Capítulo Dezoito

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Parecia preocupada, denotava-lhe o tom exasperado da sua voz, ao menos ele pode sorrir de contentamento se bem que pelo andar das coisas agora já não tem caso, Fernando tem de se acalmar para descobrir o que sua noiva anda a fazer, em seguida entra na sala.

- Fui apanhar ar – pausa – precisava de me acalmar.

Precisa de mais tempo para formular melhor o seu plano e conduzir o diálogo não o deixando enganar-se, prevê que como sempre tem de arrancar a verdade a ferros. Esther respira profundamente, sabia que muitas vezes o seu noivo se ausenta para pensar, e volta melhor para não provocar uma nova discussão, sorri enquanto pensa «então é isso? Terá mudado de ideias? Só têm de ser dócil», já conhecia o seu noivo há tempo suficiente para saber que funcionava assim...

- Então, - engole em seco – vens melhor?

O sorriso enganatório, que deduz a falsa aparência no fundo ela merece todo o seu sarcasmo e toda a arrogância na ponta dos lábios daquele homem que tanto ama, a tranquiliza, obviamente que estava melhor, se bem que ainda estava estranho, enigmático um homem de duas faces, ele nunca se mostrou assim e isso estava a assusta-la. Todavia, havia mudanças, resolve mudar de assunto, ele tem de mostrar que realmente está de bom-tom, ainda que lhe custe, que não seja assim.

- Tu já estudaste tudo?

*

A brisa suave daquela tarde calma, um jovem deitado sobre a relva verdejante enquanto a linda jovem permanece sentada a seu lado, com a sua flauta na mão, ambos guardam as ovelhas.

- Tu gostas de mim? – Inquire o jovem corando, quando a moça lhe vira os olhos.

- Claro que sim, Francisco – pausa – porquê a pergunta?

O jovem de cabelos negros sorri de ternura, é um dos privilegiados por fazer parte dos amigos daquela jovem que tanto idolatra, tendo esperança de que algum dia ela repare em si e ambos possam ser felizes, porque ela é uma mulher às direitas para se casar. Há muito que Francisco é seu pretendente em segredo, o jovem agrada a dona Patrocina, é trabalhador apesar de ser sacristão, habitar com o senhor padre Américo, ser educado por ele, nunca falta a uma missa dominical. São boas referências que tanto agradam à senhora.

*

A rapariga engole em seco, não espera uma pergunta como um meio de resposta, parece que a sua preocupação não serviria de nada.

- Estudei – pausa – mas isso não responde à minha questão.

Ele sorri-lhe, sabia que não contudo é uma forma de ganhar tempo e pensar num método de resposta convincente, necessita de preparar melhor a informação.

- Estás melhor?

Leva a mão ao pescoço, a demora deixa-a em pânico, abana a cabeça negativamente deixando-a completamente aterrorizada, verdadeiramente angustiada é a confirmação do que tanto ela temia.

- Não- pronuncia – mas também não estou pior. – Sorri friamente.

Cada vez mais exasperada, não sabe interpretar se é um bom ou mau sinal, aquele sorriso parecia-lhe trocista e de quem já não tem dúvidas em relação ao seu futuro que permanecia incerto, aquele homem é tudo a seu lado, tem a paz que tanto deseja.

Agora que está tão próxima tudo lhe parece tão incerto, distante já não sabe o que pensar, seu noivo não aparenta aquilo que é, aparenta ser o que não é, não se sente verdadeiramente apaixonado por ela, contudo; há interesses em jogo tem de se casar obrigatoriamente com ele, para bem da família Vale desta forma tira a família de uma ameaça do dinheiro e a salva da mais terrível miséria.

Alto dos Vendavais - Volume I - Os Ricos Também ChoramOnde histórias criam vida. Descubra agora