Capítulo Nove

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                     O jovem de olhos azuis, dono de um corpo esbelto, entra em casa, na companhia da sua noiva, alarga a gravata, deambula pela casa até à sala, prepara o seu Whisky com duas pedras de gelo, alarga a gravata, senta-se comodamente no seu sofá, descalça-se, está cada vez mais imerso em pensamentos, no dia seguinte irá à faculdade e da parte da tarde vai à Sociedade de Advogados estagiar, tinha um caso é a primeira vez que se sentava naquela cadeira do tribunal, com a sua toga preta, toda a sua vida sonhara. No entanto, há uma coisa que incomoda o doutor, é o facto de não compreender ou não querer entender a situação que está intimamente ligada com o que Pulga pensa em relação ao seu noivado. De facto, existiam condutas na sua futura esposa que se tornarão inexplicáveis.

         Liga o seu portátil e lê a sua defesa, está muito ansioso e não se poderia esquecer do nome da sua cliente em frente ao juiz.

- A Senhora Mónica Link – lê.

          As dúvidas começam a fervilhar-lhe na sua cabeça, magica no que a sua irmã quererá dizer, ela é uma excelente pessoa e nunca fala sem saber do que se trata, já a conhecia, sabia bem que se Pulga lhe oculta algo é por não saber, ou por não ter a noção do que fala. É, contudo, uma relação estranha, Esther deveria de lhe agradar para haver paz, e ao contrário, parece que a ganha como uma inimiga.

- Concentra-te, Fernando.

         Ainda existe o argumento que pode ser fraco, mas é válido. A irmã mais nova sabe de tudo da sua vida, tem sempre uma palavra a dizer, se Pulga que é a sua conselheira e sempre acerta em tudo naquilo que diz, porque nunca fala sem provas irrefutáveis, não só nas interpretações subjetivas mas objetivas, não gosta da sua cunhada então alguma razão haveria de ter, frustrado consigo próprio, levanta-se com uma estranha impressão não sabia aquilo que era realidade, ou profundamente mentira.

*

         A rapariga alta e loira de olhos verdes, sobe ao palco, agarra-se ao varão de inoxidável e sobe as pernas gira dançando as músicas para diversão dos homens que assistem entusiasmados.

- Preciso de falar com a dona – pede uma rapariga de cabelos pretos e lábios finos, um tom de pele esverdeado, extremamente pálida.

          O homem baixo de cabelos loiros encaracolados, traja o seu fato de gala, com o smoking preto rachado, os sapatos devidamente polidos e um laço que aperta os colarinhos de uma blusa branca por dentro das suas calças negras, coloca a bandeja sobre o balcão:

- Joana Cunha? – Grita eufórico a reconhecendo – rainha, sempre elegante. – Sorri.

          Os lábios daquela jovem alargam-se entreabrindo-se, mostram os seus dentes perfeitamente brancos:

- Gastão – deixa escapar uma lágrima – há quanto tempo não te via, como é que tens passado? – Abraça o seu amigo com emoção, ali naqueles braços que a torneiam sabia que tinha encontrado a paz que há muito desejava.

          As pessoas mexem-se ao som da melodia, os homens vibram empolgados com as acrobacias em palco, alguns indivíduos abriam a breguilha das suas calças mostrando o tamanho do seu membro. A jovem de gatas no palco sorria, com várias notas nas suas cuecas:

- Que fazes aqui?

- O meu titio está de volta, à aldeia e eu vim passar um tempo com a minha família, Gastão.

           Os olhos doirados daquela deusa abrem-se de entusiasmo e de euforia, sorrindo discretamente, talvez a sua luxuria quisesse ser aquela jovem, como tantas outras vezes o fora ali mesmo, naquele palco que tão bem conhecia.

Alto dos Vendavais - Volume I - Os Ricos Também ChoramOnde histórias criam vida. Descubra agora