Ato impensado

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Mais que depressa passei as chaves na porta, o que o fez finalmente olhar em direção a ela. Minha única felicidade nesse momento era o caríssimo, porém necessário, isolamento acústico de cada sala de gestão, incluindo a minha. Quando terminei de trancar a porta tentei me acalmar falhamente antes de caminhar até a minha mesa.

— O que tá fazendo aqui? — perguntei ainda com a voz trêmula.

— Vim conversar, você disse que podíamos, não disse?

— Pelo celular.

— Não gosto, prefiro conversas ao vivo.

— Mas por que no meu escritório?

— Por que sua casa está ocupada. — foi só nessa fala que consegui olhar pro seu rosto e estava horrível, se é que ele conseguia estar assim.

— O que aconteceu? Você está péssimo, parece que nem dormiu.

— Eu não dormi.

— E isso é responsável da sua parte como atleta? Acredito que não, certo? — ele se limitou a balançar a cabeça.

— Mas não foi sobre isso que eu vim conversar. — cruzei os braços esperando que ele continuasse — Por que você me negou ontem? Você ficou com aquele cara?

— Achei que eu já tivesse deixado isso claro ontem, mas vamos lá. Primeiro, guarda sua curiosidade sobre minha vida amorosa para você. Segundo, eu te falei que você mentiu para mim dizendo que tinha compromissos de trabalho e aí eu saio de noite e você está num restaurante com outra mulher...

—Você também estava com outro homem. — ele me interrompeu e eu revirei os olhos.

— Voltando. O problema não é com quem você estava ou o que estava fazendo, eu não gosto de mentira, ainda mais quando não existe a necessidade dela. Eu ia agir completamente diferente se tivesse me falado a verdade, eu não tenho porque te cobrar nada.

— Mas toda vez que me vê com mulher fecha a cara pra mim.

— Você acha né, porque você espera que todas as mulheres com quem você fica morram de ciúmes de você.

— E você não sente? — ele falou se levantado e dando a volta até ficar do meu lado.

— Não? — respondi olhando para ele sem entender o propósito daquilo.

— Anna, tá na cara que você se incomoda. — ele sentou na mesa a minha frente levando uma das mãos até o meu rosto.

— E você não se incomoda né? Tá doido para saber o que eu fiz ontem a noite e hoje cedo com o Lucas. — foi a primeira vez durante toda a conversa que eu abri um sorriso e ele aproveitou a abertura para passar o polegar pelo meu lábio antes de enfia-lo em minha boca observando cada gesto milimétrico que eu faria.

E eu neguei? Se fosse antes diria que sim, agora eu já me entrego só de sentir o cheiro dele próximo de mim. O seu ato me fez assumir um papel completamente diferente, segurei sua mão e passeei com a língua pelo seu dedo, dando breves chupadinhas por ele. Foram inevitáveis os seguintes acontecimentos, em um momento eu me deliciava em vê-lo delirar ao me observar e no seguinte meus lábios já tocavam outra parte do seu corpo sem pudor algum. Bendito seja o isolamento acústico, porque meu corpo e nem minha boca estavam em sã consciência no momento em que suas mãos puxaram meu cabelo e logo em seguida me colocaram sobre a mesa subindo minha saia e arrancando minha calcinha.

Nunca pensei que eu queria tanto fazer aquilo na minha sala de trabalho, eu me sentia como se estivesse realizando uma fantasia minha escondida bem no fundo do meu subconsciente. Toda vez que ele me penetrava parecia injetar prazer e adrenalina diretamente em minha corrente sanguínea, ele conseguia me deixar ofegante como ninguém nesse mundo.

Não consigo pensar quanto tempo durou, só que o fim foi breve, o meu ápice foi tão bom que não consegui segura-lo, logo minhas pernas trêmulas se soltaram do seu corpo e eu parecia conseguir ver estrelas no teto do meu escritório. Ele foi quem me acordou do transe quando encostou os lábios em meu pescoço e me sentou me observando.

Eu só conseguia pensar em arrumar meu cabelo e me ajeitar. E onde estava minha calcinha? Procurei ela pela sala sem conseguir enxerga-la em canto nenhum e ele estava pleno, como se não tivesse feito esforço algum. Quando finalmente desisti só arrumei a saia e fui até o banheiro que ficava no fundo do meu escritório. Ele me acompanhou, tudo calculado para poder dizer uma única frase.

— Você não pode me negar. Você sabe muito bem que eu sou o unico que consegue te deixar desnorteada. Independente do que fez com ele essa noite, você não chegou nem com ⅓ da expressão que eu te deixo depois que a gente transa.

Não fui capaz de respondê-lo, porque era verdade. Apenas me ajeitei e voltei para sala a organizando. O Richard se sentou novamente a minha frente e perguntou esquecendo completamente o que havia acabado de falar.

— O que vocês fizeram essa noite?

— Não fizemos nada, só dormimos e hoje cedo trocamos alguns beijos no chuveiro. — resolvi respondê-lo e sua expressão mudou totalmente.

— Pensei que você não tinha ficado com ele. — ele apoiou as duas mãos na mesa.

— Abaixa o tom para falar comigo. Você também ficou com alguém esqueceu?

— Mas eu não te prometi nada. — sua voz ficou mais séria.

— Nem eu a você. — respondi despreocupada.

— Então me promete agora. — neguei com a cabeça e olhei meu celular — Me promete. — ele buscou meus olhos e eu neguei novamente — Eu vou viajar para trabalhar, quando eu chegar quero ir para sua casa, não quero ter que ceder espaço para outro homem. — neguei novamente.

— Não é assim que as coisas funcionam, você fica com quem você quiser e eu também. No dia você me liga para ver se estou afim de você. — apoiei a mão no rosto sorrindo e no fundo eu estava adorando aquela cena toda de menino bravo na minha frente.

— Eu não vou te ligar, eu estou avisando que eu vou para sua casa no domingo quando eu chegar. — ele segurou meu rosto com uma das mãos e meus lábios não se cansavam de sorrir, era hilário — Por que você está rindo?

— Porque você está completamente fora de si. Você é assim com todas que você come? — ele negou — Talvez eu seja especial então. — falei e a milhões de km daria para perceber o tom cínico em minha voz.

— Domingo, escutou. — eu balancei a cabeça com ele ainda segurando meu rosto — Seja a esposinha pacata que eu não tenho, só domingo. — não consegui conter o riso e dessa vez ele também riu, se inclinando um pouco para encostar os lábios nos meus.

No entanto, minha cabeça girou totalmente quando levei os olhos para o relógio e percebi que havíamos passado duas horas dentro da sala, foi um ato de prazer totalmente impensado ou talvez eu estivesse pensando em muitas coisas, menos no ambiente em que eu estava, no trabalho, nas pessoas. Eu só conseguia pensar no Richard, seu corpo, suas mãos, nossos corpos se tocando, o quão longe ele me levava só de respirar próximo a mim. Mas afinal era mesmo um ato impensado ou pensado parcialmente? 

Reserva- Richard RiosOnde histórias criam vida. Descubra agora