Pensei que bastava ser o Richard Ríos

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Ninguém gosta de perder, comigo não era diferente e só a possibilidade de não ter o que eu queria estava me enlouquecendo, eu não sabia mais o que fazer para que a Anna ficasse comigo. Eu já tinha pedido perdão, eu já tinha dito que achava que gostava dela, eu já tinha feito o que eu achava possível para ela me entender. Eu esperei o máximo que eu pude, mas aquilo estava me atrapalhando, eu não tinha conseguido nem render no jogo e aquilo me deixou puto.

Quando o voo pousou em São Paulo e eu pude ir embora, dirigi direto para casa dela, tão desesperado que só quando cheguei na porta do prédio pensei: ela não ia gostar que eu desobedecesse seu pedido e com certeza o Diego receberia pontos por não ter incomodado ela. Achei melhor só mandar uma mensagem. 

"Estou nervoso, n consegui nem jogar bem hj

Anna, me escolhe

Eu sei q posso te fazer feliz

Sei q gosta de mim"

Fiquei por ali só olhando a porta  do prédio por uns trinta minutos, mas eu também já estava cansado, tinha jogado cedo, tinha viajado e já era tarde no domingo. Olhei de novo na esperança de vê-la sair pela porta, mas foi em vão. Fui embora ainda mais nervoso e frustrado. Eu não tinha muitos pontos favoráveis quando o assunto era ela. 

Sei o quanto falhei, eu menti, eu magoei, eu vivi sem me importar como ela se sentiria, só para ter tudo que eu queria na hora que eu queria. Era mulher demais e aquilo era suficiente para mim, elas sempre aceitavam do jeito que era, até que ela me rejeitou. Com razão, mas me abalou. Eu nunca tinha sido rejeitado de verdade, era sempre um cu doce e nada mais. No fim eu conseguia o que queria, porque eu sabia que tudo aquilo era um teatro e que elas queriam me dar. 

Anna foi para mim o impacto na realidade tão acreditada por mim. Ela aceitou, aceitou até que eu a prometi o mundo e entreguei fotos em sites de outra mulher comigo. 

Eu achava que gostava dela sim, porque nunca senti essa solidão que estava sentindo. Mas talvez fosse porque ela foi a primeira que não quis seguir a história como eu queria. Os momentos que passamos conversando eu era feliz, ali não era apenas sexo, mas no inicio toda vez que eu acordava eu mudava de personalidade para não demonstrar fraqueza e no final eu ficava com outras para não demonstrar que ficar com ela era bom. Eu precisava mostrar que eu não me importava com nada além de mim e do futebol. 

Eu vivia de sexo e era suficiente, mas a Anna me rejeitou. 

Naquela noite dormi muito mal, acordei algumas vezes com o mesmo pesadelo: ELA NÃO IA ME ESCOLHER, EU PERDERIA PRO DIEGO.

Aquilo estava se tornando realidade para mim antes mesmo de acontecer. 

Toda vez que acordava eu mandava uma mensagem para ela, poderia parecer desesperado, mas eu estava. Eu estava inconformado com a possibilidade, afinal eu era o Richard Ríos Montoya. Mas na realidade, se ela me escolhesse, eu nem saberia como agir depois daquilo. Eu ia ter que assumir um relacionamento? Teríamos um status? Como eu iria viver depois daquilo? Será mesmo que eu queria ser escolhido ou era só questão de honra, de necessidade de transar com ela?

Por volta das cinco da manhã desisti de dormir, dirigi novamente pelo caminho da sua casa, mas eu não sabia bem porque eu estava fazendo aquilo. No meio do caminho desviei, eu teria treino pela manhã também, não poderia fazer isso. Voltei para casa e dei de cara com o Juan sem entender o porque eu estava fazendo toda aquela confusão uma hora daquela e nem porque eu tinha saído de carro.

Ele já tinha me dito várias vezes que não estava na hora de eu ter nada com ninguém, mas eu não aceitava não ter ela. Ele disse que era meu ego e para não sair de retardado, eu disse que era tesão. Mas o que é que eu tava fazendo então? Tesão eu mato com outras.

Se eu estava confuso assim, imagina ela. Fiquei com pena, já não bastasse tudo que causei, agora estava conturbando sua mente. Mas por que ela escolheria o Diego? Era uma escolha fácil a minha cabeça, eu não estava demonstrando que mudei? Por que ela estava demorando tanto? 

Eu precisava treinar, o treino na academia foi minha salvação, porque bem provavelmente eu levantaria um no treino de tão nervoso que eu estava, mas de novo por que? Porque eu não sabia realmente porque eu a queria. Era só ego, status de vencedor ou eu realmente fazia questão de estar com ela? Eu queria e seria capaz de realmente a fazer feliz?

No lugar dela talvez eu escolhesse o Diego, mas eu precisava que ela me escolhesse, por mim. Para dar fim nesse nervoso, nessa agitação, nessa confusão. Eu precisava voltar a ser eu. Era urgente que eu fosse eu.

Naquele dia almocei ali mesmo no CT, não estava com cabeça para procurar algo fora dali. Engoli a comida e pensei em ir na empresa, mas de novo pensei que perderia pontos caso ela não tivesse decidido ainda. Fui para casa.

Ir para casa não me adiantou de nada, talvez eu devesse ter implorado ontem, talvez eu devesse ter implorado hoje. Talvez eu devesse ter sido melhor desde que começamos a ficar, mesmo sem compromisso. Eu a cobrei, eu a prendi, eu a machuquei e eu a perdi. Nem mesmo o soco que eu dei na parede fez diminuir a frustração de ter lido aquela mensagem. 

"Eu não posso, para mim não dá mais."

Aquilo parecia um carrinho, mas daqueles que a chuteira prende na grama e machuca o jogador que a recebeu. Me machucou, eu achei que ser eu bastava para que ela me escolhesse. Mas no final ser jogador não era tudo, pelo menos não para ela e não naquela situação.


Reserva- Richard RiosOnde histórias criam vida. Descubra agora