O Conde de Salisbury

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Despertei lentamente, como num sonho.

Primeiro a luz abundante.

Depois o teto decorado com bordados de flores de cerejeira.

"Não é um teto," pensei, "é o dossel de uma cama."

O quê?!

Senti minhas costas apoiadas em travesseiros macios como se fossem nuvens. Eles cheiravam a lavanda recém-colhida. Os lençóis de seda e linho que eu estava usando eram vermelhos com os mesmos bordados do dossel em fios de ouro.

A primeira pergunta foi: "Onde é que eu estou?"

Sentia-me tonta e um pouco fraca. Passei a mão na cabeça a procura do galo devido a pancada no galho.

Nada. Nem mesmo um minúsculo arranhão.

Sentei-me na cama e olhei o quarto. Era enorme, muito maior do que qualquer um dos quartos que eu havia tido durante o tempo em que estava em Kim. A decoração era luxuosa, com quadros de molduras douradas nas paredes, cortinas de veludo branco nas grandes janelas de vidro, armários, espelhos, tapetes, cadeiras, poltronas, uma lareira com lenha perfumada crepitando...

Eu só podia estar sonhando.

Levantei e olhei tudo. Quando passei em frente ao espelho, parei.

Eu estava usando um vestido bege que ia até os joelhos e sapatos da mesma cor.

"Onde estão minhas armas?" pensei.

- Senhora, ainda bem que acordou... - ouvi uma voz baixa e mansa vindo da porta do quarto.

Era uma senhora idosa, com feições carinhosas e gestos firmes mas delicados. Trazia uma bandeja de comida que exalava um aroma delicioso. Pousou-a sobre a mesa próxima a janela e disse:

- O senhor conde pediu que eu viesse ver se a senhora está precisando de alguma coisa. - e olhando em volta, perguntou. - O quarto está do seu agrado senhora?

Olhei para os olhos claros e límpidos da mulher e perguntei:

- Onde eu estou?

A velha baixou a cabeça.

- O senhor conde não permitiu-me dizer nada a senhora. Tenha um bom café.

Ela saiu do quarto sem dizer mais nenhuma palavra, deixando-me espantada e aliviada ao mesmo tempo.

Sentei-me e comi. Estava tudo realmente divino. O "senhor conde" deveria ter uma ótima cozinheira. Debaixo do bule de café, encontrei um envelope endereçado a "Senhorita Samantha Ribeiro, ou para Sam, a assassina do mundo perdido".

Abri-o rapidamente.

"Como já deve ter notado" a letra era puxada, mas bonita. "Está um belo dia de inverno lá fora. Para que se situe no horário, são quatro e dezessete da tarde. Tem um relógio perto do armário, caso precise. As nove horas, Melissa irá buscá-la para o jantar. Meu castelo tem regras e para que possamos conviver em harmonia você terá que obedecê-las. Pode usar tudo o que quiser, mas não poderá sair do seu quarto sem minha permissão. Qualquer coisa que não agradá-la, toque a campainha ao lado de sua cama. E o mais importante: NUNCA, jamais, nem mesmo em seus mais remotos pensamentos tente saber quem sou, meu nome, aonde vou e de onde vim OU tirar minha máscara. Espero não tê-la ofendido, mas se quiser continuar aqui, precisa me obedecer."

Virei a folha em busca da assinatura, mas pelo contexto, não era preciso.

Eu estava presa no castelo do Cavaleiro Negro.

Meu Deus!

Abri as cortinas. Surpreendi-me com a paisagem.

Estava tudo completamente branco.

Sam, a assassina do mundo perdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora