Capítulo Onze

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      O táxi preto e verde pára na cova, uma senhora alta com os seus cabelos loiros, estendidos até ao meio das costas, com os seus lábios vermelhos de batom, as faces pálidas, traja umas calças brancas com um cinto de cabedal em cima e uma camisola de malha com manga comprida, no pulso eram largas sem ombros, as botas de salto alto fino.

- Úrsula! – Chama uma voz rouca.

      O homem forte e extremamente baixo com pernas e braços gordos, traja umas calças castanhas e um casaco vermelho, anda de pernas muito abertas dado à gordura, abre os braços indo ao seu encontro.

- Pai! – Grita emocionada a senhora.

        Finalmente, a viagem tinha acabado, demorou vários meses até chegar à aldeia. Àquela terra, fim de mundo como lhe chamava, a jovem senhora nunca esperou em ter de regressar mas devido à tragedia que a sua vida se transformou ao longo dos últimos meses, decidiu voltar. Os cílios brilhantes de felicidade sendo o único momento que tem após a mágoa que ainda existe.

- Como correu a viagem, filha? – Pergunta preocupado.

        A senhora sorri extremamente exausta, afinal tinham sido praticamente seis meses de barco até chegar ao Porto dos Milagres, o porto mar dos Altos dos Vendavais, era muito cansativo mas não conseguira arranjar o bilhete de avião. Enfim, tinham chegado, dava graças a Deus por terem feito uma viagem com sucesso e terem chegado sãs e salvas. Seu pai pensa por instantes enquanto encara a sua neta que nunca tinha visto na vida, uma menina de vestido rosa com um chapéu na cabeça e luvas brancas que se agarrava às pernas de sua mãe.

- Ah! – Pausa – pai, esta é a minha filha Tita. – Apresenta a sua menina.

       O senhor sorri para a criança que ainda está com vergonha, e tenta-se esconder sem sucesso.

- Tens vergonha de mim, Tita.

       A seguir olha para o ar triste de sua filha, pensa naquilo que lhe aconteceu e prefere proferir:

- Filha! – A abraça – lamento muito o que aconteceu com Óscar – declara com cuidado – os meus sentimentos.

    Úrsula lacrimeja parece ficar triste por momentos suspira, descansa no colo de seu velho pai, apoia a cabeça em seu ombro e geme, as lágrimas escorriam-lhe pelas faces.

- Foi duro, pai. – Pausa – ver o homem que tanto amamos a definhar até à morte. – Abraça seu progenitor -, mas o pior já passou, a parte do funeral foi a minha pior parte, o resto começa a passar com o tempo, nunca esquece, mas acalma.

*

      O homem de cabelos castanhos-claros e olhos de água senta-se atrás da secretária, com os pés em cima da mesa, lê um processo quando ouve um truz-truz na porta de vidro. O rapaz tacanho entreabre a porta:

- Posso pai? – Pergunta a sorrir.

    Entra no escritório, com uma pasta nas mãos, o senhor de idade marca a página e a arruma em cima da mesa.

- Diz, Bernardo. – Pausa – quanto tiveste a processo?

    O jovem prepara-se para responder a seu pai, não tinha a certeza se dezasseis era uma nota aceitável, por que o seu pai é muito exigente com os seus filhos, ainda em dúvidas:

- Dezasseis, pai. – Pausa – tive dezasseis.

      Não é nenhuma vergonha, afinal tinha sido uma das melhores notas da turma e devia-se orgulhar por ter conseguido ser um dos melhores. Os seus olhos brilham com entusiasmo. Doutor Luís Albuquerque sorri, levanta-se de imediato e abraça o seu filho o felicita pela nota obtida.

Alto dos Vendavais - Volume I - Os Ricos Também ChoramOnde histórias criam vida. Descubra agora