Sam, a assassina do mundo perdido

Sonhos estranhos e realidades mais ainda

Eu estava correndo o mais rápido que eu conseguia na floresta fechada. Era de manhã bem cedo ainda e a chuva caía escurecendo a floresta como um chuveiro aberto, me encharcando. Até que tropecei em uma raiz no meio do caminho que não havia visto e caí de bruços no chão. A mochila pesava nas minhas costas, e o frio era de rachar. Escutava ao longe os cascos de cavalo ecoando pela mata, e aquilo me aterrorizava. Eu sentia a presença de alguém ali, só que não conseguia distinguir quem era; de fato, comecei a ver pares de olhos amarelados aparecendo por entre as folhagens... Depois dois límpidos olhos azuis...

- Sam...

* * *

- Sam...

Acordei sobressaltada. O quarto estava às escuras, e a chuva ainda caía forte lá fora. Do sol, nem sinal.

- Sam...

Era um sussurro baixo, vindo da porta. Pelo jeito de falar, achei que fosse Igor querendo me contar o que sabia sobre Kim. Mas, mesmo com a escuridão, eu conseguia ver que estava completamente sozinha no quarto.

- Igor?

Ninguém respondeu. Peguei a lanterna de dentro da mochila e fui para fora do quarto. Não havia ninguém no corredor, então segui até o quarto de Igor, que era bem ao lado do quarto de Luz.

- Acha que está fazendo efeito?

Era a voz de Lana, meio abafada pelo barulho da chuva, mas eu a escutava perfeitamente. Vinha lá de baixo, da sala; até que ouvi a voz de Luz:

- Não se preocupe com o garoto e nem com o velho. Eles estão mais hipnotizados do que qualquer um dos nossos. Mas a garota... Ela me preocupa. Não tenho certeza se ela bebeu o chocolate quente todo.

"Meu Deus!" pensei, horrorizada. "Ela não é aliada de Katrina, é.... Ela é do outro lado!" Mal sabia eu que o pior ainda estava por vir.

- E o que vamos fazer com ela? - perguntou Lana, com pouco-caso.

- Por enquanto, nada. - respondeu Luz no mesmo tom. - A rainha quer matá-la pessoalmente; mas quer matá-la na frente de Katrina e do velho rei Korus...

Controlei-me para não desmaiar ali no corredor. Elas falavam de um jeito que me entorpecia os músculos e paralisava o cérebro.

- Quanto ao garoto - Luz continuou dessa vez num tom mais ameno - poderá ficar com ele, se ele se mostrar submisso e obediente à rainha.

Lana riu.

- Isso é mais fácil do que subir lá encima e matar a garota...

Não aguentei ouvir mais. Fui para o quarto de Igor e entrei sem ao menos bater na porta. Mas ele nem percebeu, pois dormia como um anjo. Parecia não notar nada que acontecia ao redor, ou em qualquer lugar. Ele era tão bonito, dormindo, indefeso como um bebê... Meu coração estava disparado com o que acabava de ouvir, tanta coisa pra eu encaixar! Mas eu sempre tive pensamento rápido; então teci a história da seguinte maneira:

Igor e vovô ficaram aqui por um bom tempo, já que estavam tão hipnotizados. Um mês, talvez. Luz deve ter se vendido para a outra, julgando que estar do lado de Katrina não era muito proveitoso. Mas algumas perguntas ainda não estavam respondidas: quanto tempo exatamente eles ficaram aqui? Qual o nome da inimiga de Katrina? Por que Luz se vendeu para os inimigos de Katrina?

Eram muitas perguntas, mas nenhuma resposta. Eu tinha certeza de que acharia as respostas quando estivesse frente a frente com Katrina; mas, ali, presa naquela casa, eu não iria conseguir saber a verdade.

Voltei silenciosamente para o meu quarto, bem em tempo de ouvir passos que subiam rapidamente a escada. Fechei a porta e me joguei na cama, tentando respirar o mais calmo possível. Vi a réstia de luz que veio da porta, quando alguém a abriu. Era Luz, que olhava se eu estava dormindo. Fechei levemente os cílios, e senti quando ela se aproximou e me fitou. Senti um arrepio subir a espinha, me deixando arrepiada dos pés à cabeça. Ainda bem que ela saiu logo, por que eu já estava ficando com muito, muito medo. Depois que Luz se foi, fiquei de olhos abertos na luz fraca que começava a vir da janela pensando no que fazer. Não sei quanto tempo fiquei daquele jeito, mas acho que não foi muito. Não sei direito.