Indo atrás da cura

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Saí dali sem dar muitas explicações a nenhuma das três. E apesar de não saber se ia dar certo, fui assim mesmo.

Eu tinha que tentar.

Corri até o escritório de Lince e entrei no armário. Como das outras vezes, eu saí no meu quarto, de dentro do guarda-roupa. E ao me olhar no espelho, vi que eu estava de jeans e camiseta azul.

Porém em minhas mãos eu ainda podia ver traços do sangue do Cavaleiro Negro.

Tomei banho, vesti um short com uma blusa rosa chiclete, combinando com as mechas do meu cabelo, e desci. Lá embaixo, estava tudo do jeito que era antes, nada fora do lugar.

Eu me sentia estranha. Apesar de ter passado quase um mês fora de casa, tudo permanecia parado, e o meu relógio agora marcava onze e trinta e sete da manhã.

Dei a volta em torno da casa até a garagem e peguei meus patins. Depois de calçá-los, rapidamente saí pela rua, procurando a casa da minha solução mágica.

Parei em frente a uma casinha linda, pintada de azul com venezianas brancas. Ao chegar ao alpendre, tirei os patins e subi para a varanda. O jardinzinho na frente era muito colorido, com rosas, tulipas e margaridas plantadas por quase toda a extensão do terreno. Toquei a campainha, e quando ouvi a maçaneta girar, meu coração aliviou-se: ela estava em casa.

Mabel.

- Ah, Maria Samantha. - Engraçado. Ela e vovô sempre me chamavam assim, Maria Samantha. O resto todo me chamava de Sam. Mas em vez de dar um ar de bronca na conversa, pelo contrário, era até mais doce eles me chamarem pelos meus dois nomes. - Seu avô saiu daqui agora a pouco.

- Eu sei dona Mabel. - respondi. - Mas não vim atrás de vovô. Será que dava pra eu conversar com a senhora?

- Claro, entre. - respondeu ela, abrindo a porta e me dando passagem.

Lá dentro, eu me senti como se estivesse em Kim novamente. A decoração da sala era muito parecida com a da sala de estar da casa de Lince Parda. Sentei-me no sofá e ela me perguntou se eu queria alguma coisa. Disse-lhe educadamente que não queria, pois não tinha muito tempo para ficar ali.

- Bom, começou Mabel, comece a falar. O que fez com que você viesse até aqui em minha casa?

Suspirei.

- Eu já sei de tudo.

Vi que a expressão em seu rosto mudou. Perguntou-me:

- Tudo o quê? Não sei do que você está...

- Por favor, eu não tenho muito tempo. Sobre Kim, a profecia, Kiara, Katrina... - eu pausei, pois estava ofegando. Mas depois continuei - e Samantha.

Dessa vez, ela sorriu. E em vez de continuar afirmando que não sabia de nada, ela falou:

- Seu avô me disse que havia lhe contado. Mas não entendo porque você veio aqui. Se quiser saber onde é o portal, eu lhe digo.

Narrei a ela resumidamente os acontecimentos, desde a minha ida para Kim até o momento em que achamos o meu avô. Finalizei dizendo:

- Então eu resolvi vim até aqui, pois sei o quanto o meu avô gosta da senhora. E se a senhora não for comigo, ele ficará para sempre servindo a Samantha.

Ela estava com os olhos cheios de lágrimas. Olhou para mim e disse:

- Maria Samantha, eu amava o seu avô. Mas isso foi quando éramos jovens. Eu já estou velha e ele também. Faz muito tempo que fomos para Kim. Não sei se ele se lembrará de mim.

- Ele está tão jovem quanto eu. Temos que tentar. É a única esperança.

Ela enxugou as lágrimas e me disse:

Sam, a assassina do mundo perdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora