Solucei, alto e sem intenção. Tampei a boca correndo e ele me olhou finalmente percebendo que eu estava chorando. Correu para despedir e desligar, talvez por medo de que eu gritasse e atrapalhasse seu disfarce. Se levantou apenas para fingir que estava se importando com o que eu sentia naquele momento. Balde de água fria. Não conseguia mais mentir.
Juntei o presente, ele e todas as minhas frustrações e chutei para fora do meu apartamento. Ele ainda gritou alguns coisas na porta e a única coisa que eu consegui escutar respondi.
— Entrega para ela, ela vai amar ter dois iguais.
Depois disso fui pro quarto, horas de choro e arrependimento circulando pelo meu corpo. Naquele dia eu prometi para mim mesma que se ele aparecesse novamente na minha frente eu iria surtar de verdade e acabaria com a felicidade dele. Nem um banho sarou tudo que eu tinha para chorar, lembrei do Diego e de como fui otária com quem me amou de verdade. Lembrei do Lucas e que eu havia o rejeitado por isso, para ser a reserva de ficantes e agora de uma namorada. Era isso que eu gostava?
Parecia que sim, porque nunca me livrava dessa vida. Aceitava como se ela fosse feita para mim, maravilhosa. Segui assim por mais tempo que eu queria, do baile beneficente até hoje já faziam anos e eu continuava criando na minha cabeça um Ríos que não existia, só para que eu aceitasse estar com ele a qualquer custo.
Aquele ciclo nunca parava, eu me revoltava, eu ia cedendo e quando via já estava enfurnada naquela relação tóxica de novo. Se é que eu podia chamar aquilo de relação. Afinal, ele nunca teve nada comigo, só eu com ele. Ele nunca mudou, mas eu precisava mudar. Precisava me desfazer daquela Anna, fazê-la morrer de uma vez por todas.
Como podia ser controlada tão fácil assim? Ele me levava na lábia sem fazer esforço, era três palavras, um beijo e eu caía de novo. Quando tinham palavras, não é mesmo? Se eu queria ficar bem eu não tinha que esperar que ele mudasse, era eu quem devia acordar para vida e manda-lo para casa do caralho, com mala pronta e colombiana e presentes enfiados no rabo dele.
Eu tinha deixado me levar uma, duas, três, acho que até quatro, mas a quinta eu não deixaria nem a pau. O bloquear não adiantaria, eu sei. Porque ele sabia onde eu morava e onde eu viva. Pedir que não o deixassem subir não adiantava naquele prédio.
Recebi uma mensagem esclarecedora, como se mãe previsse exatamente o que o filho precisa.
"Minha querida, você precisa tirar férias, mais um ano não dá.
Sua prima está até hoje esperando sua visita.
Por que não aproveita a calma na empresa e não vai pra lá?"
Minha prima por parte de mãe, Antônia, ela morava em Calviá, na Espanha e sempre me chamava para ir visita-la. Outro país, era o ideal para mim neste momento. Pelo menos lá ele me daria paz, talvez eu estivesse enlouquecendo, mas eu precisava agir como ele, pagar de louca uma vez na vida.
Primeiro passo, bloquear. Bloqueei. Segundo passo, mensagem para a Antonia. Enviado e respondido, eu podia ir ficar com ela o tempo que eu quisesse. Terceiro, avisei minha secretária de que tiraria férias, mas levaria o notebook qualquer BO que me ligasse ou enviasse e-mail. Quarto passo, comprar as passagens para ilha de Maiorca.
Consegui uma pro dia seguinte, então comecei a arrumar minhas coisas. Precisava levar uma mala grande, afinal passaria um bom tempo por lá. Tempo suficiente para não existir Richard Ríos na minha vida, nem um resquício.
Nem consegui dormir, de tanta ansiedade. Além da minha mãe não avisei ninguém, afinal eu não queria que soubessem que eu enlouqueci por causa do Richard. Explicar doeria mais do que ir. Essa era minha realidade, sem forças, mas me arrastando. Porque eu não podia mais ficar naquele lugar. Nunca mais.
Parecia que eu estava indo embora dali de vez, já que eu sabia só chorar toda vez que eu olhava minha coisinhas em casa. Dei graças a Deus que não tive que me despedir, porque bem provavelmente essa sensação aumentaria.
Pensei que eu acabaria surtando com ele, mas no fim, eu ainda tinha um pouco da antiga Anna. Resolvi cuidar de mim de uma vez por todas. Podia fazer falta a vontade agora, eu estaria longe demais para procura-lo ou para que ele me procurasse.
O decolar do avião fez meu coração pesar, mesmo com o vento da tranquilidade batendo em suas asas. Era aterrorizante não saber o que me esperaria no pós férias, estava insegura demais, mas eu precisava tentar. Eu precisava mesmo que isso me impedisse de viver outras coisas com os que eu amava.
Meu amiguinho voltou, o remédio para dormir. Enfiei goela abaixo assim que o copo de água chegou em meu local no avião. Acordei só na chegada a Madrid, eu tinha uma escala lá e só de lá iria para Palma em Maiorca. Fiquei uma três horas parada por lá e ignorei completamente meu telefone que não parava de tocar ou vibrar. Ainda não estava forte o suficiente para responder tantas mensagens. Dei graças a Deus que anunciaram meu voo.
Esse era mais breve então mal mal deu tempo de me encostar. Uma horinha e vinte de voo e eu já estava com os pés na ilha. Antônia me buscaria no aeroporto e vê-la deixou meu coração quentinho, ela não sabia o quanto eu precisava daquilo, de me sentir esperada, de me sentir amada, de me sentir bem acolhida. Eu surtei, mas esse surto me parecia saudável.
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Reserva- Richard Rios
FanfictionJá parou para pensar no que significa o banco de reservas? Você está ali esperando para substituir alguém, seja por performance, seja por problemas médicos ou só opção. Mas você já se viu sendo a reserva da vida de alguém? É como estar constantement...