A história de Miguel Spin

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Faz quase dez anos que cheguei aqui.

Meu cotidiano no outro mundo era acordar, ir para o colégio, e ouvir as brigas dos meus pais.

Eles estavam se separando, e todos os dias era a mesma coisa: brigas pelos motivos mais idiotas. Ou era por ter deixado a torneira pingando, ou o carro estava sem gasolina, uma toalha molhada encima da cama, e até mesmo um tapete mal esticado na porta. E assim meus dias corriam todos iguais e todos chatos.

Como eles brigavam muito, eu passava praticamente invisível pela casa. Minha casa tinha um quintal enorme, que se embrenhava pelo bosque que tinha perto. Eu gostava muito de brincar nele, principalmente pelo fato de haver muitas árvores frutíferas.

Eu ainda lembro como achei a passagem.

Havia uma clareira no bosque, e, no meio dela, crescia uma árvore muito alta e antiga. Em seus galhos fiz o meu esconderijo secreto; lá eu me sentia protegido e esquecia os problemas. Pulando de galho em galho, achei um buraco do meu tamanho exato. Sem pensar nas consequências, entrei.

Parecia que eu estava no vácuo. Fui caindo, caindo e caindo, até cair em algo duro. Levantei-me rapidamente, e vi que era um menino da minha idade, de cabelos castanhos escuro, olhos verdes e uma mecha branca incomum no cabelo. Suas roupas eram velhas e meio esfarrapadas, e olhando para mim, perguntou puxando uma adaga do calção:

"Quem é você?"

"Meu nome é Miguel." Respondi olhando ao redor. Estávamos em uma floresta, e ao longe eu ouvia o ruir das ondas. As árvores eram altas e esguias, e arbustos em quantidades com flores amarelas, rosas e azuis. "Onde estou?"

"Você não é daqui, não é mesmo?" o garoto observava a minha roupa. Parecia nunca ter visto nada parecido.

"Acho que não."

"Você está em Kim, o mundo perdido. Venha, eu vou leva-lo até o capitão."

Pelas características, acho que você já adivinhou que o garoto era Acab. Ele guiou-me em silêncio por um caminho quase invisível que havia por ali, até sairmos em uma praia de areia branca e limpa. Em um canto, debaixo de algumas árvores, havia uma fogueira e muitos homens ao redor dela. O que me impressionou foi o fato de ali já ser quase noite. Eu saí de casa ainda não era nem uma da tarde, e arregalei os olhos quando vi que meu relógio de pulso estava parado.

"Capitão," disse Acab, empurrando-me para o meio do círculo de homens. Na verdade, não tinha ninguém ali que passasse dos trinta anos. Mas pelo jeito que me olharam, julguei-me morto. "Achei ele na floresta. Se chama Miguel e não é daqui."

"Hum..." disse o melhor vestido do grupo, com certeza o capitão, virando-se para mim. "Então você também veio do outro mundo garoto?" Ele tinha uns vinte anos, pele clara, cabelos castanhos, olhos azuis e uma barba rala que crescia no rosto alvo e bonito, dando-lhe a aparência mais jovial do que de velhice.

"Sim."

Ele estendeu a mão sorrindo.

"Ulisses, capitão do Kira. Servindo lealmente ao rei de Kim, Korus."

E depois de olhar para os homens ao redor, disse:

"Quer se juntar a nossa tripulação, garoto?"

Olhei para Acab, que meneou a cabeça num gesto para que eu confirmasse.

"Quero capitão."

"Pois bem. Mais antes, quero que me responda três perguntas. De acordo com as suas respostas saberei o quanto você é inteligente...".

"Miguel Moreira."

Os homens sorriram, e o capitão terminou:

"Muito bem, Miguel. Agora me responda: Qual a distância entre o leste e o oeste?"

Sam, a assassina do mundo perdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora