CAPÍTULO 23

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LUCIANO

Adriano segue feliz pra emergência enquanto eu vou a cantina comer alguma coisa pois estou desde cedo apenas com uma xícara de café no estômago, isso me faz lembrar o Be mas ao mesmo tempo fico aliviado pois ele come como um leãozinho pela manhã, aquele não nega comida e acho que não terá problemas com a hipoglicemia.

Como uns pães de queijo com café e decido ir embora quando encontro Leonardo chegando na cantina.

_ Doutor como está? Senti a sua falta aqui.

_ Oi Léo. Estou bem e daqui a pouco estarei de volta.

_ Fiquei com receio que doutor Lorenzo os dispensase mas vi doutor Adriano na emergência então está tudo bem né?

_ Sim está, eu e o Adriano conversamos e vimos que brigamos a toa.

_ Conversaram com o Bernardo também?

_ Não, ainda irei conversar com ele, mas sei que será mais difícil por motivos óbvios.

_ Mas porque não conversaram? Ele me pareceu tão convicto que queria conversar.

Eu franzo a sombrancelha entranhando.

_ Quando?

_ Hoje. Agora a uns vinte minutos atrás, ele me pediu pra o levar até a sala dos médicos e eu o deixei no corredor e indiquei onde era pois estava com pressa.

_ E como eu não o vi?

Ele da de ombros.

_ Caralho o que ele escutou dessa vez? Só falta ter ouvido alguma coisa e ter interpretado da pior maneira novamente, que merda.

Saio apressado do hospital disposto a ir atrás de Bernardo e tentando me lembrar o que foi que eu e Adriano conversamos que ele possa ter interpretado mal a ponto de ir embora sem se fazer notado.

Pego meu carro no estacionamento e sigo apressado pro apartamento dele, uns tempo depois ouço uma freada seguida de uma batida e freio o carro assustado, em seguida um carro sai em disparada, vejo uma mulher deitada no asfalto e só ai percebo que ela foi atropelada e o motorista fugiu, uns carros foram atrás dele mas eu desço correndo do carro e vou ao encontro da mulher. Chego aviso que sou médico e peço pras pessoas em volta se afastarem.

_ Senhora.. consegue me ouvir?

Pergunto a ela mas não mecho nela.

_ ALGUÉM LIGA PRO HOSPITAL SAMARITANO E PEDE UMA AMBULÂNCIA?

Peço as pessoas e volto a falar com a senhora.

_ Consegue me ouvir?

_ Si... sim..

Ela diz tremendo.

_ Eu me chamo Luciano, sou médico e irei cuidar da senhora ok?

_ Sim..

_ Preciso que me diga se consegue se mecher..

_ Meu bebê..

Olho assustado pra barriga dela e só agora vejo que ela está grávida.

_ Qual é o nome senhora?

_ Márcia. Salva o meu bebê por favor, se eu morrer cuida dele..

_ Márcia fica calma, a senhora não vai morrer ok? Faremos de tudo pra te salvar. Me diga se consegue se mecher? Preciso saber se quebrou alguma coisa.

Verifico pernas e braços dela e a perna esquerda está quebrada em dois lugares e ela perde bastante sangue, pego o lenço que ela trazia enrolado no pescoço e amarro na perna dela conseguindo estancar o sangue.

_ Meu bebê, ele não tem ninguém, não o jogue num abrigo por favor... eu, eu vim de la é horrível... por favor cuide dele..

_ Fica calma Márcia, por você e pelo bebê fica calma.

_ Me promete que cuida dele, o pai dele nos abandonou ele não pode ficar no abrigo..

A ambulância chega e eu não consigo abandonar aquela mulher que chora e me pede com um olhar suplicante que eu cuide do bebê dela. Como? Eu nunca me dei muito bem com bebês eles me odeiam, apesar de ser médico não tenho jeito nenhum com bebês mas entro na ambulância com aquela mulher e peço a um dos paramédicos levar o meu carro, estamos relativamente perto do hospital. Pego nas mãos dela e a deixo mais calma prometendo que cuidaria do bebê dela.

_ Eu cuido, fica tranquila, você precisa se acalmar.

_ Obrigada, obrigada...

Ajudo nos procedimentos e parece que eu a conheço a muito tempo apesar de nunca a ter visto.

_ Quanto tempo?

Pergunto antes de colocar a máscara de oxigênio.

_ Sete meses.

Ela diz e fecha os olhos. Colocamos a máscara e fazemos o primeiro atendimento dela na ambulância mesmo, mas infelizmente ela parece ter hemorragia interna, isso só descobriremos na mesa de cirurgia, isso me corta o coração apesar de eu ja ter visto vários casos desses. Lorenzo me autoriza a auxiliar ba cirurgia mesmo estando de férias e vamos eu, Adriano, Júlio o obstetra e a pediatra pra sala de cirurgia e como temia a Márcia não sobreviveu, mas o bebê sim, um bebê pequeno pro tempo de gestação e por isso foi pra incubadora. Eu digo a assistência social o desejo da mãe e o médico que estava comigo na ambulância confirma, assim como as pessoas que estavam na sala de cirurgia e uma semana depois eu fico paralisado quando ela diz que sou apto a adotar o bebê ja que foi desejo da mãe, novamente eu vou a incubadora olhar aquele bebê que está se desenvolvendo a olhos vistos e digo com a voz falhando com emoção, medo e sei la o que mais.

_ Filho. Meu filho.

APRENDER A PERDOAROnde histórias criam vida. Descubra agora