Capítulo Vinte e Três

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Não sabe como agir em uma situação como essa; porém sabe que tem de romper, de deixar Esther, já não sente mais nada por ela, sente apenas pena, não pode correr o risco de ter filhos com uma louca.

- Meu amor! – Pausa – ainda bem que voltamos. – Permanece de braços ao redor da sua cintura - agora, sim! Vamo-nos casar.

Não sabe quanto tempo vai aguentar, todavia; tem de a levar a um , talvez um psiquiatra, ela tem de ser vista, com o máximo de urgência. Tudo que sente agora é um total desprezo.

*

jovem de ombros largos parece encantado com a sua vida, parece que começa a sentir algo diferente pela moça um novo sentimento para além de toda a gratidão e da admiração que nunca sentira por ninguém, um sentimento tão pequeno e no entanto parece transborda-lhe e o aquecer no interior de seu peito.

- Então, estás muito aplicado ultimamente – comenta a rapariga de saia longa – de bom humor. – Pausa – o quê se passa?

Sabe que é Camila estranha o facto de ter aquele exemplar de irmão. Ele permanece boquiaberto, parece que acertou na personalidade, desta vez.

- Não sei – pausa. – Ser bom o tempo todo é mau – sorri – é melhor divertir-me de vez em quando.

A rapariga sorri, não entende o que ele quer dizer, apenas entende que Vasco está muito irritado.

- Temos que nos explicar acerca de tudo, e ainda assim há sempre quem nos olhe de canto e desconfie de quem não sabe sobreviver – suspira. – Cansei.

Camila tem de concordar numa coisa com Vasco, é demasiado estranho mudar-se de personalidade sem consentimento de ninguém, mudar só por mudar, sem pedir a opinião de ninguém. Todos acham que alguma coisa deveria de mudar.

- Têm razão – suspira. – Laura morreu, sei que ninguém quer saber...

Camila revira os olhos, está cansada deste discurso, por muito que seu irmão tenha razão mas há uma coisa que a ninguém sofre mais do que ele, por que é um assunto particular. Interrompe-o:

- Mano!

- Deixa-me acabar – pausa – ao longo da minha vida sempre dei aquela impressão de que está tudo mal e que sou assim por que já ninguém se importa comigo quando estou mal.

- Mano! – Começa por dizer embriagada no seu próprio sofrimento, – não é isso. – Levanta-se do seu mocho, aproxima-se de Vasco estupefacta "Então, ele ainda sofre com aquilo que lhe aconteceu?" questiona-se no seu interior – eu importo-me contigo – tenta chegar ao fundo da questão pelo menos que ele se sinta querido – só que o problema de Laura é um problema que só a ti diz respeito e a Bruno, o quanto muito, eu posso ajudar e apoiar-te.

Fica pensativo na forma como sua irmã o podia auxiliar sabe que em breve tem de defrontar o seu noivo, Santiago e o apoio de Camila poderá ser uma mais-valia, no acto de convencê-lo, de que ele é o melhor para Inês, sabe que Santiago não apoia a relação, uma vez Vasco está farto de bater em Santiago e de se dar mal; contudo, ainda é cedo, não tem nada sério com a rapariga, só se estão a conhecer melhor e ver no que dá, mas dá-lhe jeito interceder por ele, na hipótese de ser preciso.

*

O jovem alto com os ombros largos de olhos escuros e cabelos loiros, com a cara comprida traja um vestido negro até aos pés com um cabeção branco na gola, carrega consigo um livro de capa negra com uma cruz amarela na capa, e um terço de madeira. O jovem padre ordenado há cerca de um ano, na diocese de Braga, chega finalmente à aldeia, acompanhado de um senhor barrigudo traja um vestido branco e uma suplis escarlate sobre os ombros na cabeça um pano rosa já velho e gordo manca em cima de uma bengala caminha com extrema dificuldade, sobe o caminho em paralelo até à residência paroquial. Tocam à campainha. O jovem de tronco nu atravessa a sala num passo acelerado abre a porta e desce a correr pelas escadas em pedra.

Alto dos Vendavais - Volume I - Os Ricos Também ChoramOnde histórias criam vida. Descubra agora