Capítulo Quatro

53 3 0
                                    




A pastora sobe até ao Vale com a bilha de gás butano de onze quilos às suas costas. Limpa a testa, quando o suor lhe pingava sob o sol ardente que se fazia sentir, ela curvada consegue subir a encosta da retorta até ao seu lugarejo.

Para quando vê a Quelha construída a pedras irregulares até à casa da capela datada desde mil oitocentos e dez, erguida a mando de D. Afonso Henriques, que deixara suas "Armas Reais", com as cinco quinas, na parte voltada para o caminho público. Respira com alguma dificuldade ergue outra vez a botija às costas e sobe a Encosta, até avistar a sua casa, caminha sempre a erguer até ao seu portão, que estava tal e qual como o deixara, abre-o em seguida sobe as escadas de granito poisa a bilha com cuidado na varanda. Entra, por último em casa, atravessa o corredor estreito, rodando o bazulaque através do piso:

- Cheguei! – Anuncia à entrada da cozinha.

Enquanto se aproxima da mangueira, coloca o interruptor no bico de cobre, liga o pistão. Em seguida, abre a janela da cozinha, para que o cheiro saia melhor e começa a preparar o almoço.

*

A mulher extremamente magra e muito elegante vê o homem de lábios carnudos a passar como sempre o fazia, àquela hora à sua porta, a jovem apanha o último lençol que estava na corda, o coloca dentro do cesto de plástico, pensa "onde irás?". Matuta em silêncio, de repente sorri e aproxima-se da entrada de sua casa.

- Mãe, oh mãe! – Chama quando a senhora responde – lembrei-me agora, que tenho que falar com o Senhor padre Américo.

- Agora? – Inquire-lhe a senhora de avental com a faca em punho acabando de cortar uma cenoura na cozinha, enquanto a jovem põe o cesto da roupa em cima do parapeito.

- Sim. É, um assunto urgente. – Pausa – antes que Santi venha comer. – Desaperta o seu avental. Rapidamente, calça os socos de pau envernizados feitos por o 'bastardo do ferreira'.

Seguidamente atravessa, no seu passo serpenteado, os muros em pedra que cercavam a sua casa com grossas muralhas construída arcaicamente, elevada sobre os mastros de pedra era uma casa com o sobrado em madeira, as ripas secas e com o telhado em vértice com as telhas descoradas do sol numa cor de laranja velho.

A jovem alta, magra e de tez branca trajada com uma saia castanha até aos tornozelos, e um avental preto com a franja em volta de um vermelho vivo, e a sua blusa de mangas subidas até ao cotovelo, mostrava os braços peludos sobre o cabelo castanho estava um lenço que apanhava o cabelo na nuca. A moça sadia com sargas nas faces coradas chamava-se Inês Trigo, é solteira e filha legítima de Dona Constança Trigo e Cesar Trigo, que tinha por ofício as ferragens, e meia-irmã de Santiago.

Inês segue o vulto, querendo saber o motivo de ele ir tão concentrado, com os olhos fixos no chão levava consigo uma rosa, seguia sozinho.

*

O sol já ia brando por cima dos carvalhos, quando a jovem de cabelos reluzentes e escorridos estava abraçada a seu noivo, ambos permaneciam em pé, junto à porta.

- Meu amor, não queres descalçar? – Pergunta o rapaz estranhamente.

- Não, - nega – estou bem assim, Nando. – O beija nos seus lábios.

Leopoldo, seu pai, sai acompanhado por Doutor Gastão Vale, ambos a par um do outro falava entre si, sorriam o facto de quererem unir as suas famílias, através do casamento, era uma realidade que se aproxima e deixa os dois muito orgulhosos.

Alto dos Vendavais - Volume I - Os Ricos Também ChoramOnde histórias criam vida. Descubra agora