Mudanças bruscas

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Eu andava pela floresta recém-lavada pela chuva da véspera. O cheiro de terra molhada prevalecia por todo recanto da mata. E, em uma clareira, bem adiante, vi um rapaz que me pareceu familiar. Eu já o tinha visto em algum lugar, só não lembrava o nome dele. E, após um farfalhar de folhas, surgiu Lana, acompanhada de Treva e dois soldados. Pelo pouco que pude ouvir, tive certeza de uma coisa: aquele moço estava dando informações para as duas.

Depois que eles se foram, fui para o meio da clareira. Olhei ao redor. E senti a ponta fria de uma espada nas minhas costas.

Virei-me, lentamente.

O Cavaleiro Negro.

Ele usava botas de cano longo negras, calça e blusa de seda da mesma cor, chapéu com uma pluma também negra, luvas pretas, e ao olhar em seu rosto, vi que ele usava uma máscara de cetim preta, sem nenhum detalhe colorido. A única coisa que pude ver desta vez foi os olhos e uma pequena parte dos cabelos. Escuros como a noite. A espada tinha o punho dourado, o único objeto que não era negro em seu vestuário.

Ao ficar assim, tão próxima dele, percebi que ele não era tão velho. Deveria ter, no máximo, dezessete anos. E, sem que ele percebesse, puxei uma adaga de dentro do bolso.

A luta foi rápida e violenta. Minha arma não era apropriada para aquele duelo, pois era curta e não conseguia alcançar o meu oponente. Depois de ferir-me no ombro, e me dar uma cutilada quase fatal, perto do estômago, eu consegui chutar sua espada para longe, no alto de um carvalho. Porém eu não contava que ele fosse cair por cima de mim de corpo inteiro, imobilizando-me.

Nós dois estávamos ofegantes, e sujos de pó e sangue. Meu sangue. Os ferimentos ardiam. A espada estava envenenada.

- Cavaleiro, - disse eu, ofegante pelo peso. Ao perceber que eu morreria sufocada, aliviou um pouco. Sentou, tomou a adaga e segurou meus pulsos, firme, mas ao mesmo tempo delicadamente. - Antes de me matar, poderia eu ver o seu rosto?

Ele estremeceu. Mas, depois de refletir por alguns instantes, fez um gesto de cabeça: sim.

Soltou minhas mãos, e desatou o forte nó que prendia a máscara ao rosto. Segurou a parte da frente com a luva e....

- Sam...

* * *

- Sam, está me ouvindo?

Acordei, sobressaltada. Eu estava deitada no chão, com Alan sentado olhando pra mim. Sentei, e ele perguntou:

- Ouviu o que eu disse?

- Não. - respondi esfregando os olhos. - Acho que cochilei um pouco.

- O dia já vai amanhecer. A criada já veio buscar suas coisas, e deixou uma roupa de viagem pra você no armário. Temos que ir para o abrigo subterrâneo agora.

Levantei, e vi que encima da cama estava uma blusa de manga longa e fofa branca de algodão, calça marrom e botas pretas. A visão daquele par de botas me fez lembrar meu sonho com o Cavaleiro Negro. Droga! Por que Alan tinha que me acordar justo naquela hora?

Entrei para o banheiro e tomei um bom banho. Ao sair, meu quarto estava vazio, tanto de móveis como de gente. Pela janela pude ver um leve tom alaranjado e rosa que vinha detrás da montanha.

Saí para o corredor. Alan esperava-me na escada, junto de minhas amigas. Lince, Luz e Katrina estavam lá fora; Katrina com Amanda, as outras duas vestindo uma espécie de couraça.

- Muito bem, pessoal. - disse Lince, ajeitando o cabelo - Vamos para o abrigo subterrâneo em grupos separados. Samantha deve estar na espreita e devemos garantir que ela não descubra a localização.

Sam, a assassina do mundo perdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora