Um sonho que virou pesadelo

37 2 0
                                    

Faz exato um mês que estou presa aqui, no castelo de Salisbury.

E desde aquela noite na qual eu revelei saber o nome do conde, ele nunca mais veio me ver, nem me chamou para jantar em sua companhia, nem mesmo uma carta ou uma rosa, ou qualquer objeto que mostrasse que o jovem ainda lembrava que eu existia.

O inverno estava rigorosíssimo. Pela minha janela eu via todos os dias os trabalhadores do palácio abrindo estradas no meio da neve, para facilitar a entrada e a saída dos moradores. Minha lareira estava constantemente queimando lenha, o que tornava o ambiente ali extremamente agradável. Eu poderia até usar short e camiseta, se tivesse algum dentro do armário.

Os criados continuavam a me atender, como sempre. Mas nenhum deles tinha permissão para me contar como estava o conde. Tentei persuadir Melissa de todas as maneiras possíveis, mas a jovem mantinha-se inflexível. Tinha muito medo da ira do jovem senhor.

Sentei-me na poltrona e comecei a admirar o crepúsculo, se é que dava para achar alguma coisa naquele tempo horrível e gelado para realmente nos causar admiração. Meus pensamentos rodavam, pensando em tudo o que eu havia perdido nesses últimos tempos. Fazia quase seis meses que eu estava fora de casa.

Seis meses longe dos patins. Dos meus pais. De Igor...

Ali, sozinha, sem ninguém para conversar, eu me sentia incrivelmente incapaz. Gostaria de estar em Karts agora. Ou na mansão de Lince. Ou no castelo de Acab.

Em qualquer lugar, menos ali.

Toquei o ferimento quase cicatrizado em meu braço. Quando o conde me empurrou naquela noite, bati a cabeça e o braço esquerdo numa mesa de canto, estilhaçando um jarro com flores silvestres e cortando o braço e as costelas no vidro. Fiquei caída no chão, banhada em sangue até a hora em que Melissa veio recolher a louça da sobremesa e me ajudou a levantar, limpar os ferimentos e vestir-me com uma roupa limpa. Não sei se o rapaz sabe que me machucou, mas mesmo que ele não soubesse, um mês é uma eternidade para alguém que dizia todo o tempo que eu lhe era valiosa...

A noite chegou, e com ela a bandeja do jantar trazida pela criada de sempre. Fiquei em silencio, pois sabia que ninguém me responderia mesmo que eu gritasse. Apenas disse:

- Melissa, diga ao conde que eu quero vê-lo.

A jovem olhou-me, sem conter o espanto.

- Mas minha senhora, sabe que apenas o senhor conde pode decidir que dia e hora virá vê-la...

Interrompi-a.

- Apenas diga. - passei a mão no cabelo e puxei uma mecha lilás. Comecei a enrolá-la no dedo. - Já faz quase um mês que ele não me manda notícias, nem uma carta sequer. Quero saber pelo menos se ele continua vivo.

- Não se preocupe senhora, darei o recado. - ela sorriu acanhadamente. - Tenha uma boa noite.

Assim que Melissa se retirou, sentei-me a mesa e comi rapidamente. Ao terminar, corri para o armário e escolhi um vestido negro, com bordados em prata e pérolas, e coloquei-o encima da cama. Tomei um banho demorado e arrumei os cabelos da melhor forma que consegui.

Tinha quase certeza de que ele viria.

Uma maquiagem belíssima, luvas, capa longa cor da noite com capuz, sapatilha negra com detalhes em prata.

Olhei-me no espelho. Para me tornar a Cavaleira Negra só me faltava a máscara.

Fiz a única coisa que havia para fazer ali.

Esperar.

Apaguei todas as luzes, sentei-me em frente à janela e suspirei. Eram nove e quinze da noite.

Sam, a assassina do mundo perdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora