Em meio a queda livre, um flashback passou pela minha cabeça.
Todos os momentos mais importantes da minha vida estavam lá.
Meus pais, meus amigos, minha chegada em Kim, o banco de balanço debaixo da cerejeira na casa de Treva, meu sonho com Igor me beijando, a fuga, meu encontro com Lince Parda, Alan, quando fui buscar minhas amigas, a primeira vez que vi Katrina, quando nos atacaram na casa de Lince, o Cavaleiro Negro, o quartel-general de Karts, o mar, a viagem até a ilha do Suspiro, o meu sonho com o Cavaleiro Negro no castelo de Acab, o embarque, o beijo em Miguel...
O baque na água fez com que tudo sumisse na escuridão.
Quando imergi, tudo estava tão escuro, que eu mal distinguia algo a menos de 30 centímetros a minha volta. Concentrei-me, e minha visão de lince veio com toda a força.
Era um lugar grande e fechado. Vi uma caixa de madeira boiando ali perto e nadei para pegá-la.
Eu havia conseguido.
Estava dentro de Dick.
Provavelmente estava no estômago dela.
Nadei muito, até chegar ao lugar que eu queria. O tubo seguia até a boca da baleia, naquele momento fechada, seca e vazia. Sentia muita dor no meu ombro esquerdo, e muito frio também. Depois de mais ou menos meia hora, cheguei até a boca de Dick. Como eu previra, estava vazia e seca.
Eu havia conseguido levar o baú. Era grande e meio pesado, com uma tranca na tampa. Com uma das minhas facas, consegui abrir a fechadura.
"Aleluia!" pensei.
Havia roupas de linho secas, duas facas, pólvora, uma pistola, um cobertor grosso, e o que mais me interessava: comida. Uma garrafa de hidromel, cantil com água potável, um bom queijo picante, alguns biscoitos, salame, presunto, dois chocolates, um pão grande e enroladas em uma toalha bordada, algumas maças e uvas. Bem no fundo do baú estava escrito: Mabel.
Nossa!
Aquilo salvaria minha vida por alguns dias. Comi um pouco de pão com queijo e salame, bebi alguns goles de hidromel e descansei por alguns instantes. Tirei a roupa molhada e troquei por uma calça marrom e blusa branca que estava no baú. Cortei tiras do tecido que forrava a caixa e enfaixei meu ombro que estava ferido.
Quanto tempo eu gastaria para chegar ao coração de Dick?
Pelo tamanho dela, calculei mais ou menos uns dois dias.
Meu Deus!
Fiz uma espécie de mochila para carregar os víveres e as roupas secas. Abandonei o baú e olhei em volta. Estava mais claro ali. A baleia deve ter boiado para respirar. Aproveitei o momento e voltei para a garganta. Ao escorregar novamente por ali, notei que havia uma pequena abertura do lado esquerdo, de onde saíam faíscas luminosas. Espremendo-me, consegui passar.
Fiquei de queixo caído.
Ouro.
Muito ouro.
E bem no meio desse monte de ouro, havia um pergaminho velho e puído.
Abri-o.
Era um mapa do corpo de Dick.
Eu estava no pulmão esquerdo da baleia. O coração ficava bem perto dali.
Comecei a correr o mais rápido que pude. Mas a bagagem em minha costas não permitia que eu corresse livremente.
Porém não deixei nada para trás. Poderia precisar. Então apenas caminhava. Não tinha a noção do tempo, nem sabia dizer se era dia ou noite. Mas eu caminhava em meio a todo aquele ouro, pensando na vitória. Pensando em Miguel.
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Sam, a assassina do mundo perdido
FantasyEu era uma estranha normal até ser apresentada a Kim, o mundo perdido... Junto com meus melhores amigos, embarquei para esse mundo de maravilhas, encantos e mistérios. Sabia que iria ser perigoso, só não sabia que fazia parte de uma profecia e tinha...