Naquela noite passei aperto, eu não podia fazer esforço, mas tive que carrega-lo pro banheiro, dar banho nele, vestir a roupa e coloca-lo para dormir. Estava treinando direitinho para ser mãe de menino. Pelo menos ele não tinha vomitado, porque bem provavelmente eu vomitaria junto. E era mais provável ainda que ele acordasse se arrependendo de ter bebido, já que tinha treino logo cedo no domingo.
Mas eu não o julgaria, passei a noite fazendo carinho em seu cabelo e o vigiando, estava com medo de que passasse mal no meio da noite. Afinal eu me importava e me culpava, se eu tivesse conversado antes ele não estaria nesse estado agora.
Não consegui dormir, passei a noite em claro. Acordei antes dele para preparar um suco para aumentar sua glicose e preparar um remédio para dor de cabeça, porque isso era o que o vinho fazia com o ser humano, matava de dor de cabeça. Ele acordou me gritando, igual menino procurando a mãe e eu que estava na sala levantei na mesma hora.
— Você me colocou na cama? — assenti e ele olhou para baixo — Banho também pelo visto. Você não devia fazer esforço. — seus olhos se apertavam provavelmente pela dor e a sensibilidade a luz.
— Não tem problema, está tudo bem. Eu te fiz um suco para aumentar sua glicose, vou buscar. — ele segurou minha cintura para que eu não saísse.
— Eu não lembro de muita coisa, mas pelo que eu lembro quero te pedir desculpas.
— Está tudo bem, de verdade. Entendo seu lado.
— Então deita aqui comigo, ainda tá cedo. Esquece o suco, só preciso de você mesmo.
Adolescente, eu me senti uma adolescente, meu coração saltava tão alto no peito que parecia que ia rasgar o mesmo. Minhas mãos suavam e minha cabeça girava. Efeitos causados por palavras tão simples, mas vindas do cara que eu esperei por bastante tempo.
Negar não era o certo ou pelo menos eu não queria negar. Aproveitei a uma semana acumulada de saudades e me deitei encaixando meu corpo a dele. Foi o sono mais revigorante que eu tive desde que a loucura tinha começado, aquele momento nos braços dele foi como se seu calor conseguisse retirar qualquer pingo de preocupação ou tristeza que eu tivesse.
Fui acordada por um beijo dele, ele já estava de banho tomado e arrumado para ir pro treino. Pela sua cara ele não queria me acordar, porque dei de cara com ele fazendo uma expressão de menino que fez bagunça. Ele era mesmo um meninão e apesar de todas suas responsabilidades e todo seu comprometimento com suas coisas, as vezes ele errava.
— Não era para te acordar, só estava me despedindo.
— Tudo bem, eu precisava acordar também. — sorri um pouco — Já está indo? — ele assentiu — Podemos conversar direito antes?
— Podemos sim. — ele sentou na beirada da cama e eu me sentei também.
— Pode falar tudo que você queria falar, ontem não estava dando para entender. Quero te ouvir. — olhei em seus olhos e ele abaixou um pouco a cabeça.
— Então... As imagens são antigas, mas sei que isso não tira minha culpa, fui eu quem vivi aquela vida, então fui eu quem causei. Mas é tudo velho, eu prometi que eu era um cara diferente, te falei que eu queria mesmo mudar, que eu queria ter uma família e estou me esforçando para isso. Não existe ninguém, nada daquilo é desde que você voltou da Europa. Eu sei que não sou a pessoa mais indicada para você confiar e nem quero que você reviva aquelas imagens, mas se observar eu não tinha uma das tatuagens que tenho desde que você voltou. Nem sei se me acha digno disso, mas eu queria primeiro pedir desculpa e depois um voto de confiança. Sobre ontem, lembro de ter gritado, lembro de ter sido desrespeitoso e sei que não tem justificativa, mas eu estava desesperado e só posso te pedir perdão por ser esse cara falho. E te agradecer por ter cuidado de mim mesmo cheia de ressentimento. — foi um puta de um monólogo e meus olhos estavam tão marejados que eu mal podia enxerga-lo.
— Eu entendo você. — respirei fundo sentindo algumas lágrimas escorrerem e ele limpou — Sendo muito sincera com você, eu vejo o quanto se esforça, o quanto tem mudado, se não visse nunca teria me aberto novamente, mas pensando no nosso histórico aquilo me machucou, me machucou muito. Tudo bem, sou eu que não dei o passe para termos um relacionamento concreto, então você não me deve exclusividade, mas o eu, grávida e sensível, não esperava isso do novo você. Entende? — ele assentiu ainda limpando minhas lágrimas — Eu não vou rever as imagens, eu não quero ver o homem que eu amo com outra... — saiu sem que eu percebesse e os olhos dele se arregalaram, foi a primeira vez que eu admitia meus sentimentos — Mas eu vou te dar o voto de confiança que você quer. — tentei completar para diminuir o impacto da frase anterior, mas parecia que sua cabeça ainda girava lá.
Eu disse que o amava, eu disse. Eu disse em meio as lágrimas que o amava. Eu admiti para ele que tinha sentimentos. Eu admiti que sentia ciumes e que ele era o homem que eu queria. Eu tinha feito aquilo. Eu tinha me aberto para ele, sem perceber e sem esperar. Eu só queria compreender ele, eu só queria dizer que eu o dava a chance que me pediu, eu só queria dizer que eu entendia que naquele momento nós só precisávamos de compreensão. Mas eu disse que o amava, eu disse que ele era o homem que eu amo e naquele momento eu esperava que os papéis se invertessem e que ele me compreendesse.
Eu só precisava ada compreensão dele, do entendimento de que. Sim, eu o amava. Mas isso não era abertura para que ele parasse de se esforçar por nós. Nem que eu o amar era sinonimo de que eu estava pronta para termos um relacionamento sério. Naquele momento era necessário apenas compreensão, de que eu o amava, assim como o amei desde o momento que meus olhos tocaram os dele naquela festa.
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Reserva- Richard Rios
FanfictionJá parou para pensar no que significa o banco de reservas? Você está ali esperando para substituir alguém, seja por performance, seja por problemas médicos ou só opção. Mas você já se viu sendo a reserva da vida de alguém? É como estar constantement...