XLVI

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Olha eu aqui.

  Olho Domenico ajoelhado em minha frente com uma aliança na mão e esperando uma resposta minha

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Olho Domenico ajoelhado em minha frente com uma aliança na mão e esperando uma resposta minha. As pessoas ao redor parecem ter esquecido seus voos e vejo até flashes de fotos que estão sendo tiradas. Lino está assustado em meus braços e eu estou sem reação e noção alguma do que fazer.

Domenico me olha esperançoso, e até mesmo para minha surpresa minha reação é correr. Aperto Lino e puxo a mala, correndo o mais rápido que posso. Escuto a voz do italiano me chamando, mas minhas pernas simplesmente não param. Eu não nasci para viver sob pressão.

Quando estou sem fôlego, paro e encaixo a corrente na coleira de Lino o colocando no chão. Ele caminha livremente pela rua, ao meu lado, enquanto eu empurro a mala. Foi a única que eu trouxe e agradeço por isso. Não conseguiria ir tão longe se tivesse mais alguma.

  Caminho mais um pouco e vejo um banco na praça, embaixo de algumas árvores que enfeitam o local. Então acelero os passos e agradeço internamente quando finalmente me sento. A essa hora do dia o movimento de carros está bem calmo e com pouquíssimas pessoas pela rua. O que acaba por dar a chance de novamente Carlo se aproximar.

— Não sei se fez o que pedi, mas realmente espero, para o bem de todos, que já esteja carregando um Moretti. Dessa vez não há espaço para mais um de seus charmes. — Escuto sua voz e me levanto assustada, já prendendo Lino em meu colo.

— O que está fazendo aqui?

— Calma. O que as pessoas vão pensar se virem você tão assustada desse jeito.

— O óbvio com certeza. Quero você longe de mim e como já disse, não vou fazer isso. Jamais terá seu nome sequer ligado aos Moretti. Não se depender de mim.

— Você vai. Claro que vai. E quer saber? Eu ainda irei assumir a presidência junto deles. Aquela empresa será minha. — Ele diz, extremamente calmo. De uma forma que eu nunca vi. E que chega a me assustar.

— Você enlouqueceu.

— Não, minha filha. Eu estou no meu melhor. Pode acreditar. E por isso, você vai fazer tudo que eu pedir. Vai juntar nossas famílias de uma vez por todas. O que me diz? Você também vai ganhar com isso.

— Se não percebeu, o casamento já acabou. Não existe contrato e muito menos eu e Domenico. Como havia me prometido, eu estou livre e não vou fazer mais nada que pedir.

— Eu fiz você. Se não percebeu, nunca vai se livrar de mim. Seu nascimento tirou tudo de mim, mas ao mesmo tempo me deu tudo que eu posso querer. Eu fiz tudo isso e ainda assim os Moretti ainda estão ao meu lado. Então esse casamento vai continuar e você vai me dar um neto Moretti. — Ele diz, sem tirar os olhos de mim e se aproximando lentamente.

— Eu não tenho culpa se foi irresponsável o suficiente com sua querida esposa e por isso eu nasci. Nunca tirei nada de vocês. Vocês se destroem sozinhos. Então não me ameace imaginando que eu vá abaixar a cabeça como sempre fiz. Não sou mais sua bonequinha de pano. Eu faço minhas escolhas. — Não sei de onde tirei tanta coragem, já que estou claramente me tremendo de medo que a qualquer momento ele avance em cima de mim. Mas dessa vez é ele quem me olha surpreso.

— O que deu em você? — Pergunta com um sorriso dissimulado.— Acha que pode se rebelar sem nenhuma consequência? Eu já avisei que nunca vai se livrar de mim. Então não complique. — Dá um passo em minha direção e eu me afasto no mesmo instante.

— Eu juro que eu vou gritar. Vou dizer a todo mundo quem você é.

— E quem vai acreditar em uma puta como você?— Grita com os braços abertos, apontando ao redor. — É só isso que você é. — E ele avança em mim. Segurando meu braço, com tanta força que sinto doer.

— Me solta. Por favor, só me esquece. — Peço, já com lágrimas nos olhos.

— Como eu posso esquecer minha filhinha?— Aperta mais meu braço e dá um de seus sorrisos nojentos.

— Sabe como?— Pergunto, quando aperto mais ainda Lino contra meu peito. — Assim. — Tomo coragem de uma vez e chuto no meio de suas pernas, fazendo ele dar um grito esganiçado pela dor e me soltando no mesmo instante em que começo a correr.

— SUA FILHA DA PUTA. VOCÊ ME PAGA. — Ainda escuto seus xingamentos, mas sem coragem alguma de olhar para trás, apenas corro desesperada. Quando já estou sem ar em meus pulmões, paro ofegante e me sento encostada na parede de uma varanda em uma casa qualquer, ficando menos visível que na rua.

  Aperto Lino em meus braços e ele mia em reclamação. Acho que nunca apertei tanto o bichinho e sem contar que estamos correndo feito loucos desde cedo, sempre fugindo de um ou outro. Quando respiro fundo e olho em frente na rua sem ver um pé de gente, lembro de algo muito importante, minha mala. Mais uma vez perdi tudo. Tudo estava lá. Só me restou uma bolsinha de ombro com algum dinheiro e o celular.

  Lamento em frustração e que mais uma vez Carlo esteja envolvido. É sempre ele que me tira tudo e tenho certeza que vai vim atrás de mim de novo. Ele não desiste. Sabe o quanto sou fraca e com certeza se surpreendeu com minha reação hoje. Mas que para ele não significa nada.

— Você deixou isso. — Me assusto com a voz de Domenico e quando olho, lá está ele com minha mala em mãos.

— Como me achou?- Pergunto com cenho franzido.

— Depois do seu toco, eu ia voltando para casa e vi Carlo praguejando pelo que fez com ele. Então peguei sua mala e segui andando sem saber para aonde ir. Até te encontrar aqui.

— Domenico, eu não...

— Você chuta muito bem, doutora. — Ele sorri e volta a andar se distanciando de mim e por um momento eu só consigo achar graça em como vi Carlo caído no chão. Eu corri assim que ele me largou, mas ainda consegui vê-lo caído e foi da mesma forma que eu fiquei em todas as vezes que ele me bateu ou humilhou. Gargalho achando graça e quando olho, lá está Domenico me encarando com um sorriso no rosto.

— Ele não vai te machucar. Nunca mais. Eu prometo. — Paro com a risada e só consigo encarar Domenico, vendo o quão sincero está sendo. — Vamos embora. Vamos para casa.

— Mas eu me despedi de todo mundo. Eles acham que eu fui para a Argentina.

— A minha família vai amar te receber de volta. Não se preocupe.  — Ele estende a mão pedindo que eu o acompanhe.

— Domenico, eu ainda te deixei ajoelhado no aeroporto esperando uma resposta minha. Me desculpa por isso.

— Vamos embora, Melissa. Angelo está vindo nos buscar. — Ele apenas diz e volta a caminhar se distanciando de mim. Balanço a corrente de Lino e percebendo do que se trata, o gato que observava a casa que nos abrigou caminha ao meu lado me acompanhando.

Domenico - Minha salvação.Onde histórias criam vida. Descubra agora