Capítulo Dezasseis

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Ele caminha elegantemente pelo corredor de uma casa cantando alegremente calado com as mãos nos bolsos encara o chão, sentindo-se renovado, algo de novo dentro de si que bate cada vez mais forte. Uma emoção que agora parece ganhar uma nova vida, não sabe se é bom ou mau, mas nunca se tinha sentido tão bem, consigo mesmo, pelo simples facto de encontrar aquela moça simples. Chega à sala, os dois olham entre si, ficam preocupados nunca o tinham visto daquela forma.

- Está no quarto – Santiago o olha por um lado espantado e por outro preocupado com aquele Vasco, ele nunca o conhecera assim – nunca chegou a sair.

Santiago engole em seco, não quer outra sova em frente a dona Constança, sua mãe nem quer que a senhora se irrite para os separar, prefere olhá-lo com desdém, ao passo que o seu amigo se aproxima lentamente da porta de saída.

- Boa noite – deseja a ambos.

*

A casa de fragrâncias continua a sua festa com requinte e luxo, agora que saíram as famílias, pois a sessão de teatro acabara começava a encher-se de homens, a música alta entoa em todo o lugar, Kika's ainda permanece sentada a uma mesa, quando um senhor de distinção entra, caminha para ela, sorrindo-lhe.

- Estava a ver que não vinha? – Sorri-lhe simpática a senhora.

- Não podia faltar, Doroteia.

A senhora, auxiliada por a sua bengala de madeira, sobe as escadas em caracol com o jovem, em seguida entram num quarto decorado a vermelho com vários espelhos  por cima de uma cama redonda de casal.

- Aqui estamos mais à vontade, - pausa – já tem novidades, Álvaro?

Álvaro Oliveira é um jovem charmoso, bem-parecido com barba loira de três dias, que ajuda Dona Doroteia nos seus segredos, é investigador privado e um dos poucos que sabe o verdadeiro nome de Kikas.

- Por isso é que convoquei esta reunião.

O jovem veste o seu fato cinzento, estudou nas universidades mais caras do mundo, com uma carreira invejável, tem vinte e sete anos, olhos castanhos e brilhantes, cabelos loiros aos caracóis uma das beldades da aldeia frequentando-a raras vezes só quando visita a senhora Doroteia que tem expectativas em encontrar alguém do seu passado, esfrega as mãos de alegria quando aquele jovem mantém contacto com a senhora, ao longo de cinco anos de uma dura e demorada investigação não tinha mais cabeça para mais uma desilusão.

- Então encontrou Guilherme? – Inquire cabisbaixa com preocupação temia uma má resposta provavelmente o procurado não quisesse mais saber dela, depois das suas referencias é provável que tenha vergonha de Doroteia.

*

Matilde sentia-se um pouco estranha, cada vez eram maiores as suas desconfianças de que alguém andaria a vigia-la, não sabe o porquê todavia esse pressentimento, havia algo que a própria tinha de esconder para o seu próprio bem.

- O quê tanto pensas? – Quesita Patrocina.

Engole em seco, pensa em antes de responder não queria alarmar a sua avó.

- não sei – era tão bom se lhe pudesse contar, sem a alarmar – Vó, tenho um pressentimento que ando a ser vigiada – apaga o fogão em seguida serve o chá num bule, e desliga a bilha.

Enquanto dona Patrocina enche a sua chávena e tempera com açúcar, o mexendo pensante «afinal a sua neta também tinha a mesma sensação do que eu» isso a deixa mais aliviada, sua neta regressa, senta-se no seu lugar em sua frente entretanto a simpática senhora tenta beber um bocado do seu chá permanece mais alheada, uma vez  mais pensativa seria uma coincidência ou uma premonição, «será que deva contar a verdade que há muito tempo escondo?» beberica um pouco do conteúdo da sua chávena.

Alto dos Vendavais - Volume I - Os Ricos Também ChoramOnde histórias criam vida. Descubra agora