46 - Aquele onde ela odeia Nova York.

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🎨 | Boa leitura!

Acho que vou comprar uma arma e explodir os meus miolos

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Acho que vou comprar uma arma e explodir os meus miolos. Talvez eu faça isso na frente de uma tela mal acabada para que os respingos caiam nela e esta se torne uma dessas obras macabras que vão ficar para sempre cravadas na história da humanidade. Eu queria, pelo menos, enfiar longas agulhas nos meus ouvidos e machucar os meus tímpanos até ficar surda. Só estou morando com a Alexandra há duas semanas e tudo o que ela me disse até então vai me render umas vinte sessões de terapia.

Acabo de terminar uma pintura que iniciei assim que coloquei os meus pés dentro da propriedade dela. E desde que segurei um pincel, ela não me deixou em paz. Tudo sempre estava ruim ou básico para ela. De repente, ela agia como uma tirana, não como a mulher que me enxergava como a sua galinha dos ovos de ouro. Se foi assim que ela criou o próprio filho, eu meio que entendo o porquê de ele querer ficar há quilômetros de distância. Nova York parece uma gaiola de passarinho me deixando claustrofóbica e sem lugar para me esconder quando Alexandra resolve vir me atormentar com suas críticas e ideias que eu não pedi.

— Eu achei que você era uma artista cheia de nuances e cores. — ela fala olhando para a tela como se estivesse em choque. — É sério que um término de relacionamento vai te fazer perder a sua essência?

— O quadro se chama Melancolia. Você queria que eu pintasse um arco-íris? — falo aborrecida. — Eu pinto as coisas como elas se parecem para mim.

— Isso é macabro. — aponta para a tela. — A tristeza deveria ser algo belo.

— Não vejo nada de belo em sofrer. E como eu disse, essa coleção se trata de como eu enxergo o mundo.

— Só estou dizendo que destoa do seu estilo.

— Meu estilo está no tema da coleção e a explicação para a existência dela.

Alexandra respira fundo e solta o ar enquanto nega com a cabeça sem esconder nenhum pouco o seu ar de desaprovação. Ela cruza os braços e me olha de cima a baixo como se eu fosse uma garotinha má que está prestes a levar um sermão.

— Me decepciona saber que você não seguiu nenhuma das minhas sugestões. Está aqui por minha causa, Dulce. Estou nesse ramo há anos, deveria ouvir a voz da experiência e não ser uma estúpida.

Travo o maxilar e fecho minhas mãos em punhos, apertando minhas unhas nas palmas de um jeito que machuca. Estou tão irritada que tenho vontade de jogar a tela na parede e quebrá-la em pedacinhos na frente dessa megera.

— Mas o que podemos fazer? — dá de ombros. — Pinte algo mais agradável da próxima vez. — ela caminha em direção à porta do estúdio. — Mandarei o Benjamin te chamar quando o jantar estiver pronto. — abre a porta, mas se volta para mim uma última vez. — Não leve para o lado pessoal, querida, eu só quero que você voe alto. Começou bem ao escolher a sua carreira ao invés de um namoro fadado ao fracasso. Christopher nunca seria bom o bastante pra você.

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