Capítulo Vinte

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O homem permanecia de olhos fixos no chão, espera que aquela menina mulher comece a falar, também tem dúvidas em relação ao que Inês sente por si, que aos seus olhos lhe parece tão angelical, quase um pecado aquela menina com o corpo de mulher ser sua, quase uma doença, mas é quase irresistível e irremediavelmente. Abre os seus lábios pequenos:

- Sobre a nossa relação de amizade – pausa – está estranha.

Declara ela docemente com a mesma candura e delicadeza de quem não sabe o que sente. Entretanto, eles encaram-se. Ambos sabem que existem algo mais do que uma simples amizade, mais do que deviam sentir, têm um sentimento por muito pequeno que seja mas é preciso cultivá-lo, isto é, conhecer-se melhor, gostam de tudo em si, as duas personalidades conjugam-se como uma só, as almas permanecem unidas caminham juntas, embora seja urgente ter um tempo de premeditação, de limar todas as arestas para que se torne insuportável a relação de ambos, e se supere a todos os obstáculos, assim permaneçam juntos toda a vida; ainda que exista algo que saibam que são incapazes de esconder por muito mais tempo, os sentimentos crescem tornam-se maiores e incapazes de se controlarem.

- Ok! – Pausa – quero que saibas de uma coisa, - ela permanece de cabeça baixa – que iremos dizer a verdade. – Pura e simplesmente tinha mudado a sua forma de pensar desde a última vez que falaram.

A rapariga cândida ainda está de cabeça baixa como se lhe fosse submissa, memoriza cada palavra, saboreia-a como se a bebesse, está atenta ao que Vasco lhe diz, seja como for; mas não desistirá dele facilmente. Depois daquela conversa, naquele inicio de tarde que ele ficará a saber de toda a verdade acerca dos seus sentimentos para com ele.

- Aceito! – Declara sem reservas, ainda com algum receio e pronta para tudo.

Ele sorri, em seguida estende-lhe a mão, ela pestaneja observando a sua mão estendida até que se apercebe e põe a sua suavemente numa relação de confiança mútua. Em seguida, sobem as escadas caminham num pequeno e estreito corredor entram num quarto que permanece com um lençol sobre os moveis impedindo de apanhar pó sentam-se no chão perto a uma pequena varanda, permanecem de frente um para o outro, encaram-se sem ter a noção de como falar nem sobre o que dizer. Vasco está destreinado em relação ao começo de namoro, começa a entender-se que afinal sente-se apaixonado enamorado por aquela menina mulher que aparenta ser a jovem Inês, e de que não pode mais viver sem ela.

- Como é que sabias onde eu estava? – Quesita de olhos fixos no dela, que agora o encara, perdida no seu olhar.

Remexe-se à procura de uma explicação lógica, mas de facto parecia-lhe que não existia nenhuma.

- Eu – principia por dizer num fio de voz, inaudível tosse e aclara-a – não sabia, simplesmente vim por que sonhei – pausa – e apeteceu-me, como vi a porta encostada entrei.

- Sonhaste comigo? – Perscruta em silêncio.

Inês baixa os olhos, com vergonha é necessário virar o seu jogo não sabe muito bem como há-de fazer as coisas.

- Bom – pausa – não. – Precisa que ele se distraia caso contrário está perdida – então e tu, por que razão vieste para aqui?

- Tive saudades – pausa – e preciso de pensar, para tomar uma decisão.

O objectivo de Inês parecia estar a resultar, afinal é legitimo que Vasco tenha saudades e vá a sua própria casa, o que está descontextualizado é o facto de ela ir para ali, pensa mais um pouco e reflete que ele usou a mesma expressão que Laura lhe dissera no sonho "a toma de uma decisão" que parece ter consequências terríveis, nada pode fazer em relação a essa resolução, que a parece incomodar.

Alto dos Vendavais - Volume I - Os Ricos Também ChoramOnde histórias criam vida. Descubra agora