A bolsa

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Eu passava praticamente o dia inteiro dando ideia para as minhas visitas, eu já tinha me dado folga do trabalho e naquele dia não foi diferente. Na verdade foi até "pior", porque o Richard estava em outra cidade concentrado, então sobrava para mim e para o Juan, que agora só vivia aqui também, darmos atenção. 

Eu acordei super cedo, não me pergunte o motivo, então aproveitei para ir até a padaria comprar algumas coisas para preparar um café para eles. Normalmente meus pais estavam fazendo isso por mim, mas hoje, como eu tinha despertado e não conseguia mais dormir, fui eu mesma. Mas antes passei pela minha peleja diária, com muita dificuldade coloquei um vestido mais soltinho e com mais dificuldade ainda me abaixei ou melhor me sentei no chão para pegar uma rasteirinha que não apertava meu pé e calçar. 

A padaria era perto, mas eu não tinha condições nenhuma de ficar andando por aí, minha barriga estava extremamente pesada e eu estava contando os minutos para chegar na semana que vem e finalmente o João sair dali de dentro. Então fui de carro. 

Quando voltei todos ainda estavam dormindo, mas comecei a deixar as coisas preparadas para quando acordassem afinal minha agilidade não estava 100%. Meus pais logo chegaram e minha mãe me ajudou a terminar tudo me mandando ir logo sentar e esticar minhas pernas. Meu pézinho parecia um pão de tão inchado e eu insistia em continuar agindo como uma mulher não grávida. 

Meu pai mandou que eu me deitasse que faria uma drenagem que tinha aprendido na televisão. Era confiável? Provavelmente não. Mas o faria feliz, então deixei que fizesse. Enquanto ele fazia resolvi mandar mensagem pro Richard. 

"tô morrendo de saudades 

boa sorte hoje

nós temos muito orgulho de você

mas estamos sentindo muito sua falta em casa

então jogue muito e volta pra casa, tá bom?"

Sim, a gente estava bem grudento e sim nunca pensei que mandaria uma mensagem dessas para ele, mas eu realmente estava sentindo a falta dele e tinha praticamente só um dia que ele não estava lá, mas eu estava cansada e carente, então tentem me entender. 

Pouco tempo depois os pais dele acordaram e eu me levantei do sofá para poder dar bom dia para os dois e ir bater na porta do quarto para acordar o Juan. Eu tinha dois filhos em casa e um na barriga, já me sentia pronta para ser mãe de menino. Eu estava tendo que gastar meu quase inexistente espanhol.

— ¡Buenos días! Siéntete como en casa. Voy a despertar a Juan. —  era o que dava e eu precisava acordar o Juan para me ajudar quando eu não entendesse nada. 

Eu fiz igualzinho mãe, soquei a porta do quarto dele tanto, que desconfio que ele só não tentou me matar, porque eu estava grávida do amigo dele. A cara de menino que acorda no susto me fez cair na gargalhada e ele estava claramente puto. 

— Levanta para me ajudar com o espanhol. Depois você volta a dormir, por favorzinho. Até deixo você ser padrinho da criança. — eu tinha explicado para ele o que era padrinho, exagerando um pouco, é claro, falei que era o tio que a criança mais gostava no Brasil e agora eu estava chantageando ele com isso sempre, pode rir, mas eu fui esperta. 

— Tudo bem, já vou. —  ele fechou a porta na minha cara, mas eu sabia que ele apareceria por lá já já. 

Dito e feito, logo ele veio para tomar o café e sentamos todos a mesa para poder comer. Ele estava me ajudando bastante com o espanhol, era meu professor quando o Richard não estava em casa. Além disso, já estava acostumada com ele pela casa também, então já estava considerando que era mais um que não sairia dali.  

Enquanto tomávamos café as minhas mensagens foram respondidas e eu nem conseguia conter o sorriso de felicidade. 

" eu também tô louco de saudade de vcs 

fala com esse mlk pra esperar o pai

já volto pra casa 

tá tudo certo aí?

amo vcs"

Amo vocês? Acelerou meu coração, só isso que tenho a dizer. Ainda acelerava muito meu coração vê-lo falando dos seus sentimentos e me bateu aquela vontade de que ele estivesse aqui para esmagar ele de amor. Era tão fofo que me revirava o estômago de alegria. 

A tarde foi tranquila, eles saíram com o Juan para dar uma volta por São Paulo. Eu aproveitei para organizar pela milésima vez a bolsa do João para maternidade e minha mãe me ajudou a organizar uma malinha pra mim. Eu não tinha pensado em mim, só me lembrei, porque minha querida mãe perguntou se eu já havia organizado. 

Mas foi andando pelo apartamento que meu desespero começou, eu estava na área gourmet quando senti um liquido escorrer pelas minhas pernas, fiquei em choque, principalmente por lembrar da explicação da médica de que não era igual nas novelas, só 10% das bolsas estouravam antes do inicio do trabalho de parto e eu fazia parte desses 10%. Paralisei completamente, eu não conseguia nem chamar meu pai ou minha mãe, estava toda suja e sem saber o que fazer. 

O Richard não estava em casa, não era possível que isso estava acontecendo com a gente, nos preparamos tanto para esse momento e agora eu estava sozinha? O que eu ia fazer? Eu ligava para ele? Mas ele tinha jogo hoje. Mas ele não ficaria chateado se não o avisasse? Se não visse o bebê nascendo?

— Anna, minha filha, a bolsa estourou. —  minha mãe me balançou percebendo que eu estava distantes. 

— Eu sei. —  falei desanimada. 

— O que foi? Você precisa ir tomar banho e terminar de pegar as coisas para irmos ao hospital. —  ela me deu a mão me ajudando a sair dali — Pode deixar aí, seu pai limpa. 

— O Richard. 

— Calma, ele está trabalhando e tá longe daqui, vamos pro banho. 

Foi no banho que a situação piorou, as contrações vieram com tudo, doía tanto, eu gritava tanto que estava deixando minha própria mãe desnorteada. Tivemos que parar o banho várias vezes para que eu gritasse e me inclinasse de dor. Nunca pensei que doesse tanto. Em meio aos gritos eu só sabia falar.

— Liga pro Richard agora. Eu quero o Richard. Liga para ele. 

Eu só queria ele ali, pra me apoiar e me ajudar. A experiência com as contrações de braxton hicks indicavam que provavelmente ele desmaiaria, mas eu precisava dele ali. Eu precisava do homem que eu amava e o pai do meu filho ao meu lado.  

Reserva- Richard RiosOnde histórias criam vida. Descubra agora