O inimigo mora comigo

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Mas não era.

Tudo estava diferente.

A praia, ladeada de coqueiros e árvores frondosas estava devastada. Havia brilhos alaranjados em alguns pontos da floresta, principalmente nas áreas onde tinham muitos pinheiros. Rapidamente os botes foram colocados na água. Acab entregou o leme a Emílio e disse:

- Ancore próximo ao recife de corais. Depois entregue o leme a Musk e vá para o quartel general o mais rápido possível. Receio precisar de você quando chegarmos lá.

Pulei num bote junto com Lince, Katrina, minhas amigas, Acab, Miguel, Luz e os gêmeos Malfoy. O capitão assobiou e depois de alguns instantes, os golfinhos apareceram e nos levaram para a praia. Fazia tanto frio que eu mal conseguia respirar.

Antes que chegássemos completamente à terra firme, saltei para a água e corri para a praia.

Ajoelhei-me na areia, com os olhos banhados em lágrimas.

- Meu Deus! - exclamou Lince assim que saltou do bote.

Havia pontas de flecha e lanças quebradas por toda a praia, até onde a vista alcançava. Capacetes quebrados, pedaços de espadas e escudos. Alguns revolveres, canhões... E sangue...

- Venha Sam, não é seguro ficarmos aqui... - Miguel sussurrou, arrastando-me para o mato.

Rapidamente corremos pela floresta. Mas a cena de destruição também prevalecia ali. Os galhos das árvores estavam quebradas, flechas fincadas nos troncos e muito sangue.

Eu mal olhava por onde ia. Minha visão havia se embaraçado devido as lágrimas que caíam.

- Vamos Sam! - Acab segurou-me por um braço enquanto Miguel me segurava pelo outro. - Precisamos chegar logo para saber o que aconteceu.

Lince e Alan farejavam a nossa frente, procurando o caminho. Depois de uns quinze minutos consegui ouvir o som da cachoeira. Pelo menos ali tudo parecia intacto.

- Apressem-se! - sussurrou Katrina. - Estamos quase chegando!

Quando consegui me firmar completamente em minhas próprias pernas, estávamos em frente a cortina de folhas e cipós. Ao afastá-la, dei um suspiro.

Estava tudo intocado.

Caminhamos pela trilha. Ela estava praticamente coberta de folhas secas. As árvores ali eram grandes pinheiros e algumas cerejeiras e pessegueiros, de modo que as folhas no chão não passavam de pétalas caídas.

A água caía com força, como sempre. Tudo era calmo e silencioso. Até demais...

Ao atravessar aquela grossa cortina de água, meu coração parou.

A gruta parecia mais um abrigo de sem tetos do que o belo quartel general de que eu me lembrava.

Havia fogo em todas as lareiras. Várias pessoas com roupas simples mas pelo menos quente ficavam ao pé do fogo com um prato de sopa. Alguns estavam em esteiras, com agulhas enfiadas na veia recebendo líquidos de diferentes cores. Os soldados desdobravam-se para atender toda aquela multidão de pessoas. Água, remédios, comida, abrigo, roupas, tudo. Andei por aquele cenário junto de meus companheiros, todos em silêncio. Eu já não chorava mais. Minhas lágrimas não mudarão isso. Mas minha espada sim...

- O que aconteceu? - Cris perguntou baixinho a Acab, com quem ia de braços dados. Ele parecia estar em estado de choque. Todos nós estávamos.

- Torça para que eu esteja errado... - o jovem capitão sussurrou, enxugando os olhos marejados na manga da camisa.

Sam, a assassina do mundo perdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora