- Samantha...
Não, eu não podia acreditar.
- Sam...
Mas era verdade.
- Não pode fraquejar agora...
Ele mantinha-se de cabeça baixa, esperando sua sentença. A chuva encharcava-o, mas ele não se incomodava com isso.
- Vocês sabiam, não era? - perguntei, com voz sumida. Ulisses havia se ajoelhado ao meu lado e segurava minhas mãos. As lágrimas caíam incessantemente, apesar de eu tentar controlar. Ele confirmou com a cabeça.
- Sim, pelo menos eu sabia. Só não imaginava que ele houvesse sequestrado você...
Ignorei-o. Em vez da preocupação de antes, surgira uma raiva enorme dentro de mim. Por que, raios, ele não havia se revelado?
- Mas ele é seu amigo Maria Samantha. - continuou o homem, levantando-se e voltando à sua posição. - Nunca esqueça disso.
O arauto estava lendo as acusações, mas eu não estava nem aí para as baboseiras que ele dizia. Meus olhos estavam voltados apenas para aquele belo e odioso rapaz, que havia me feito de idiota por meses. Ele olhava ao redor, como se procurasse alguém. Os olhos vermelhos haviam sumido; agora eram os olhos escuros que eu costumava admirar antes de me meter nesta aventura.
De repente, ele olhou para cima.
A maioria deve ter achado que ele estivesse orando.
Mas não.
Ele olhou diretamente nos meus olhos.
O carrasco pegou a espada que um guarda veio entregar-lhe. Reconheci a espada do conde...
- Como você é um cavaleiro, - disse Samantha ironicamente, - dar-lhe-ei a honra de morrer como um.
Retesei o arco e mirei.
O homem levantou a espada acima de sua cabeça. O jovem baixou os olhos, esperando o beijo frio da lâmina.
Soltei.
Vi a flecha viajar quase em câmera lenta até cravar-se no pescoço do carrasco, que caiu sem vida em meio a uma poça de sangue.
- Atacar! - gritou Fi, atingindo em cheio um dos guardas que protegiam o restante dos prisioneiros na carruagem.
Foi uma confusão tremenda. Katrina já havia se levantado e atirava freneticamente nos guardas que se identificavam com o lenço vermelho. Aliás, todos os que estavam ali comigo faziam isso. Apenas eu estava parada, de pé, sem conseguir me mexer, como que petrificada.
Uma flecha passou por mim, quase atingindo-me no rosto.
Foi então que despertei.
Atirei a capa longe, peguei o bastão e subi na amurada do corredor. Uma das cordas decoradas com as bandeirolas ia diretamente para um poste ao lado da forca. Escorreguei pela corda, segurando com as duas mãos o bastão, até chegar lá embaixo. Uma chuva de flechas caiu sobre mim, porém algo impressionante aconteceu.
A um metro de distância de me atingirem, elas transformaram-se em pétalas.
Mais precisamente, de flor de cerejeira.
Libertei Igor, que continuava de cabeça baixa, sem coragem de levantá-la.
- Sam... - ele começou, com a voz normal que eu conhecia muito bem.
- Não tenho tempo para ouvir suas explicações...
Joguei-lhe sua espada, que a aparou com toda a elegância. Os guardas estavam quase me alcançando, mas os que eu considerava a plebe revelaram-se.
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Sam, a assassina do mundo perdido
FantasiEu era uma estranha normal até ser apresentada a Kim, o mundo perdido... Junto com meus melhores amigos, embarquei para esse mundo de maravilhas, encantos e mistérios. Sabia que iria ser perigoso, só não sabia que fazia parte de uma profecia e tinha...