os passar a outras pessoas, e que nunca se deu com a Pastora.

— Diz-se por aí — pausa, — alguém vos viu.

Mais uma razão, para desconfiar de Capitolina, uma vez que a sua filha Marina, andou por maus caminhos, tem um filho, o Diogo. Só dona Capitolina poderia inventar uma história como aquela.

*

Fernando veste o pijama e vai à cozinha, enquanto seu irmão acaba de pintar as suas unhas, em seguida esfolheia pensativamente uma revista sobre maquiagem:

— Então, como estás? — Inquire circunspecto, queria saber se tinha acabado o noivado a escassas semanas do matrimónio religioso seria, certamente um escândalo, depois desta o juiz o expulsaria de realidade.

Contudo, o doutor pensa com clareza que não deve desabafar com seu irmão, que infelizmente não tem grande à vontade, sabe que estar ali seria um risco de ele ir contar ao doutor Juiz, para ganhar alguns pontos extra.

Alto dos Vendavais - Volume I - Os Ricos Também ChoramOnde histórias criam vida. Descubra agora