45 - Aquele onde ele fica de ressaca.

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🎨 | Boa leitura!

Faz três dias que ela foi embora

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Faz três dias que ela foi embora. E faz três dias que eu estou sobrevivendo de forma robótica nesse apartamento. Pedi demissão há dois dias, mesmo não tendo terminado todo o meu planejamento. Apesar disso, espero conseguir fazer o que posso com o que tenho. Não vai ser algo perfeito e tranquilo, mas vai ser alguma coisa, eu vou começar a ser o meu próprio chefe e isso vai dar certo. Já que eu fiz a Dulce escolher a sua carreira, devo escolher a minha também.

E tudo isso só vai funcionar porque construí um nome em Houston com clientes que vinha conquistando durante o meu tempo trabalhando para a empresa. Sei que comigo saindo, muitas pessoas vão vir atrás de mim. E agora que sou independente e meu trabalho não será mais totalmente gerenciado de forma remota, minhas raízes nova-iorquinas estão se prendendo ainda mais no solo do Texas.

Hoje Dulce está se mudando para Nova York. Só sei disso porque Anahi me mantém informado, já que eu saí do nosso grupo de mensagens. Acho justo que seja eu a me afastar, já que todos os amigos que fiz recentemente são os irmãos dela. É como reviver o meu término com a Norah nesse quesito, estou abdicando das pessoas que faziam parte do mesmo círculo social e estou entrando em uma nova realidade onde ela não faz parte da minha rotina.

Mas existe uma diferença, uma grande diferença. Quando Norah e eu terminamos, eu não senti esse vazio, como se algo tivesse sido tirado de mim. Antes eu havia aceitado, eu balancei a cabeça positivamente e pensei "que se dane". Não me permiti sentir nada além de raiva por ter perdido todo aquele tempo. Agora parece que minha mente e meu corpo estão em universos diferentes. Penso em ficar na cama o dia todo, no entanto, minhas pernas se movem e minhas mãos trabalham para fazer tudo o que preciso.

O único momento em que realmente tudo para e o mundo silencia é quando eu sento no chão frio do meu escritório e encaro o retrato que ela começou a pintar de mim. Estou nesse exato momento olhando para a tela, aproveitando os últimos minutos antes que Poncho venha buscá-la. Os irmãos de Dulce se dividiram para levar as coisas dela nos últimos dias e esse quadro foi a única coisa que sobrou. Me parte o coração ter que deixar que ele seja levado. Mesmo estando incompleto, sinto que é o único resquício que me resta de nós dois. E como um viciado, eu queria só mais um pouco disso.

A campainha do apartamento toca e eu pisco, percebendo só agora o meu rosto úmido de lágrimas. Nem notei que comecei a chorar. Relutante, levanto do chão, enxugo o meu rosto e vou atender. Sei que é o Poncho, mas ainda assim solto um resmungo desagradável quando abro a porta e o vejo.

— Sempre bom ser recebido com tanta animação. — ele ironiza e passa por mim, entrando na sala.

— Faça isso rápido. Como arrancar um bandaid.

Ele me olha como se não soubesse o que dizer e eu impeço esse momento de constrangimento fazendo sinal para que ele me siga. Poncho solta um assobio ao entrar na sala da vidraça. Ele para diante da vista panorâmica de Houston e parece maravilhado com a imagem.

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