Inesperado

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Foram momentos rápidos o restante do dia e da semana. O Richard tinha viajado e eu tinha aproveitado para curtir um pouco minha família e meus amigos. No domingo combinamos todos de almoçarmos lá em meu apartamento e eu nem me preocupei em quem estava ou não lá, imaginando que se o Ríos viesse seria mais a noite. Depois do almoço, cada um foi para sua casa, menos o Lucas, que insistiu em me ajudar a arrumar toda a bagunça. Aceitei, afinal de contas eu estava exausta e a funcionária só viria limpar no meio da semana.

Enquanto organizavamos as coisas na cozinha a campainha tocou, olhei primeiro o relógio e ainda eram 15h. O Lucas me olhou comentando algo engraçado e eu caminhei até porta rindo enquanto ele tentava me abraçar.

Só hoje percebi que eu tenho mania de abrir a porta sem verificar quem é antes, porque quando dei por mim minha porta já estava escancarada, o Lucas rindo e tentando abraçar minha cintura e o Richard parado igualmente a uma estátua, brava, na porta do meu apartamento. Me recompus tirando os braços do Lucas de perto do meu corpo e ele arqueou a sobrancelha.

— Estou atrapalhando alguma coisa? — o Richard disse revezando o olhar entre mim e o Lucas.

— Não, não. Estamos apenas arrumando a cozinha.

— Está sim. — o Lucas disse entendendo do que se tratava e eu o belisquei rapidamente retrucando.

— Não tá não, pode entrar. A gente já está terminando e o Lucas já vai? — o Lucas me olhou p da vida, se é que me entendem e antes mesmo que eu dissesse qualquer coisa pegou seu celular, suas chaves, a camisa, beijou minha testa e saiu — Entra.

Ele entrou contrariado, não dizia nem uma palavra, só me olhava e eu continuava arrumando a cozinha como quem não tivesse nada a dizer. Quando finalmente terminei escutei a voz dele vinda da sala.

— O que ele estava fazendo aqui?

— Fiz um almoço pros meus pais e meus amigos, ele veio e quis ficar me ajudando a limpar a bagunça.

— Limpar a bagunça... Não me pareceu, sabia?

— A gente já não conversou sobre isso?

— Sobre limpar a bagunça. — ele se fez de desentendido.

— Sobre não termos prometido nada um para o outro e que faríamos o que quiséssemos.

— Eu te pedi para não fazer isso hoje, que hoje era o meu dia.

— Hoje era o seu dia de que? Até 20 minutos atrás a casa estava cheia, não estava sozinha com ele e mesmo se estivesse. Você não avisou a hora que viria e ainda reclama de encontrar alguém aqui. Com licença, vou tomar um banho.

Virei as costas e escutei ele resmungar algumas coisas em espanhol, mas não mexer nem um músculo para se levantar do sofá. Fui para o banheiro do meu quarto e tomei um banho longo e frio sem me preocupar se ele estava na sala ou não. Quando saí enrolada na toalha ele já estava sentado na cama olhando para a direção da porta do banheiro.

— Oi? Tudo bem?

— Por que não me chamou pro banho?

— Porque você estava torrando minha paciência.

— Eu? Eu chego de uma viagem direto para sua casa, querendo ficar com você e você com outro, aí eu que torro sua paciência né?

— Oh meu querido, o problema é que eu não sou propriedade sua para você ter toda essa prioridade, entende?

— E como eu faço para ser? — tremi e ele conseguiu perceber todo o meu desconcerto diante da situação.

— Não tem essa opção, você é de muitas. — falei de costas para ele procurando por alguma calcinha para me acalmar.

Ele ficou em silêncio, eu peguei a primeira calcinha que toquei quando percebi que só se escutava o barulho das nossas respirações e tirei a toalha a vestindo. Eu nem consegui perceber que ele já estava atrás de mim, até que suas mãos quentes tocaram a pele da minha barriga e ele me puxou para ele fazendo um caminho de beijos entre minha nuca e minhas costas. Eu estava completamente arrepiada, até ele cortar o clima falando.

— Eu ser de muitas não impede que você seja só minha.

Péssima, foi assim que eu me senti. Só mais uma em meio a várias opções. Eu parecia ter tomado uma descarga de energia, me endireitei na hora, me afastei dele e coloquei o primeiro vestido confortável e de alcinha que eu achei no meu guarda-roupa. Richard continuou parado no mesmo lugar me olhando como se não entendesse minha atitude, eu não fiz questão de explicar para ele o simples do português da reciprocidade.

— Estou indo para sala, você vem? — eu disse arrumando meu cabelo.

— Vamos ficar no quarto mesmo. — ele me abraçou me tirando do chão e me levando até a cama.

— Tudo bem. — me limitei a dizer, pois ainda estava brava com ele.

Nos deitamos em minha cama e resolvi puxar algum assunto, já que quase nunca realmente conversavamos.

— Como foi o jogo?

— Foi bom. Vencemos. Você não viu? — neguei com a cabeça — Você nunca me vê jogar? — concordei rindo.

— Não sou obcecada por você para parar o que eu to fazendo e te ver na tv.

— Devia ser, não sabe o que estou perdendo.

— Eu gosto de futebol, mas isso não quer dizer que vou parar minha vida para te assistir, deixo isso para as outras. Elas já aumentam muito seu ego.

— Até parece, quer ir me ver no Allianz? — neguei.

— Prefiro manter como tá, sem ligações fora das quatro paredes.

— Depois você reclama que tenho outras, você não dá valor ao homem que te chama pra ver ele no trabalho. — eu ri e ele se virou de lado para me olhar.

— Eu vou um dia, mas no meio da torcida. Não quero fofoquinha sobre mim.

— Não vai ter, você vê sobre as outras? — balancei a cabeça negando e me virei para ele.

— Nunca vi, mas nunca procurei.

— Não tem, eu sou discreto.

— Menos na rua né, porque eu já te vi com duas. Se me esforçar um pouco eu conheço todas as outras.

— É, você tem esse dom. Não posso fazer nada. — deu de ombros e eu belisquei ele.

— Você fica aí pagando do macho que tem muitas, despreocupado, mas não pode ver as mulheres que você pega com outro.

— Você acha.

— Eu tenho certeza.

— Não é isso, o meu dia é meu dia. Nos outros você faz o que quiser.

— No restaurante não era seu dia. — foi a vez de ele me beliscar — Mas eu vou ao jogo, porém vou levar meus amigos.

— Todos menos o Lucas.

— O Lucas também.

— Não quero ser corno no jogo.

— Solteiro não é corno, relaxa. — eu ri e ele me abraçou me puxando para próximo dele.

Toda aquela conversa foi estranho para mim, era um Richard que eu não conhecia. Engraçado e brincalhão. Normalmente não nos dávamos tempo de "ser amigos", o nosso lance era nos pegar sem nem ao menos nos perguntar como estávamos, era um lance de pele. Então aquele domingo foi totalmente inesperado para mim, desde sua chegada sem aviso até a tarde repleta de conversas. Era uma mudança na relação carnal que tínhamos. Não que eu não amasse o prazer que ele me proporcionava, mas também era bom me sentir mais do que uma foda por acaso. 

Reserva- Richard RiosOnde histórias criam vida. Descubra agora