Volteeeeeeei!! 😁
Há um mês eu voltei para a faculdade e não poderia estar mais feliz. Mais tranquila? Talvez. Isso, ainda pelo fato de estar morando com Domenico.
Eu malmente o vejo e estudando em tempo integral, isso se complica ainda mais. Até mesmo aos domingos, quando tenho uma folga, durmo o quanto posso e como ele tem uma enfermeira para cuidar de suas necessidades, passo o dia com meu gatinho na maior parte, assistindo sem a presença de Domenico que ainda não tirou o gesso e por isso não pôde dar início a fisioterapia. Então a enfermeira o obriga a sair para passear na cadeira de rodas, que ele odeia.
- Posso? - Pergunta quando se aproxima do sofá, apoiado na muleta.
- Claro.- Me encolho mais e dou espaço para ele sentar.
- A enfermeira já foi embora?- Já. Graças a Deus. Não aguento mais ver a cara dela. Nunca conheci pessoa mais insuportável. - Tento segurar uma risada e ele percebe. Ele simplesmente odeia a mulher por tentar fazer o trabalho dela.
- Ela sabe que você não gosta dela. Sabia?
- Ela é insuportável. Me obriga a sair daqui, e me ameaça. Você acredita?
- Você precisa sair. Vai terminar morrer sem um pingo de vitamina D no corpo, senão pegar um solzinho às vezes.
- Prefiro. Ela fica me forçando a fazer as coisas e como Felippo não acredita em mim, tenho que aturar.
- Você não pode trocar de enfermeira?
- Não.
- Sério?- Pergunto, surpresa.
- É uma longa história. Mas não posso. Felippo acha que é drama meu.
- Vamos combinar que em parte, sim. - Cochicho para Lino em meu colo e tenho certeza que Domenico não ouviu.
- E quando vai tirar o gesso?- Não sei. O médico não deu uma previsão correta. Mas como foi algo grave, o do braço pode chegar a até dez semanas.
- Eu desejaria sorte, mas acho que precisa de mais que isso.- Sorrio e ele concorda.
- Eu vou me atirar desse sofá, qualquer dia desses. Prefiro morrer a ter que aturar aquela mulher por tanto tempo.- Gargalho com sua fala. Ele realmente está tão atormentado com ela, que está falando pelos cotovelos. Nunca vi ele dizer mais de duas palavras na mesma frase por tanto tempo em uma conversa.
- Me desculpe estar te enchendo com meus problemas. Como está indo na faculdade?- Bem. Muito bem. Já estou me sentindo adaptada de novo.
- E falou com seus pais?
- Pais? Não.- Respondo de imediato. As vezes esqueço que eles existem. Sequer fazem parte da minha vida e nesse tempo todo depois do casamento, nunca sequer ligaram para falar comigo.
- Eles são bem relaxados quanto a você. Vocês malmente se falam. Diferente dos meus pais que estão em cima de mim a todo momento.
- Eles devem ter muito o que fazer. Estão sem tempo para mim. - Digo, somente. E Domenico concorda apenas balançando a cabeça, mas com uma cara não muito boa.
- Você já jantou? - Pergunto, quebrando o clima que se formou?- Não. Expulsei aquela mulher antes dela fazer meu jantar.
- Está com fome?
— Muita. Eu só como aveia durante todo o dia. E eu odeio aquilo. Ela disse que é essencial no tratamento, mas até hoje não descobri para quê. Estou morrendo de fome nessa casa e nem meu irmão quer acreditar em mim.
- Meu Deus. Ela não pode fazer isso. Você tem que comer comida normal. Vai acabar ficando fraco e anêmico.
— É o que eu sempre digo. Mas ninguém quer me ouvir. — Ele diz com uma cara de coitado e eu não sei se está falando a verdade ou fazendo drama contra a coitada da enfermeira.
- Eu não costumo usar o cartão que Felippo me deu, só em grandes necessidades. Mas vou abrir uma excessão já que me contou sobre isso.
- Isso é sério?- Pergunta com sorriso no rosto.— Posso pedir qualquer coisa?
— Sim
— Posso pedir duas coisas?
— Pode.
— Eu quero a maior pizza que você conseguir encontrar para entregarem.
— Isso é fácil. E a outra?
— Quero me vingar do meu irmão. Ele atrapalha a minha vida e eu a dele.- Sorri, feito criança quando apronta algo e eu balanço a cabeça em negativa. Não acredito que vou ajudar ele com isso.
Passo o restinho da tarde e a noite com ele, planejando seu plano diabólico e comendo pizza. O pior? É que eu me diverti com isso. Na infância não tive muitos amigos e talvez "aprontar" com Domenico tenha trazido de volta esse lado infantil que eu não tive. O sorriso, a expectativa e a ansiedade de ver tudo que planejamos dar certo e principalmente de ver Felippo caindo em nossas armadilhas. Domenico me transforma!
— Você acha que meu irmão ainda vai trazer sua cama depois do que vamos fazer? — Domenico pergunta já deitado enquanto eu organizo os travesseiros, dividindo a cama para nós dois.
— Não sei. Acho que ele não vai vir nem aqui.
— Tomara. E melhor ainda se levar a enfermeira com ele.
— Você não acha que isso é demais? — Pergunto, imaginando se o plano de Domenico não é um pouco exagerado.
— Não. Já estamos acostumados com isso. Sempre fazíamos coisas assim o tempo todo. É algo natural entre nós.
— Sério? Quem foi o último que aprontou?
— Na verdade, faz algum tempo... — Ele fala, parecendo pensativo. — Aconteceram coisas e ficamos um tempo sem fazer essas brincadeiras. Achei que nossos dias de criança tinham acabado, mas agora percebi que já demos tempo demais. — Sorri em minha direção, recuperando o brilho de antes e eu me perco em seu mundo verde. Talvez nunca seja uma boa ideia encarar ele. Sempre perdemos a noção do tempo nos encarando. Analisando. Detalhando um ao outro. Em completo silêncio. Fazendo algo que ainda não entendi muito bem. Mas só fazemos um com o outro. Juntos.
— Eu vou buscar água. Você quer?— Pergunto, quebrando o silêncio e troca de olhares. Sempre deixo uma garrafinha no pequeno móvel do lado da cama para facilitar a vida de Domenico, principalmente durante a noite que ele bebe bastante água.
Pego a água e volto para o quarto, dando graças a Deus quando o vejo já deitado e com o cobertor na altura dos ombros, virado para outro lado, não me deixando ver se já está dormindo ou não, mas calado.
Deixo a garrafa de água no móvel e deito no meu lado da cama ainda com a imagens dos olhos de Domenico em minha mente. Mas não posso fazer isso. Não posso fazer isso comigo.
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Domenico - Minha salvação.
RomansaDomenico Moretti é o filho mais velho de uma grande família italiana que há muito se fixou na América. Donos de uma grande empresa e distribuidora de vinho, o primogênito é cotado como o futuro CEO da companhia da família que é presidida pelo pai. ...