Não me julguem, por favor. Eu sempre volto.
E lá estava eu, há uma semana fingindo que o mundo ao meu redor não existe. Choro, como e durmo. Nem mesmo tenho ânimo para ler um dos diversos livros da prateleira ou assistir o reprise do programa de culinária que aprendi a assistir desde que fui morar com Domenico.
— E então, como foi o dia? — Gabriel entra no apartamento parecendo um pouco assustado e pergunta com um sorriso quase forçado no rosto. Quando resolvi fugir da ilha, foi a ele que recorri. Durante o caminho, o rapaz conseguiu me convencer de que eu não conseguiria ir longe e logo seria achada por um Moretti, que ele achava ser de quem eu estava fugindo, então resolvi aceitar sua proposta de passar algum tempo em seu apartamento, mas com medo de que meu pai me encontrasse.
A ideia é que seriam só alguns dias, mas não posso mentir que estou apavorada com a ideia de que meu pai cumpra a promessa e venha atrás de mim. Durante esse tempo não tive contato com os Moretti. Nem mesmo o celular que Antonella comprou, trouxe comigo. Mas segundo Gabriel, todos seguem em minha busca. Me sinto culpada, mas infelizmente não posso voltar. Sei que é para o bem de todos.
Não posso negar, estou morrendo de saudades dos Moretti e meu gatinho. Mas se eu voltar agora, tudo que fiz terá sido em vão e tenho certeza que Carlo irá machucar a todos, sem poupar ninguém.— Eu estou na mesma. E você? Como foi na faculdade?
— Não tem graça quando você não está lá para contrariar o professor. — Sorri e caminha até o sofá onde estou prestes a me sentar.
— Vou assistir o programa de culinária. Quer assistir junto comigo?— Pergunto quando pego o controle e ele nega.
— Não. Não ligue a televisão, por favor.
— Não? — Pergunto sem entender.
— Preciso da sua ajuda com uma revisão que foi passada.
— Revisão? De novo?— Gabriel parece nervoso e enquanto fala parece mais preocupado com o controle que comigo.
— Você está bem? Eu só vou ligar e posso te ajudar, sem problemas. — Aperto o botão do controle e ele respira fundo em discordância. Mas somente quando vejo a manchete do programa de fofoca, entendo sua apreensão.Casamento às pressas, feito somente pelo Ibope, atração de seguidores e vantagens entre sócios parece ter chegado ao fim.
— Deus! Quando que isso começou?— Pergunto boquiaberta quando vejo algumas imagens minhas com Domenico ainda no hotel.
— Começou hoje pela manhã. Não queria que você visse. — Vem até mim e toma o controle das minhas mãos zerando o volume da televisão. — Estão fritando você e os Moretti. Heitor deu uma entrevista em defesa deles e está fazendo o possível para ajudá-los, mas a cada hora aparece novas imagens de vocês. Em lua de mel, na cafeteria, no hotel...
— E de onde tiraram essas imagens?
— No hotel, descobrimos câmeras que não pertencem a rede de segurança. Foram retiradas para investigação, mas é muito difícil saber quem realmente é o principal nessa história já que as imagens não são só de lá.
— Estamos brigando em todas as imagens?
— Não. Em algumas parece que rola um clima entre vocês e é o que está salvando. Estão começando a romantizar isso. Mas não gostaram nem um pouco da mentira do casamento.
— O que eles disseram?
— Os Moretti? Não se pronunciaram. Mas segundo Heitor, todos os sócios estão pensando em tornar Domenico inelegível à presidência da empresa.
— Isso tudo é culpa minha. Minha. Se eu tivesse ficado...
— Você não tem culpa. Alguém quis sabotar vocês e sabendo da verdade, conseguiu. Não me leve a mal, mas desde o início que eu suspeitei desse casamento e não demoraria muito para surgirem murmúrios.
— Você não entende. Ninguém entende. Não é como se tivéssemos tido escolha. — Reclamo e uma lágrima molha meu rosto.
— Tudo está uma bagunça. Você não pode voltar, se está pensando nisso. Não agora. Além de que a revelação de Carlo só fez aumentar toda a pressão em cima da família italiana.
— O que ele fez?
— Se disse surpreso com tudo isso. E que não fazia ideia que se tratava de uma mentira quando resolveram se casar. Nunca planejou algo do tipo para a filha, mas estava de braços abertos caso quisesse voltar.
— Meu Deus! Como ele pôde?
— Também não sei. — Ele concorda, já que hoje sabe toda a verdade sobre meu pai. Ele sempre foi o mais gentil possível e sempre preocupado com o meu bem estar, mas durante esses dias me senti pressionada e precisando de um ombro amigo para enfim chorar e desabafar sobre tudo, contei a ele toda a história desde o início. Envolvendo tudo que meus pais fizeram e possivelmente pensam em fazer. Queria muito poder contar aos Moretti mas, diferente da família italiana, Gabriel não está na lista negra de vítimas do meu pai.
— Nunca esteve nem perto de ser. Ele me colocou no meio disso, Gabriel. Tudo isso é culpa dele. Agora vejo que ele sempre teve um plano. Mesmo que tudo desse errado, ele ainda sairia como a vítima. — Começo a ligar uma informação a outra e cada vez mais pareço entender do que ele é capaz.
— Eu sei que se preocupa com os Moretti, mas acho que deveria se preocupar muito mais com você. Eles sabem se defender e tem recursos para isso. Mas você não tem um outro alguém com quem contar. Então venha comigo. Já lhe ofereci essa opção uma vez e estou aqui de novo. Mudamos de cidade ou de país se preferir, juntos. — Ele se aproxima e toca meu rosto e súplica enquanto propõe que fuja com ele.
— Eu não posso fazer isso com você. Agradeço o que está fazendo por mim, mas fugir com você e recomeçar uma vida ao seu lado já é demais.
— Eu não me importo com o que sente por mim, apenas quero você ao meu lado. Podemos nos apaixonar, não? Você pode se apaixonar por mim.
— Eu... — Fecho os olhos lembrando dos sorrisos de Domenico. Suas risadas e das nossas noites juntos. Nunca denominamos nada, mas o sentimento sempre esteve ali. Pelo menos da minha parte. — Eu sou apaixonada por ele. — Assumo pela primeira vez em um fio de voz e ele paralisa.
— Então não estavam...
— Atuando? Não. Já há algum tempo era de verdade. — Ele respira fundo parecendo entender e se levanta caminhando até a porta.
— Eu entendi. Vou dar um jeito de tirar você daqui. Não saia enquanto eu não voltar.
— Aonde você vai?— Não tenho tempo de perguntar quando ele sai e fecha a porta atrás de si. Não sei o que esperar, mas pelo menos nos últimos dias aprendi a confiar em Gabriel que sempre fez de tudo para me manter bem e segura.
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Domenico - Minha salvação.
RomanceDomenico Moretti é o filho mais velho de uma grande família italiana que há muito se fixou na América. Donos de uma grande empresa e distribuidora de vinho, o primogênito é cotado como o futuro CEO da companhia da família que é presidida pelo pai. ...