Capítulo Treze

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O galo canta, põe ordem na capoeira, as trevas começam a parecer roxas, a claridade começa a ganhar a grande batalha de todos os dias. Ao fim de terem relações de uma noite a jovem cai no colchão, quando o seu tio sussurra algo ao seu ouvido.

- Como sempre insaciável. – A rapariga sorri, quando sente o toque dos seus lábios no seu longo pescoço.

Logo, permanece imóvel enquanto o tio Leopoldo se despede e regressa à sua alcova. No quarto ao lado, Helena está acordada, como esteve praticamente toda a noite, acordou com os gemidos de sua prima, Joana.

*

Os automóveis amontoam-se nas estradas, os engarrafamentos dão origem a grandes buzinões, que se tornam cada vez mais audíveis, as luzes públicas apagam-se gradualmente. O quarto escuro num andar de um edifício alto da cidade de Coimbra, a sala permanecia em silêncio ainda. A mulher alta deambula pela casa, sem respostas, sem ter para onde fugir, caso seja preciso, cada vez mais preocupada com imensas dúvidas sobre o enlace que está prestes a dar, com medo que seu noivo descubra o que anda a fazer às escondidas, e a deixe à porta do matrimónio. Nunca pensou que ele associa-se tão rápido o assunto e perguntasse por sua amiga, como ela sairia de tal camisa apertada, dando a volta por cima como sempre fazia.

- Vai para a cama. – Ordena ele da sala.

Ela esbugalha os seus olhos, pensa " Como é que Fernando está acordado a estas horas?" matuta em silêncio. Era integrante, haver alguém a controlar os seus passos naquela madrugada.

- Daqui a pouco são horas! – Explica ele.

A rapariga entra na sala a passo dançante quase em bicos dos pés para não fazer barulho.

- Horas de quê? – Inquire com as mãos à cintura, profundamente irritada.

Nunca o seu noivo falara assim com aquela frieza toda para com ela, ele tinha razão e o pior de tudo é que ela sabia, se ele descobrisse aquilo que fazia, tinha a certeza que acabava tudo com ela, e com razão. Por isso, não é assim tão mau.

- De levantar – afirma por fim. – Temos uma conversa pendente.

Ela aperi óculos, isto é, abre bem os seus olhos redondos e escuros pensantes que o seu noivo tem uma boa memoria não existia a menor dúvida, estava terrivelmente assustada, não sabia o que inventar desta vez, também estava muito cansada para inventar algo minimamente aceitável.

- Oh, meu amor – pensa nalguma forma de evitar que ele volte com o mesmo assunto, mas não tinha ideia do quê lhe dizer.

Ele por sua vez, a olha com algum terror a fazendo arrepender de continuar.

- Tu não me voltes a chamar assim, fodasse! – Grita em surdina – entendes?

Fica nervoso, pois sabe que é mentira, aliás sempre soube, Esther nunca teria chegado tão tarde como aquela vez. Com efeito, algo de grave se passava com sua futura mulher, para inventar uma desculpa tão esfarrapada. Mas, ao mesmo tempo tão fácil.

*

O homem de ombros largos e olhos cor de mel permanecia deitado de olhos fixos no teto branco do seu quarto, os lábios carnudos extravasam um sorriso travesso, pensa na jovem, não havia dúvidas que era muito torto; no fundo sabia que ela era a mulher certa para si. Apesar de ter as suas dúvidas em relação se ela daria conta do recado. Talvez, noutros tempos eles tivessem a oportunidade, muda de posição; mas agora ele já se tinha perdido demais, não valia o estrago.

Alto dos Vendavais - Volume I - Os Ricos Também ChoramOnde histórias criam vida. Descubra agora