Capítulo Dezassete

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Seria o que Laura diria, na realidade não existia mal em amar uma outra mulher, sabia disso se, se sentisse minimamente interessado e se fosse após a sua morte, se ambos fossem da mesma idade.

Ora, ele sentia-se doente porque tinha andado com Inês ao colo, e para si não é próprio: «se bem que é uma ótima mãe para Bruno» passa o seu dedo polegar pelos seus lábios carnudos, uma vez que Bruno também parece gostar de Inês e ao que tudo indica a moça também gosta de si próprio, ela parece que não sabe o que fazer com o sentimento que nutre por si.

- Melhor assim – afirma por fim – também não tinha nada para lhe oferecer – boceja atravessa o jardim sobe as escadas pensantes, talvez fosse por excesso de sono que anda a pensar demasiado na jovem, ou talvez não.

Possivelmente nunca tenha estado tão sóbrio, no seu estado puro nunca pensara como agora, não tinha a habilidade de imaginar que seria assim, entra no seu quarto tem a percepção de seu estado é terrível, algo insuprível, deita-se no seu leito, nunca teve tanto tempo a pensar na Inês, ou nunca se apercebeu que pensa na jovem.

*

O sol já raia no horizonte ainda longínquo, quando a pastora regressa ao seu quarto, ainda escuro os animais nocturnos recolhem-se. A jovem deambula pelo cómodo, boceja quando se prepara para se deitar, senta-se na cama arranja a sua almofada, por fim encosta a sua cabeça, fecha os olhos, começa a respirar regularmente sossegada, a sua mente começa a entrar por várias portas, caminha por um corredor estranho quando pára e espreita uma entrada para um local onde há imensa luz, o céu azul ciano com algumas nuvens, o chão em relva, malmequeres. As flores ainda pequenas e todas separas em pés individuais, a rapariga permanecia ansiosa, traja umas calças de ganga, uma blusa de quadrados vermelhos, um colete cor-de-rosa, os seus cabelos castanhos estendidos, as suas botas altas pretas.

De repente ouve um cavalo branco a galopear, sente uma paz interior quando vê o cavalo a se aproximar, com um lindo jovem que desmonta e sorri para ela, a pastora devolve-lhe o sorriso.

«Quem és?» Pergunta-lhe, por que já é a segunda vez que sonha com o mesmo rapaz.

O jovem alarga o sorriso os seus lábios estreitam-se e posteriormente o som da sua voz melodiosa faz-se ouvir.

«Em breve irás saber...» sorri-lhe de forma irritante afastando-se.

A pastora agita-se na cama balbuciando: "Quem és? Porquê não me dizes, porquê?, que mal eu fiz?" pergunta a rapariga toda transpirada.

*

Os sinos da sé velha fazem-se suar, chamam as pessoas para a missa dominical, as idosas sobem com dificuldade a escadaria da Sé, sentam-se nos bancos velhos de madeira.

O rapaz de olhos azuis acorda preocupado, não reconhece a moça do sonho, perscruta em silêncio se será a amiga de sua noiva, "Vanda" que nunca a viu, pergunta-se se deve acreditar na sua noiva quando fala nela. Senta-se à borda do leito, ajuíza que é bastante estranho e pouco plausível, esfrega a cara com as mãos, quando se lembra que aquela amizade começou de uma forma estranha, tão estranha que o próprio não se lembra.

- Bom dia, meu amor! – Cumprimenta Esther com um bonito sorriso na cara.

Era tudo tão estranho, tão distante, que o próprio começa a duvidar de si mesmo, da sua capacidade cognitiva de análise da realidade que o envolve, por outras palavras não sabe o que fazer, ou sabe, não tem coragem para deixar a sua noiva a míseras semanas do matrimónio.

Alto dos Vendavais - Volume I - Os Ricos Também ChoramOnde histórias criam vida. Descubra agora