O final, afinal

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Foi uma viagem longa, porém curtíssima. Senti-me leve como uma bolha de sabão.

Logo, o tecido do meu vestido transformou-se no toque quase esquecido do jeans e do algodão. O peso da mochila em minhas costas me fez abrir os olhos.

Eu estava em casa.

Finalmente meu relógio de pulso apitou, avisando-me que era meio-dia.

Mas, que lugar era aquele?

- Não sabia que viríamos parar aqui...

Vovô. A voz cansada e meio rouca, que lembrava a de um jovem e belo capitão Ulisses, do Valentine.

Estávamos em uma pracinha arborizada, que reconheci ser bem perto de minha casa. Paramos debaixo de uma cerejeira sem flores, que eu julgaria morta se não tivesse aprendido tanto sobre elas no meu período de seis meses em Kim.

- Bem... - começou Susan. A minha amiga faladeira e rápida parecia ter voltado. - O que faremos agora?

- Que tal irmos para casa?

Gelei. Um arrepio percorreu meu corpo na velocidade da luz.

Igor.

Virei-me rapidamente.

Ele usava a blusa cinza e o jeans preto que vestia no dia em que viajamos pro mundo perdido. Seu cabelo estava mais curto e os olhos, mais escuros. Meu primeiro impulso foi de correr e abraça-lo, entretanto contive-me.

Ao olhar ao redor, estávamos sozinhos. Meu avô ia virando a esquina, na direção da casa de Mabel, e minhas amigas andavam lentamente para a minha casa. Lembrei que seus equipamentos de esporte haviam ficado lá no dia em que precisamos sair às pressas...

- Achei que tivesse dito que não ia voltar... - disse eu, sentindo algo que há muito tempo havia esquecido: cheiro de fumaça de carro.

- É... - ele olhou-me nos olhos, como costumava fazer. - Pietro Salisbury disse-lhe isso, realmente.

E foi para casa sem dizer mais nada.

Fiquei parada ali, pensando no que ele havia me dito. Sacudi a cabeça, para tirar aqueles pensamentos idiotas. Eu precisaria voltar para o castelo e tomar um banho na banheira para...

Sorri. Ia demorar para me adaptar novamente a minha antiga vida...

Andei rapidamente até em casa. Ao chegar, minhas amigas já tinham ido embora e meu avô não havia chegado ainda.

Senti algo vibrar no bolso.

Meu celular.

"Pense na minha frase..."

Não preciso nem dizer quem era o remetente.

Tomei uma ducha demorada. Pela primeira vez em seis meses, vesti short e camiseta.

A boa e velha Maria Samantha estava de volta.

Fui na cozinha e preparei um bom sanduíche de presunto e queijo. Peguei Coca-Cola na geladeira e chocolate meio amargo no armário. Subi com uma pequena bandeja para o quarto, pois ia olhar minha caixa de e-mails. Talvez estivesse lotada...

Não estava, é claro. Não se passou nem mesmo uma hora desde a minha partida para o mundo perdido.

Deitei-me na cama e enquanto comia, comecei a passar a mão no medalhão em meu pescoço. É, ele havia vindo comigo junto com a concha de Melina e a faca especial. Guardei-a dentro de uma caixa top secret no meu criado-mudo, junto com a concha. A bela flor de ouro permaneceu comigo...

Sam, a assassina do mundo perdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora