XLI

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— Fica aqui

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— Fica aqui. Vou buscar a bendita muleta e já volto. — Domenico beija a minha testa antes de sair e me deixa na lateral do hotel. Aproveito para ver as flores naturais que cresceram distantes do jardim e não são bem cuidadas como as que ficam junto as árvores bem posicionadas em frente ao hotel e podadas regularmente. Vejo uma flor solta no chão que provavelmente caiu devido aos fortes ventos de hoje e me abaixo para pegar. O mar está mais revolto e os ventos não dão trégua desde que amanheceu o dia.
  Quando vou levantar, a luz do sol que vinha forte em minha direção, é coberta por algo ou alguém e imaginando ser Domenico, olho sorrindo. Mas para minha total surpresa encontro meu pai.

— Olha só o que eu encontrei. — Continuo o olhando assustada e sua simples presença já me causa medo.
— Cadê o seu maridinho?

— O que quer com ele? — Pergunto já pensando em correr e evitar esse embate.

— Com ele, nada. Meu assunto é com você.

— Mas eu não tenho nada com você. Me garantiu quando esse casamento aconteceu, que eu estaria livre depois do contrato.

— Eu não garanti nada. Sua mãe que faz promessas que não pode cumprir. Mas, depois disso você pode fazer o que quiser. Não me importo mais. Só que antes de se tornar uma mundana por completo...— Se aproxima cada vez mais e me encolho com medo de suas ações. Ele realmente parece estar insandesido e se já tinha medo antes, agora estou apavorada.
— Antes, você vai fazer o seu papel de puta e me dar um neto Moretti. Acredito que não vá ser sacrifício algum.

— Ficou maluco, só pode. Eu não vou fazer isso, nunca.

— Vai sim. Caso contrário nunca terá sua tão sonhada liberdade. Se não fizer isso, nem mesmo a vida você vai ter. — Ameaça e sem conseguir me controlar, apenas deixo as lágrimas caírem. Eu nunca vou ter paz nessa vida!
— Vou dar a você, nove meses para me dar um neto. Nove meses. — Ele segura meu rosto, apertando as bochechas e somente quando sinto o gosto de sangue ele me larga e vai embora. Perdida, apenas deixo meu corpo escorregar pela parede e sento no chão abraçada às pernas enquanto cada vez mais as lágrimas veem.

— Melissa... — Escuto a voz de Domenico, mas não tenho forças para levantar ou olhar para o homem.
— Aquele é Carlo? O que aconteceu? Melissa?— Quando não respondo ele se senta ao meu lado e me abraça. Ainda tento me afastar, mas ele impede. Faz carinho em minha cabeça e encosto meu rosto em seu peito, chorando sem controle algum.
— Chore. Pode chorar. Vai passar. Eu juro. — Ele diz e assim eu faço. Choro com a intenção de usar todas as lágrimas que tenho. Quero chorar até Carlo Feitosa deixar de existir.

...


Acordo e sinto o olhos pesados, inchados por conta do choro excessivo. Mas como vim parar na cama?  Tento levantar e quando sento na cama, vejo um Domenico completamente sério, sentado em uma poltrona e de olho em mim.

— Como eu vim parar aqui? – Pergunto com a voz um pouco rouca e ele se levanta, sentando ao meu lado na cama.

— Eu a trouxe. Está melhor?— Pergunta, tocando meu rosto suavemente.

— Sim.

– Tem certeza?— Pergunta parecendo preocupado como se procurasse  algo em meu rosto.

— Tenho. — Ele beija minha bochecha mas logo se afasta bruscamente. — O que ele disse à você?

— Quem? — Finjo não entender.

— Sei que Carlo está aqui. O que ele disse a você?— Pergunta extremamente calmo e por um segundo penso em lhe contar tudo. Mas não posso envolver eles nisso. No fim, Carlo vai machucá-los assim como faz comigo. Como sempre fez comigo.

— Nada. Não é por isso que...

— Pare. — Me interrompe. — Não vou deixar que termine a frase e que minta para mim. Durante esses meses do nosso casamento, ele nunca nem ligou para perguntar como você estava. Mandou flores pelo meu acidente, parabéns pelos contratos e prêmios da empresa. Mas você não existe para eles. Eu entendo que não sejam melhores amigos, ou os pais e filha de comerciais. Mas machucar você e fazer você chorar como chorou hoje, já ultrapassa todos os limites. Para mim já é demais.

— Domenico, eu não posso envolver vocês nisso. Me desculpe.

— Já envolveu, Melissa. Não vê que estou com você? Eu quero cuidar de você e te proteger. Somos nós dois, Melissa. A não ser que não queira. Que não me queira.

— É claro que eu quero. — Digo, já com o rosto banhado em lágrimas de novo.

— Então confie em mim, ragazza. — Pede quando toca meu rosto e levanta de encontro ao seu. — Por favor. O que ele te disse? O que ele te fez? — Pede, sendo um poço de calmaria novamente e beija minhas bochechas como se pudesse curar elas. As sinto doloridas e tenho certeza que estão roxas, mas os olhos verdes de Domenico me encarando é tudo que eu consigo prestar atenção no momento.

— Não me peça isso, por favor. Ele vai machucar vocês.

— Eu não estou pedido. Estou implorando que me diga. Que me deixe ajudar.

— Domenico...— O choro se inicia outra vez e ele me abraça, tentando me acalmar.

— Eu estou aqui. Pode confiar em mim. Eu estou aqui, minha doutora. — O abraço com toda a força que tenho e puxo o ar sentindo seu cheiro. Me afasto segurando seu rosto entre minhas mãos e então toco lentamente meus lábios nos seus, guardando a melhor lembrança em minha memória. É essa memória que quero guardar comigo. A doçura de Domenico, seus beijos e todo o seu carinho.

— Obrigada, por tudo.

— Eu não fiz nada. Não tem pelo quê agradecer, linda. — Diz com um meio sorriso, sem entender.

— Você já faz demais. Posso te pedir outra coisa? — Ele acena positivamente com a cabeça. — Me abraça até eu dormir?

— Ragazza, é claro! — Ele passa uma mão em meu rosto, tirando os fios de cabelo que agora está completamente bagunçado e me deito ao seu lado entrando em uma conchinha que ele faz e me sinto no local mais confortável do mundo.

  Eu pedi que me fizesse dormir, mas fiquei pensando em tudo e quando é Domenico quem dorme, levanto delicadamente da cama e pego minha mala. Eu tenho que fazer isso! Carlo nunca vai me deixar em paz e sempre irá voltar exigindo que eu faça mais um de seus gostos.

Encontro um pedaço de papel na cômoda e tento explicar a Domenico um pouco do motivo de fugir. É o que eu estou fazendo!

No fim, já entre lágrimas peço que cuide de Lino e que nunca esqueça que tudo que vivemos foi verdadeiro, justamente por isso estava indo embora. Para que eu possa ter somente memórias boas da família que me acolheu como se pertencesse a eles desde sempre.

  Pego meu gato no colo e ele fica sem entender. Mas o aperto forte contra o peito e prometo voltar para buscá-lo o mais breve possível. Ou quem sabe, algum dia. Então saio do quarto e olho mais uma vez para Domenico, dormindo tranquilo sob o colchão.

Domenico - Minha salvação.Onde histórias criam vida. Descubra agora