25 - Aquele onde só tem uma cama.

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🎨 | Boa leitura!

Eu tentei falar o mínimo possível durante o jantar, e se falava sempre era para responder tão acidamente as coisas ácidas que a minha mãe dizia

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Eu tentei falar o mínimo possível durante o jantar, e se falava sempre era para responder tão acidamente as coisas ácidas que a minha mãe dizia. Gostaria que Dulce tivesse ficado, mas acho até que foi melhor ela sair. Deu pra ver que ela estava ficando mal com as coisas que a minha mãe fala e eu não quero que ela se sinta assim. É como assistir uma rosa murchar debaixo de uma tempestade agressiva.

— Bem diferente a sua namorada. — minha mãe diz. — Não lembro de você ter interesse por artistas.

— Eu não categorizo as mulheres dessa forma.

— Mas você sempre prefere as mulheres mais centradas, aquelas de quem você sempre sabe o que esperar. Mas essa menina? Ela é imprevisível, não é?

— Você não a conhece. — digo aborrecido.

— Mas sabe que eu estou certa. — ri. — Um artista coloca muito de si na sua arte. Veja os quadros dela. São diferentes e, ao mesmo tempo, se completam. É como um quebra-cabeças que forma uma imagem sem sentido. Imprevisível.

Essas foram as palavras mais relevantes que ela disse desde que chegou. E ela está certa. Eu nunca sei o que esperar da Dulce. Se amanhã ela vai trazer um gato machucado para que a gente cuide ou se vai se trancar numa busca compulsiva de uma cor de tinta que ela nunca consegue decidir qual é. E ao mesmo tempo, eu sei lê-la.

Às vezes, acho que sei o que ela vai dizer antes que ela diga. Sei como ela se sente só observando o quão seus olhos brilham naquele dia. Sei quando ela está desconfortável quando fica apertando alguma coisa entre os dedos, ou quando fica em silêncio. Saber que ela está feliz é o mais fácil, porque ela sempre sorri como se tivesse ganhado na loteria.

— Pra onde ela foi mesmo? — minha mãe pergunta. — Sinceramente, prefiro conversar com ela. Você sempre parece estar querendo brigar comigo.

— Ela está na casa da avó. — afasto meu prato ainda pela metade. — Perdi a fome, vou para o meu quarto. Se precisar de alguma coisa, por favor, tente fazer sozinha o máximo que puder antes de ir me importunar.

— Claro, meu filho querido. — debocha.

Vou para o meu quarto e tento adiantar algumas coisas do trabalho no notebook, mas não consigo me concentrar. Hoje eu tive que demonstrar coisas sobre a Dulce, tocar nela, defendê-la, falar sobre ela como se estivesse apaixonado. E quando penso em como expliquei para a minha mãe o nosso primeiro encontro, percebo que eu não detalhei a situação, mas sim como eu me senti.

E eu estaria mentindo para mim mesmo se dissesse que menti. Não foi exatamente isso que ela fez? Eu tinha uma pedra no lugar do coração e ela escavou até achar alguma coisa que tivesse batimentos. Nunca estive tão amolecido por dentro desde que vim para esse apartamento. E a culpa é totalmente daquele raio de sol. E quando penso nela, alguma coisa se expande no meu peito. Nunca me senti assim, então não sei como nomear, só sei que é real. É real e me apavora.

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